Teresa Cristina volta ao repertório de Paulinho da Viola, após 20 anos, em outro lugar da música brasileira

Resenha de show

Título: 💥

Artista: 💥️Teresa Cristina

Local: Teatro Claro Rio (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 5 de novembro de 2022

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ , sublinhou Teresa Cristina, enfatizando no palco do Teatro Claro Rio o verso escrito por Hermínio Bello de Carvalho para a letra do 💥 (1968), parceria do poeta com Paulinho da Viola e Elton Medeiros (1930 – 2023).

O verso traduz o momento da cantora carioca. Vinte anos após ter se lançado no mercado fonográfico com o Grupo Semente no álbum duplo 💥 (2002), Teresa volta ao repertório do compositor carioca em show que estreou no mês em que Paulo César Baptista de Faria completa 80 anos.

Daí o título do show, 💥, apresentado no Teatro Claro Rio de 3 a 6 de novembro em quatro sessões lotadas e, por conta do sucesso, já programado para voltar ao mesmo palco em 7 e 8 de janeiro (antes, em 18 e 19 de novembro, a cantora apresenta o show para o público paulistano em duas apresentações na casa Natura Musical).

O verso de Hermínio ecoou pleno de sentido porque Teresa Cristina voltou ao repertório de Paulinho da Viola já situada em outro lugar da música brasileira, com voz que alcançou dimensão política na série histórica de lives feitas pela artista ao longo do pandêmico ano de 2023.

Sempre apoiada mais no sentimento do que na técnica, essa voz soou maturada em cena – evolução já perceptível nos recentes shows dedicados pela cantora aos cancioneiros dos compositores Cartola (1908 – 1908), Noel Rosa (1910 – 1937) e Zé Kétti (1921 – 1999) – a ponto de atingir ponto exemplar de introspecção no canto de 💥 (1969) no bis.

Sem a notória timidez de 20 anos atrás, a cantora já vem se portando no palco com mais desenvoltura desde 2010. E, até por isso, o que se viu foi show fluente em que Teresa Cristina – ancorada no porto seguro de fantástico quarteto formado por Dirceu Leite (sopros), João Callado (cavaquinho e direção musical), Paulino Dias (percussão) e Samara Líbano (violão de sete cordas) – rebobinou e extrapolou o repertório do álbum de 2002 em roteiro corajoso que, na primeira metade, alinhou títulos menos conhecidos do cancioneiro de Paulinho da Viola.

Após abrir o show com a récita dos versos de 💥 (1971) e de entrar em cena com o samba 💥 (1968), a cantora armou o jogo político de 💥(Paulinho da Viola e Sérgio Natureza, 1982) no mesmo tabuleiro em que, na sequência, expôs as desilusões de 💥 (1969) e 💥 (1968).

Com direito a um solo de João Callado, 💥 (1970) comprovou o pleno entendimento de Teresa a respeito da obra concisa de Paulinho, criador de sambas geralmente entranhados em melancolia filosófica, com emoções concentradas, jamais derramadas.

O choro da cuíca de Paulino Dias em 💥 (1971) e a melancolia soprada por Dirceu Leite em 💥 (1971) contribuíram para a criação de atmosfera adequada ao canto desses sambas.

Na sequência, a cantora deu voz a um samba pouco conhecido de Paulinho da Viola com Elton Medeiros, 💥 (1982), pérola rara da parceria dos compositores.

Número instrumental feito pela banda, 💥 (Paulinho da Viola e Fernando Costa, 1973) funcionou como interlúdio que dividiu o show em dois atos.

Teresa Cristina em momento de concentração no show 'Paulinho 80 + 20' — Foto: Gabriel Carvalho / Divulgação 2 de 3 Teresa Cristina em momento de concentração no show 'Paulinho 80 + 20' — Foto: Gabriel Carvalho / Divulgação

Teresa Cristina em momento de concentração no show 'Paulinho 80 + 20' — Foto: Gabriel Carvalho / Divulgação

Ao voltar ao palco, já vestida com as cores azul e branco da escola de samba Portela, Teresa Cristina iniciou bloco voltado para os sucessos do compositor, ainda que esse ato tenha abarcado outra pérola rara, 💥 (Paulinho da Viola e José Carlos Capinan, 1971), samba apresentado por Paulinho em disco há 51 anos e nunca mais regravado, nem pelo compositor, além de 💥 (Oscar Bigode, Noca da Portela e Poliba, 1966), único samba fora da lavra autoral de Paulinho da Viola, mas gravado pelo artista como integrante do conjunto A Voz do Morro.

Mais talhada para o primeiro ato pela introspecção, 💥 (1970) abriu e puxou esse bloco mais expansivo que incluiu 💥 (1975), 💥(1975) e o samba-enredo 💥 (1975). Esses três sambas de 1975 foram apresentados entre uma sequência de corações, aberta com 💥 (1965), continuada com 💥 (1977) e encerrada com o samba-choro 💥 (1972).

Voz ativista na luta a favor da democracia, Teresa Cristina cantou 💥(Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1981) como a celebração de novos tempos marcado pela esperança de um Brasil melhor.

O animado medley com os sambas 💥 (1976), 💥 (1972) e 💥 (1979) esquentou o clima para o fecho do show com 💥(1989) – manifesto de amor ao samba que soou sincero na voz de Teresa Cristina, devota do gênero – e para o bis que, além de 💥, incluiu 💥 (Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1979) e 💥 (1969), samba arrasta-povo que explodiu no Carnaval de 1970, tendo sido lançado em EP no ano anterior, e que foi cantado com Teresa Cristina no meio da plateia, como se a cantora estivesse na avenida.

Ao se misturar no meio do povo, no arremate do bis, a cantora reiterou a sensação de que voltou ao repertório de Paulinho da Viola já em outro lugar, com voz mais ativa na música brasileira.

Teresa Cristina encadeia 30 sambas no roteiro do show 'Paulinho 80 + 20' — Foto: Gabriel Carvalho / Divulgação 3 de 3 Teresa Cristina encadeia 30 sambas no roteiro do show 'Paulinho 80 + 20' — Foto: Gabriel Carvalho / Divulgação

Teresa Cristina encadeia 30 sambas no roteiro do show 'Paulinho 80 + 20' — Foto: Gabriel Carvalho / Divulgação

♪ Eis o roteiro seguido por Teresa Cristina em 5 de novembro de 2022 na terceira das quatro apresentações do show 💥 no Teatro Claro Rio, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):

1. 💥 (Paulinho da Viola, 1971) – Samba recitado

2. 💥 (Paulinho da Viola, 1968)

3. 💥 (Paulinho da Viola e Sérgio Natureza, 1982)

4. 💥 (Paulinho da Viola, 1968)

5. 💥 (Paulinho da Viola, 1969)

6. 💥 (Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, 1968)

7. 💥 (Paulinho da Viola, 1970)

8. 💥 (Paulinho da Viola, 1971)

9. 💥 (Paulinho da Viola, 1971)

10. 💥 (Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1982)

11. 💥 (Paulinho da Viola, 1972)

12. 💥 (Paulinho da Viola e Fernando Costa, 1973) – Número instrumental

13. 💥(Paulinho da Viola, 1970)

14. 💥 (Oscar Bigode, Noca da Portela e Poliba, 1966)

15. 💥 (Paulinho da Viola e Casquinha, 1965)

16. 💥 (Paulinho da Viola, 1975)

17. 💥 (Paulinho da Viola, 1965)

18. 💥 (Paulinho da Viola, 1977)

19. 💥 (Paulinho da Viola, 1972)

20. 💥 (Paulinho da Viola e José Carlos Capinan, 1971)

21. 💥(Paulinho da Viola, 1975)

22. 💥 (Paulinho da Viola, 1975)

23. 💥 (Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1981)

24. 💥 (Paulinho da Viola, 1976)

25. 💥 (Paulinho da Viola, 1972)

26. 💥 (Paulinho da Viola, 1979)

27. 💥 (Paulinho da Viola, 1989)

Bis:

28. 💥 (Paulinho da Viola, 1969)

29. 💥 (Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1979)

30. 💥 (Paulinho da Viola, 1969)

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