Criptomoedas: o que a falência de uma das maiores empresas do mundo diz sobre futuro do setor
A Bloomberg estima que o fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, perdeu 94% da sua fortuna em um só dia — Foto: GETTY IMAGES
Após uma semana de agonia, a FTX, uma das maiores empresas de criptomoedas do mundo, entrou com pedido de falência nesta sexta-feira (11/11).
A plataforma de negociação de moedas digitais fez a solicitação com base no Capítulo 11 da lei de falências dos Estados Unidos em busca de proteção judicial. Enquanto isso, encontra uma forma de devolver parte dos bilhões de dólares perdidos por seus clientes.
Sam Bankman-Fried, fundador e diretor-geral da FTX, pediu desculpas pela difícil situação financeira de sua empresa e deixará o cargo. Será substituído por um advogado com experiência em falências.
A FTX explicou que o objetivo da falência é "iniciar um processo ordenado de revisão e monetização de ativos em benefício de todas as partes interessadas".
A crise foi comparada por alguns especialistas ao colapso do banco de investimento Lehman Brothers na grande crise de 2008, com muitos se questionando se a queda da empresa poderia ter um efeito dominó em todo o setor de criptomoedas.
O bitcoin, a maior moeda digital, chegou ao seu menor valor desde 2023, assim como outras criptomoedas foram arrastadas para um poço cujo fundo não se sabe onde está.
Um dos clientes da FTX, o britânico Thomas Culham, disse à BBC que não conseguiu sacar os US$ 2.300 investidos.Para ele, foi um "grande golpe" já que seus fundos na FTX eram uma "parte razoável" de seu portfólio de investimentos.
"Eles provavelmente estão perdidos", disse o jovem de 22 anos. "Talvez em alguns anos eu possa obter algum tipo de compensação."
Negociações frenéticas ocorreram nos últimos dias em torno da gigante das criptomoedas. A maior rival da FTX, a Binance, disse publicamente que compraria a concorrente. Horas depois, desistiu da aquisição.
Em meio ao caos, na quinta-feira (10/11) o próprio Bankman-Fried foi ao Twitter pedir desculpas e reconhecer seus equívocos.
"Fiz m... Eu deveria ter feito melhor", escreveu ele.
A BBC tentou entrar em contato com a FTX, mas não recebeu resposta. Um aviso em seu site dizia: "Neste momento, a FTX não pode processar saques. Desaconselhamos fortemente fazer depósitos".
Segundo estimativas da Bloomberg, o patrimônio líquido de Bankman-Fried caiu de US$ 15,6 bilhões para cerca de US$ 1 bilhão, uma perda de 94%, o maior colapso em um dia entre os magnatas cujas fortunas são monitoradas pela organização.
E por que a FTX caiu? Após rumores de que a empresa não tinha liquidez suficiente, os clientes começaram a fazer saques frenéticos de centenas de milhões de dólares com medo de perder seus fundos.
A importância da FTX para o setor é tão grande que o banco de investimento JPMorgan Chase alertou que os mercados de criptomoedas podem enfrentar uma efeito cascata de quebras.
Especialistas estão preocupados com o que pode acontecer nesse mercado, principalmente porque o mundo das criptomoedas está passando por um "inverno cripto", ou seja, um estágio sustentado de preços baixos.
"Este é um evento de cisne negro que leva mais medo ao mundo das criptomoedas", disse Dan Ives, analista sênior de ações da Wedbush Securities, à BBC.
As autoridades dos EUA estão investigando o gerenciamento dos fundos dentro da FTX e de outras empresas administradas por Bankman-Fried.
Bankman-Fried — que alguns apelidaram de Warren Buffet de sua geração — tem apenas 30 anos, é filho de professores da Universidade Stanford e formado no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Segundo a revista Forbes, a fortuna de Bankman-Fried chegou a valer neste ano US$ 24 bilhões, quase triplicando o valor com que fechou 2023.
Ele se tornou uma referência por seus conceitos como empresário e dava entrevistas a meios de comunicação importantes.
Ao site Vox, em março de 2023, Bankman-Fried explicou sua visão: ficar rico e depois distribuir os lucros.
"Se o que você está tentando fazer é doar", disse o empresário, "você deve tentar ganhar o máximo [dinheiro] que puder e doar o máximo que puder".
Essa abordagem fez de Bankman-Fried um dos maiores doadores individuais da campanha do presidente dos EUA, Joe Biden.
E isso o levou a cultivar uma imagem pública próxima à ideia de Robin Hood.
O empresário chegou a recrutar celebridades como o ex-casal Tom Brady e Gisele Bundchen para convencer o público de que as criptomoedas eram um bom investimento.
Para Joe Tidy, repórter de tecnologia da BBC, a pressão está agora sobre outras empresas para provar que têm força financeira para se manter no mercado.
"A FTX não é a primeira empresa a sucumbir ao chamado 'inverno cripto' em que nos encontramos", conclui. "Mas é de longe a maior."
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