Flordelis diz que abusos motivaram assassinato do pastor Anderson, mas nega crime; julgamento está na fase final

A ex-deputada Flordelis disse neste sábado (12), no julgamento em que é ré pela morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, que abusos que o pastor cometia dentro de casa foram a motivação para que fosse assassinado – inclusive contra ela.

“É muito difícil para mim falar, mas foi a ciência dos abusos que aconteceram dentro da minha casa.”

Flordelis voltou a negar, no entanto, que tenha envolvimento na execução: "Eu só queria dizer e pros jurados que eu não, em momento algum, eu mandei ou pensei em matar o meu marido. Eu estou na cadeia hoje pagando por algo que eu não fiz. Eu amava o meu marido. Está sendo muito difícil a vida para mim."

A versão dita por ela no Tribunal do Júri destoa da acusação do Ministério Público. Flordelis foi denunciada como a mandante da execução e responde por: 💥homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

A ex-deputada lembrou que dois filhos – Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza – foram condenados pela execução, mas disse que não poderia dizer quem foram os autores porque não estava na cena do crime.

Flordelis se emocionou muito durante o interrogatório. Um dos jurados chegou a perguntar se o choro era real, e a ex-deputada confirmou que "sim".

Outros quatro réus já foram condenados pelo caso. Desde segunda-feira (7), além de Flordelis, também são julgados mais quatro filhos dela (entenda).

Após o interrogatório dos réus, começou às 18h40 a sustentação do Ministério Público para as acusações contra os réus.

Segundo os promotores do Ministério Público, que classificaram o caso como "macabro e tenebroso" houve durante o processo tentativas de violar a memória e a dignidade da vítima, além de provas de outros crimes:

"Quando começou a entrar o dinheiro, veio a discórdia, a cabeça, a vontade de ter mais e dividir menos", afirmou um dos promotores.

A defesa, por sua vez, que começou sua fala pouco depois das 22h30, insistiu na tese de crime sexual contra o pastor Anderson do Carmo, que não teria sido devidamente investigada pela Delegacia de Homicídios de Niterói.

"Estamos discutindo o motivo do crime", afirmou a advogada Janira Rocha.

A tese de poder e dinheiro da acusação, segundo os advogados de defesa, não se sustenta, e os abusos alegados mostrariam a real motivação do crime.

"Quem é abusada sente medo, vergonha", exemplifica. Segundo ela, há uma tentativa de condenação prévia contra Flordelis.

"Deem uma chance para essa mulher ser ouvida. Se coloquem no lugar dela"

Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz — Foto: Brunno Dantas/TJRJ 1 de 2 Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

No depoimento, Flordelis falava, entre soluços e choro, sobre as supostas agressões e abusos cometidos durante o sexo.

“Ele me batia. Alguns filhos entravam na frente. Ele só parou de me bater quando um pastor muito amigo dele me tirou do quarto e se colocou para conversar com ele a sós (...) Depois, ele voltou a ficar agressivo, na área sexual. Ele só sentia prazer se me machucasse – e me machucava. Ele só chegava às vias de fato se me machucasse.”

Apesar dos relatos de abusos por parte de Anderson do Carmo, Flordelis falou que "morreu junto" com o marido.

Chorando, disse também que não tem que pagar pelos erros de ninguém e que é inocente: “Eu não tenho que pagar pelos erros de ninguém. Há três anos estou pagando por uma coisa que eu não fiz. Eu estou sendo chamada de mandante do assassinato da pessoa que eu mais amei nessa vida.”

Durante o primeiro dia de julgamento, a promotoria leu o que considera indícios da participação de Flordelis no crime, como um diálogo com um filho adotivo que, para testemunhas como o delegado Alan Duarte, mostra que a pastora preferiu cometer o crime do que se separar, para evitar escândalos na igreja.

O delegado também narrou algumas supostas tentativas de envenenamento malsucedidas e que teriam sido promovidas por Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis. Contou também que houve uma tentativa de contratação de pistoleiros para executar o pastor.

Rayane dos Santos, neta de Flordelis, falou logo depois da pastora e ex-deputada federal.

Ela negou qualquer participação no crime, e disse que os depoimentos que citam que ela teria perguntado a várias pessoas da família sobre pistoleiros para matar Anderson foram combinados.

Rayane também citou o episódio de abuso contra Kelly, mas afirmou que o episódio deveria ter sido denunciado: “Acho que deveria ter sido feita a coisa certa. Todo mundo se juntado, denunciado, falado”, declarou.

Ela afirmou que contou sobre o episódio para Flordelis. "Ela não acreditou".

Rayane relatou ter sido vítima de um abuso de Anderson do Carmo no apartamento funcional de Flordelis em Brasília, mas afirmou que nunca denunciou o crime por medo: “No dia seguinte, eu fiquei com aquilo na cabeça, mas o medo de me abrir para alguém e eu perder a chance de estar em Brasília para trabalhar me fez ficar lá”.

Para Rayane, tudo poderia ter sido resolvido se houvesse diálogo.

Marzy Teixeira, filha afetiva de Flordelis e Anderson do Carmo, negou participação no crime, mas confessou um plano frustrado para matar Anderson em 2018.

Questionada se não era melhor ter denunciado abusos que teriam motivado o crime planejado, Marzy disse:

No interrogatório, ela citou episódios agressivos e um caso de suposto assédio cometido por ele.

"Teve uma vez que eu estava com muita fome. Ele do nada saiu do quarto. Ele me viu com um prato de miojo. Ele pegou o prato e jogou todo dentro da pia e disse que eu iria dormir com fome", relembrou ela.

O episódio de abuso, segundo ela, aconteceu quando cozinhava uma refeição para Anderson do Carmo.

"No pequeno espaço que eu estava cozinhando para ele, ele me encurralou. Ele falou: ‘Você sabia que você tem um corpão?’ Eu pedi licença. Ele disse: ‘Você é muito gostosa’. Eu passei por debaixo do braço dele. Quando eu terminei de fazer, pedi a uma das meninas chamar ele e avisar que a comida estava pronta", contou.

Marzy contou ainda que, para ajudar a pagar as contas da casa, precisava fornecer metade do salário ao pastor. “Metade do salário eu tinha que dar na mão do Misael para passar para ele”, afirmou.

Simone dos Santos foi a última ré a prestar depoimento. Ela citou várias vezes que mentiu por "vergonha", e que Flávio Rodrigues cometeu o assassinato após ela ter contado sobre supostos abusos cometidos por Anderson contra sua filha, Rafaela.

Ela contou que foi namorada de Anderson do Carmo na adolescência, e que sentiu que Anderson começou a tentar abusar dela quando começou a sofrer de câncer.

“Não sei se foi porque ele me viu doente, talvez fosse a possibilidade de pagar tudo e eu ficar na mão dele. Quando eu fiquei doente, eu consegui sentir toda a maldade dele", relatou.

Simone contou um desses episódios.

Simone ainda citou episódios com 💥️Flávio Rodrigues, condenado a 33 anos de prisão pela morte do pastor, em que ele pediu para queimar uma roupa dele e a chave do cofre da família.

Nos dois momentos, quando questionado sobre os motivos, ele pediu a Simone que não lhe fizesse perguntas.

Simone, ao contrário de outros depoimentos anteriores, admitiu que falou para Flávio sobre os supostos abusos cometidos por Anderson.

“Foi por esse motivo que contei com o Flávio, para ver se ele conseguia me ajudar. Queria acabar com tudo isso logo, eu queria dar uma solução para o que ele (Anderson) fez com a minha filha (Rafaela)”, disse Simone.

Ela ainda negou ter sido a mandante da morte do pastor Anderson do Carmo e que tenha planejado o crime.

Depois de cinco dias ouvindo 23 testemunhas – 13 de acusação e 10 de defesa –, o julgamento da pastora Flordelis e outros quatro réus entrou em sua reta final neste 💥️sábado (12).

Os trabalhos no plenário do Tribunal do Júri de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, começaram às 10h30 com o interrogatório de André Luiz de Oliveira, filho afetivo de Flordelis.

Durante o interrogatório, André disse que é inocente, e não teve nada a ver com a morte do pastor. Ele é acusado de homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Ele negou ter visto qualquer agressão física de Anderson do Carmo contra Flordelis.

“Agressão física não. Meu pai era rígido ao falar”, disse André, que só respondeu perguntas de advogados de defesa e dos jurados.

Ao ser questionado sobre quem era seu exemplo de caráter, André citou Flordelis: "Minha mãe Flor".

André também disse que Flordelis era 'completamente dependente" de Anderson.

“Minha mãe só fazia algo se meu pai a orientasse. Ele dizia o que falar, quando falar, a quem ela deveria se aproximar, de quem ela deveria se afastar”, explicou.

André comentou que, na madrugada em que Anderson do Carmo foi assassinado, achou que pudesse ser um assalto. Ele disse que ficou em choque com aquele momento, inclusive sem conseguir dar instruções ao Samu.

"Não consigo. Ramon pega o telefone da minha mão, ele vê a minha situação e pega o telefone. Eu não consigo ver aquela situação e vou para o meu quarto”, disse ele.

André ainda negou que tenha dado qualquer quantia em dinheiro para contratar um matador para cometer o crime contra Anderson do Carmo. Ele também disse que nunca viu tentativas de envenenamento contra o pastor.

Após o fim do interrogatório, começam os debates entre acusação e defesa. Cada lado terá 💥️duas horas e meia para pedir a absolvição ou a condenação dos réus.

Se o 💥️Ministério Público achar necessário, ainda poderá haver 💥️réplica e tréplica, com mais duas horas para cada.

Depois dos argumentos de defesa e acusação, a juíza pergunta se os 💥️jurados estão habilitados a julgar. Em caso positivo, são formuladas as perguntas que serão votadas pelos sete jurados – quatro homens e três mulheres –, para decidir se os réus são culpados ou inocentes.

Em uma sala especial, a magistrada, Ministério Público, defesa e jurados se reúnem para as deliberações, que podem durar por tempo indeterminado.

Após essa fase do processo, todos voltam para a proclamação da sentença pela juíza 💥️Nearis Carvalho Arce. A expectativa é que todo o rito seja cumprido até domingo (13).

Flordelis durante o julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ 2 de 2 Flordelis durante o julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

Flordelis durante o julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

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