Júri de Flordelis: filha narra plano frustrado de matar Anderson

Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis, foi a penúltima a ser interrogada — Foto: Rayane dos Santos 1 de 3 Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis, foi a penúltima a ser interrogada — Foto: Rayane dos Santos

Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis, foi a penúltima a ser interrogada — Foto: Rayane dos Santos

Marzy Teixeira, quarta entre cinco réus pela morte de Anderson do Carmo a ser interrogada neste sábado (12), revelou que esteve envolvida em um plano frustrado de matar o pastor.

A filha adotiva de Flordelis, no entanto, nega envolvimento na execução dele, com mais de 20 tiros, em Pendotiba, em 2023.

Marzy afirmou que teria conversado sobre um plano para matar Anderson do Carmo com Lucas Cézar. O episódio aconteceu, segundo ela, após relatos de abuso contra uma filha afetiva, Anabel, em 2018.

Lucas foi condenado por ter ajudado Flávio Rodrigues a conseguir comprar a arma utilizada no assassinato do pastor.

Segundo ela, Lucas teria pedido ajuda para trazer três traficantes do Rio de Janeiro para matá-lo dentro de casa, durante a madrugada.

“Às 2h da manhã, ele me liga e fala que estava no portão. Eu desci e fiquei das 2h às 4h convencendo-o para não fazer. Ele sugeriu: ‘Você sobe, tira a mãe do quarto, abre o closet, que eu subo e mato ele dormindo’. Eu falei que eu não ia fazer.”

Marzy disse que tentou convencê-lo a matar o pastor no dia seguinte, em um bairro chamado Maria Paula, em São Gonçalo.

“'Tenta fazer como um latrocínio, roubo seguido de morte'. Eu sugeri: faz amanhã às 11h, em Maria Paula”

O plano acabou não sendo levado à frente, segundo a ré. Ela disse que ainda foi ameaçada por Lucas: "Pede pro seu Deus para ele te proteger, porque se eu te pegar na rua vou te estourar todinha."

A ex-deputada Flordelis disse neste sábado (12), no julgamento em que é ré pela morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, que abusos que o pastor cometia dentro de casa foram a motivação para que fosse assassinado – inclusive contra ela.

“É muito difícil para mim falar, mas foi a ciência dos abusos que aconteceram dentro da minha casa.”

Flordelis voltou a negar, no entanto, que tenha envolvimento na execução: "Eu só queria dizer e pros jurados que eu não, em momento algum, eu mandei ou pensei em matar o meu marido. Eu estou na cadeia hoje pagando por algo que eu não fiz. Eu amava o meu marido. Está sendo muito difícil a vida para mim."

A versão dita por ela no Tribunal do Júri destoa da acusação do Ministério Público. Flordelis foi denunciada como a mandante da execução e responde por: 💥homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

A ex-deputada lembrou que dois filhos – Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza – foram condenados pela execução, mas disse que não poderia dizer quem foram os autores porque não estava na cena do crime.

Flordelis se emocionou muito durante o interrogatório. Um dos jurados chegou a perguntar se o choro era real, e a ex-deputada confirmou que "sim".

Outros quatro réus já foram condenados pelo caso. Desde segunda-feira (7), além de Flordelis, também são julgados mais quatro filhos dela (entenda).

Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz — Foto: Brunno Dantas/TJRJ 2 de 3 Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

Réus: Marzy Teixeira, ao fundo, Rayane dos Santos, Simone dos Santos (de óculos). À frente, Flordelis e o filho André Luiz — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

No depoimento, Flordelis falava, entre soluços e choro, sobre as supostas agressões e abusos cometidos durante o sexo.

“Ele me batia. Alguns filhos entravam na frente. Ele só parou de me bater quando um pastor muito amigo dele me tirou do quarto e se colocou para conversar com ele a sós (...) Depois, ele voltou a ficar agressivo, na área sexual. Ele só sentia prazer se me machucasse – e me machucava. Ele só chegava às vias de fato se me machucasse.”

Apesar dos relatos de abusos por parte de Anderson do Carmo, Flordelis falou que "morreu junto" com o marido.

Chorando, disse também que não tem que pagar pelos erros de ninguém e que é inocente: “Eu não tenho que pagar pelos erros de ninguém. Há três anos estou pagando por uma coisa que eu não fiz. Eu estou sendo chamada de mandante do assassinato da pessoa que eu mais amei nessa vida.”

Durante o primeiro dia de julgamento, a promotoria leu o que considera indícios da participação de Flordelis no crime, como um diálogo com um filho adotivo que, para testemunhas como o delegado Alan Duarte, mostra que a pastora preferiu cometer o crime do que se separar, para evitar escândalos na igreja.

O delegado também narrou algumas supostas tentativas de envenenamento malsucedidas e que teriam sido promovidas por Marzy Teixeira, filha adotiva de Flordelis. Contou também que houve uma tentativa de contratação de pistoleiros para executar o pastor.

Rayane dos Santos, neta de Flordelis, falou logo depois da pastora e ex-deputada federal.

Ela negou qualquer participação no crime, e disse que os depoimentos que citam que ela teria perguntado a várias pessoas da família sobre pistoleiros para matar Anderson foram combinados.

Rayane também citou o episódio de abuso contra Kelly, mas afirmou que o episódio deveria ter sido denunciado: “Acho que deveria ter sido feita a coisa certa. Todo mundo se juntado, denunciado, falado”, declarou.

Ela afirmou que contou sobre o episódio para Flordelis. "Ela não acreditou".

Rayane relatou ter sido vítima de um abuso de Anderson do Carmo no apartamento funcional de Flordelis em Brasília, mas afirmou que nunca denunciou o crime por medo: “No dia seguinte, eu fiquei com aquilo na cabeça, mas o medo de me abrir para alguém e eu perder a chance de estar em Brasília para trabalhar me fez ficar lá”.

Para Rayane, tudo poderia ter sido resolvido se houvesse diálogo.

Marzy Teixeira, filha afetiva de Flordelis e Anderson do Carmo, relatou que foi convidada a morar na casa do casal pelo próprio pastor. No entanto, ela citou episódios agressivos e um caso de suposto assédio cometido por ele.

"Teve uma vez que eu estava com muita fome. Ele do nada saiu do quarto. Ele me viu com um prato de miojo. Ele pegou o prato e jogou todo dentro da pia e disse que eu iria dormir com fome", relembrou ela.

O episódio de abuso, segundo ela, aconteceu quando cozinhava uma refeição para Anderson do Carmo.

"No pequeno espaço que eu estava cozinhando para ele, ele me encurralou. Ele falou: ‘Você sabia que você tem um corpão?’ Eu pedi licença. Ele disse: ‘Você é muito gostosa’. Eu passei por debaixo do braço dele. Quando eu terminei de fazer, pedi a uma das meninas chamar ele e avisar que a comida estava pronta", contou.

Marzy contou ainda que, para ajudar a pagar as contas da casa, precisava fornecer metade do salário ao pastor. “Metade do salário eu tinha que dar na mão do Misael para passar para ele”, afirmou.

Depois de cinco dias ouvindo 23 testemunhas – 13 de acusação e 10 de defesa –, o julgamento da pastora Flordelis e outros quatro réus entrou em sua reta final neste 💥️sábado (12).

Os trabalhos no plenário do Tribunal do Júri de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, começaram às 10h30 com o interrogatório de André Luiz de Oliveira, filho afetivo de Flordelis.

Durante o interrogatório, André disse que é inocente, e não teve nada a ver com a morte do pastor. Ele é acusado de homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Ele negou ter visto qualquer agressão física de Anderson do Carmo contra Flordelis.

“Agressão física não. Meu pai era rígido ao falar”, disse André, que só respondeu perguntas de advogados de defesa e dos jurados.

Ao ser questionado sobre quem era seu exemplo de caráter, André citou Flordelis: "Minha mãe Flor".

André também disse que Flordelis era 'completamente dependente" de Anderson.

“Minha mãe só fazia algo se meu pai a orientasse. Ele dizia o que falar, quando falar, a quem ela deveria se aproximar, de quem ela deveria se afastar”, explicou.

André comentou que, na madrugada em que Anderson do Carmo foi assassinado, achou que pudesse ser um assalto. Ele disse que ficou em choque com aquele momento, inclusive sem conseguir dar instruções ao Samu.

"Não consigo. Ramon pega o telefone da minha mão, ele vê a minha situação e pega o telefone. Eu não consigo ver aquela situação e vou para o meu quarto”, disse ele.

André ainda negou que tenha dado qualquer quantia em dinheiro para contratar um matador para cometer o crime contra Anderson do Carmo. Ele também disse que nunca viu tentativas de envenenamento contra o pastor.

Após o fim do interrogatório, começam os debates entre acusação e defesa. Cada lado terá 💥️duas horas e meia para pedir a absolvição ou a condenação dos réus.

Se o 💥️Ministério Público achar necessário, ainda poderá haver 💥️réplica e tréplica, com mais duas horas para cada.

Depois dos argumentos de defesa e acusação, a juíza pergunta se os 💥️jurados estão habilitados a julgar. Em caso positivo, são formuladas as perguntas que serão votadas pelos sete jurados – quatro homens e três mulheres –, para decidir se os réus são culpados ou inocentes.

Em uma sala especial, a magistrada, Ministério Público, defesa e jurados se reúnem para as deliberações, que podem durar por tempo indeterminado.

Após essa fase do processo, todos voltam para a proclamação da sentença pela juíza 💥️Nearis Carvalho Arce. A expectativa é que todo o rito seja cumprido até domingo (13).

Flordelis durante o julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ 3 de 3 Flordelis durante o julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

Flordelis durante o julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

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