Sem energia, sem comida, sem água: brasileiro da ONU que presenciou retomada de Kherson, na Ucrânia, relata o que viu na cidade
O brasileiro Saviano Abreu, funcionário da ONU na Ucrânia, entra em supermercado vazio na região de Kherson — Foto: OCHA/Saviano Abreu
Os moradores de Kherson, cidade que foi retomada pela Ucrânia após as tropas russas deixarem o local, estão com supermercados e farmácias vazios, falta de energia elétrica, dificuldade no abastecimento de água e não sabem como irão enfrentar o rigoroso inverno europeu sem aquecimento adequado.
Quem fala mais sobre a situação na cidade é o brasileiro Saviano Abreu. Ele é funcionário da ONU e está alocado na Ucrânia para ajudar a população afetada pela guerra. Abreu ajudou anteriormente na retirada de civis de Mariupol, e agora fez parte da primeira equipe de ajuda humanitária que conseguiu entrar em Kherson desde que a guerra começou, em fevereiro.
Nascido em Minas Gerais, Abreu mora atualmente em Kiev, a capital da Ucrânia, e é porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês). Ele é funcionário da ONU desde 2017, atuou em missões no Quênia e na Somália, e foi para a Ucrânia logo depois que a Rússia começou a invasão ao país.
A cidade de Kherson foi liberada pelas tropas russas no início do mês e a ajuda humanitária conseguiu entrar na cidade 72 horas depois, quando ficou confirmado que o local estaria seguro.
2 de 3 Imagem mostra uma farmácia em Kherson, na Ucrânia, vazia e depredada — Foto: OCHA/Saviano Abreu
Imagem mostra uma farmácia em Kherson, na Ucrânia, vazia e depredada — Foto: OCHA/Saviano Abreu
Os moradores de Kherson estão sofrendo com falta de produtos básicos. As prateleiras dos supermercados estão vazias, os pequenos mercados vendem apenas o que está sendo plantado na região. A cidade está sem energia há duas semanas, o que impede também o funcionamento das bombas de água que a abastecem.
A prioridade do grupo humanitário da ONU no momento é garantir que a população dessa região esteja preparada para enfrentar o inverno, que é bastante rigoroso na Ucrânia.
“É muito difícil que a população possa sobreviver por muito tempo se não tiver um processo grande de ajuda humanitária”, disse Abreu. “Muitos ucranianos estão vivendo ainda em casas que estão não preparadas. Seja pela falta de água, de eletricidade, de gás ou simplesmente porque não tem portas, não tem janelas ou não tem parte do teto porque foram destruídos.
Abreu explica que o governo regional de Kherson “bloqueou” a cidade, impedindo que os moradores que foram retirados de lá voltem imediatamente, porque ainda não há garantia de que terá capacidade de atender as necessidades básicas da população.
“Nós não temos agora mesmo um acesso direto a essa população”, disse Abreu, referindo-se aos civis que foram levadas para o lado dominado por tropas russas. “Não dá pra saber se tudo foi feito de acordo com o direito Internacional humanitário, mas também é verdade que não recebemos nenhuma denúncia”, disse acrescentando que a OCHA não sabe ao certo a situação dessas pessoas.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse quando entrou em Kherson durante a retomada que aquele era o começo do fim da guerra. Saviano Abreu não concorda muito com o líder ucraniano.
Abreu explicou que não atua em questões políticas, apenas na área de ajuda humanitária, mas disse que espera que os mísseis que atingiram a Polônia na terça-feira (15) não sejam mais um fator de complicação para a guerra.
“Não entro nessa parte mais política, mas espero que tenha sido um acidente. Qualquer escalada maior nessa guerra trará consequências terríveis para população civil. A Ucrânia está sofrendo muito, espero que isso não se expanda ainda mais para outros países vizinhos”, disse Abreu.
3 de 3 Grupo de ajuda humanitária da ONU entrega suprimentos para a população de Kherson, na Ucrânia — Foto: OCHA/Saviano AbreuGrupo de ajuda humanitária da ONU entrega suprimentos para a população de Kherson, na Ucrânia — Foto: OCHA/Saviano Abreu
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