Arminio Fraga diz que se governo Lula não tiver sucesso a ‘democracia estará ameaçada outra vez’

O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga disse nesta sexta-feira (18) que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa ter sucesso para que a democracia não seja “ameaçada outra vez”.

O economista concedeu entrevista ao vivo ao Estúdio i, da 💥️GloboNews, e comentou a carta enviada por Edmar Bacha, Pedro Malan e por ele ao presidente eleito, pedindo responsabilidade fiscal ao planejar as finanças do país.

💥️“Tem muita coisa em jogo! O momento exige sangue frio e bom-senso. No momento, isso sumiu”, afirma

O economista faz menção às negociações da PEC da Transição, que prevê quase R$ 200 bilhões fora do teto de gastos para financiar a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 e outras promessas de governo.

Fraga, Malan e Bacha, conhecidos pelo trabalho na formatação do Plano Real, dizem que a amplitude de gasto e a perspectiva de endividamento severo do país trazem consequências aos mais pobres pela expectativa de subida de juros e inflação com a economia desorganizada.

“Começa a se questionar tudo, o clima entre os poderes vai muito além do que seriam os pesos e contrapesos. Acho que estamos passando longe do ponto que seria desejável. (...) Essa largada, antes da posse, aponta nessa direção, o que me assusta”, prossegue.

Arminio Fraga voltou a ressaltar pontos presentes na carta dos economistas. A principal delas é a necessidade de que o governo se dedique a criar oportunidades e reduzir as desigualdades sociais, mas que criar essas condições passa por manter a sustentabilidade das contas do país.

O economista diz que “tinha a esperança” de a condução econômica do futuro governo Lula fosse “mais parecido com o Lula 1”. O primeiro mandato do petista é apontado por economistas liberais como adequado do ponto de vista de gastos públicos, em contraste com o segundo mandato.

“Não mudaria meu voto, mas, como vocês me dão a chance de estar aqui, penso que é meu dever aproveitar a oportunidade de explicitar minhas preocupações, que creio que são bem fundamentadas, para evitar um enorme problema”, afirma o economista.

💥️LEIA TAMBÉM:

O trio de economistas publicou na quinta-feira (17) uma carta aberta a Lula, em que criticam as declarações recentes do presidente eleito sobre responsabilidade fiscal e suas críticas à atuação do mercado financeiro. O texto foi publicado pelo jornal "Folha de S. Paulo".

Todos declararam voto em Lula nas eleições e dizem que compartilha das "preocupações sociais e civilizatórias" do petista. Mas os economistas ressaltam que as maneiras para cobrir o colchão social do país devem ser observadas para não criarem "problemas maiores" ao povo brasileiro.

Arminio disse à 💥️GloboNews que a questão é a tentativa reiterada do país de combater as agruras por meio da expansão de gastos. Segundo ele, são três décadas de crescimento de gasto público, enquanto o centro do problema está na priorização.

“Chega um ponto que isso pressiona a taxa de juros, pressiona inflação. Já conhecemos esse filme e o resultado é trágico. Quem sai sofrendo são os pobres”, afirma o economista.

Além da crítica ao mercado, o presidente eleito afirmou nesta quinta-feira que não adianta falar em responsabilidade fiscal sem antes pensar na responsabilidade social.

A declaração de Lula acontece em meio à articulação do governo eleito com o Congresso Nacional para aprovar uma proposta que, entre outros pontos, autoriza as despesas do Auxílio Brasil a ficarem fora do teto de gastos. A equipe de transição argumenta que a medida é necessária para manter o benefício em R$ 600 mensais e conceder mais R$ 150 por criança de até 6 anos.

Lula se referiu a um discurso feito a políticos aliados em Brasília, no último dia 10, em que questionou: "Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?".

Essa declaração gerou reação negativa entre analistas do mercado financeiro. Questionado sobre a repercussão, Lula declarou que "o mercado fica nervoso à toa".

💥

Na quarta-feira (16), o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin afirmou que o governo Lula não será "gastador", mas que é preciso garantir a rede de proteção social das famílias mais pobres.

Durante toda a campanha deste ano, Lula questionou por que o governo adota meta fiscal e não cria, por exemplo, meta de crescimento econômico nem meta de desenvolvimento social.

O presidente eleito tem dito que a prioridade do futuro governo será combater a fome no país — no Brasil, mais de 30 milhões de pessoas não têm o que comer.

"Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, tudo que acontece é você tirar dinheiro da saúde, tirar dinheiro da educação, tirar dinheiro da ciência e tecnologia, tirar dinheiro da cultura", disse o presidente nesta quinta.

Webstories
O que você está lendo é [Arminio Fraga diz que se governo Lula não tiver sucesso a ‘democracia estará ameaçada outra vez’].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...