No Catar, brasileiras fazem sucesso como empreendedoras
As brasileiras que moram no Catar, Maura Regina Moraes Carneiro (esquerda) e Leila Martinez (direita), posam em Doha, novembro de 2022 — Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
O Catar é um emirado de cerca de 3 milhões de habitantes que se tornou o centro das atenções de todo o mundo por sediar a Copa do Mundo de 2022. Há anos, entretanto, o pequeno país do Oriente Médio se destaca e atrai empreendedores de diferentes nacionalidades — sejam eles homens, ou mulheres.
E, entre os que trilharam este caminho, estão algumas brasileiras.
Leila Martinez, de 56 anos, nascida em Porto Alegre, é fisioterapeuta, artista plástica e tinha uma empresa de eventos. Mudou de vida, porém, quando surgiu, em 2013, a oportunidade de trabalhar como guia de turismo no Catar. À época, essa profissão não era regularizada no país.
"Comecei a estudar sobre a cultura do Catar sozinha. Passava tardes nas bibliotecas e museus e fui criando um manual cultural sobre o Catar. Passei a receber turistas brasileiros e, em 2017, o governo regularizou a profissão de guia. Já recebi mais de 3 mil brasileiros durante esse período todo em que estou aqui", lembra a gaúcha que tem uma página no Instagram chamada "Turistando em Doha", com mais de 46 mil seguidores, na qual dá dicas e informações para os visitantes.
A paulistana Maura Regina Moraes Carneiro, de 56 anos, também é guia de turismo no Catar, onde mora há sete anos, trabalha na área de educação com crianças com necessidades especiais e ainda consegue tempo para exercer outra paixão: a de cantora. A brasileira garante que foi recebida de braços abertos pelo país.
"Nunca tive problema de nenhuma espécie por ser mulher. Nem com os catarianos, nem com os estrangeiros. As pessoas desconhecem a grandeza e a hospitalidade do Catar", afirma Carneiro.
Segundo a paulistana, os catarianos admiram o povo e a cultura brasileira, além de aforarem futebol. "Quando você conversa com alguém aqui e diz que é brasileira, eles abrem um sorriso e respondem 'Oh! Ronaldo! Romário! Neymar!'. Ser brasileira aqui já me abriu muitas portas por eles terem um grande carinho pelo Brasil", conta a guia turística.
"Eu me surpreendi no Catar. Foi uma grata surpresa, porque vim preparada para um estilo mais próximo do da Arábia Saudita, de mudanças de hábitos, de restrições. Mas não tive nenhum choque cultural. Só pediam discrição nas roupas e para evitar demonstrações de afeto em público. Nada além disso. É mais uma questão de respeito", explica Carneiro.
De acordo com o site do Departamento de Planejamento e Estatísticas do governo catariano, há no país 555.242 mulheres acima de 15 anos de idade. Desse total, 337 mil estão empregadas, conforme dados do segundo trimestre de 2022.
As observações de Carneiro corroboram estes dados. "Nós temos hoje um governo que apoia as mulheres a trabalhar. Elas também são extremamente apoiadas para terem seu próprio negócio. O governo se preocupa muito com a autonomia da mulher aqui no Catar", comenta.
A paulistana também elogia o sistema de saúde do país, pelo qual ela fez cirurgias e vem recebendo tratamento de dois cânceres detectados já quando morava no Catar.
"Os hospitais são de alto padrão. O sistema é 90% subsidiado pelo governo. Pagamos o equivalente a 100 riais por ano (cerca de R$ 150) e temos direito a todos os serviços", diz ela, lembrando que o sistema também atende os trabalhadores indianos e nepaleses "com a mesma dignidade e bondade".
Outra brasileira que hoje vive em território catariano é a carioca Adriana Meyer, de 47 anos, que se mudou para o país com o marido há quase quatro anos, depois de viver dez anos nos Emirados Árabes Unidos e dois em Portugal. Com mestrado em psicologia das organizações e "coaching", ela chegou ao Catar ainda sem emprego, mas com disposição de sobra.
"Foi uma fase importante da minha vida, de redefinir uma nova identidade. Você tem que se readaptar. Sempre agarrando as oportunidades que surgem", diz Meyer.
Ela conta que a área do turismo chegou por acaso. Durante um churrasco de família, sugeriram ao seu filho fazer um curso de guia, tendo em vista o potencial gerado pela realização da Copa do Mundo. "Acompanhei meu filho ao Ministério do Turismo, e a moça que cuidava da inscrição me perguntou se eu também gostaria de fazer o curso junto com ele", lembra a carioca, que adorou a ideia.
Hoje, os dois são parceiros de profissão. A mãe, que tem a página "visitexploredoha" no Instagram, também é empreendedora na área de networking para mulheres e abriu uma plataforma dedicada ao público feminino. E a Copa do Mundo promete uma abertura ainda maior.
"Agora, nós vamos ter um festival internacional de negócios, o IBF (International Business Festival) num 'coworking space' durante todos os dias da Copa com o objetivo de promover a interação entre as pessoas do mundo todo que vão estar aqui. Com certeza esse evento vai abrir muitas portas", conta Meyer.
Quanto à adaptação aos costumes locais, a carioca explica que respeito pela cultura local é o suficiente par aviver em harmonia e evitar problemas.
"É um país que está abrindo espaço para o novo. Temos a 'sheikha' Mozah, que é mãe do Emir do Catar [Tamim bin Hamad Al-Thani]. Ela é muito ativa nas áreas da educação, saúde e cultura. Ela abraça isso tudo e traz para o país uma certa modernidade", afirma. "É um país em que a gente pode ter liberdade de ir e vir e liberdade de escolha."
Depois de anos de adaptação e muito trabalho, ela diz ter certeza de que fez a escolha certa. "Eu realmente sou apaixonada pelo Catar, a minha experiência aqui é maravilhosa. E o que a gente não pode ter aqui a gente respeita", diz.
O que você está lendo é [No Catar, brasileiras fazem sucesso como empreendedoras].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
Wonderful comments