Como é a classificação do sistema democrático nos 32 países que disputam a Copa do Mundo?
Os 32 países que disputam o posto de melhor seleção do mundo no futebol também entram no ranking de classificação por sistema democrático. Nessa disputa, Dinamarca é a campeã, seguida de Austrália e Suíça – empatadas–, Holanda e Canadá.
Há quatro países considerados autoritários pelo Índice de Democracia da Economist Intelligence Unit entre os que estão na Copa do Mundo: Irã, no último posto, antecedido por Arábia Saudita, Camarões e Catar, o anfitrião do Mundial. O Brasil aparece em 16º lugar, um à frente da Argentina, seu maior adversário no continente sul-americano.
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A lista das seleções se baseia na classificação mais recente, de 2023, que é realizada desde 2006 pela divisão de pesquisas e análises da revista “The Economist” em 167 países. O estado da democracia é verificado por 60 indicadores distribuídos em cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo, liberdades civis, funcionamento do governo, participação política e cultura política.
A partir das médias obtidas, numa pontuação de 0 a 10, o índice agrupa os países em quatro grupos – democracia plena (superior a 8), democracia imperfeita (de 7,99 a 6), regime híbrido (de 5,99 a 4) e regime autoritário (abaixo de 4).
No ranking global, Noruega lidera as democracias e o posto de lanterninha fica com o Afeganistão, mas ambos estão fora do torneio. Na lista da Copa, a que nos interessa, 12 países figuram como democracias plenas, 11 como democracias falhas ou problemáticas, entre eles o Brasil, 5 como sistemas híbridos e 4 como autoritários.
Confira as autocracias do Mundial que estão na lanterna do índice e impõem uma realidade dramática a suas populações:
1 de 4 Manifestantes queimam motos de policiais durante manifestação em setembro de 2022 em Teerã em protesto contra a morte da jovem Mahsa Amini, presa por 'uso inadequado' do véu islâmico. — Foto: WANA (West Asia News Agency) via REUTERS
Manifestantes queimam motos de policiais durante manifestação em setembro de 2022 em Teerã em protesto contra a morte da jovem Mahsa Amini, presa por 'uso inadequado' do véu islâmico. — Foto: WANA (West Asia News Agency) via REUTERS
A onda de protestos que a teocracia muçulmana xiita enfrenta é nítida nos estádios do Catar em que compete a seleção, motivo de orgulho nacional. Na primeira partida, contra a Inglaterra, os jogadores se recusaram a cantar o hino nacional, num sinal de apoio aos protestos em massa em casa. Da arquibancada, os torcedores vaiaram o regime e exibiram cartazes de protestos.
No segundo jogo, contra o País de Gales, aparentemente constrangidos, os jogadores entoaram o hino, temerosos das represálias oriundas do regime e que foram expressas com clareza por Mehdi Chamran, presidente do conselho municipal de Teerã: “Nunca permitiremos que alguém insulte nosso hino e nossa bandeira.”
Antes de deixarem o Irã em direção ao Catar, o time posou para fotos com o presidente Ebrahim Raisi e foi criticado por conivência com um regime linha-dura que está no poder desde 1979. A seleção passou a ser referida “Time Mulá” e cartazes da Copa foram incendiados durante as manifestações.
Tudo isso reflete a turbulência que domina o país desde a morte da jovem Masha Amini, em setembro, presa por desrespeitar o código de vestimenta islâmico determinado para as mulheres. Os protestos pedindo o fim do regime varrem as cidades e se concentram em escolas e universidades. Organizações de direitos contabilizam 410 manifestantes mortos, entre os quais 58 menores de 18 anos. Pelo menos 17 mil foram presos, num movimento que não dá sinais de trégua, apesar da força bruta do regime.
2 de 4 As tentativas reformistas do príncipe Bin Salman foram ofuscadas por acusações de violações dos direitos humanos. — Foto: Reuters
As tentativas reformistas do príncipe Bin Salman foram ofuscadas por acusações de violações dos direitos humanos. — Foto: Reuters
O principal rival do Irã no Oriente Médio é comandado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, considerado um ditador brutal pelas principais entidades de direitos humanos. MBS, como é conhecido, reprimiu com crueldade toda a dissidência do reino. Ele foi envolvido, segundo um relatório de inteligência dos EUA, por ter aprovado diretamente o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico do regime, esquartejado nas dependências do consulado saudita em Istambul.
O reino saudita está em 152º lugar no índice da Economist. Oprime as mulheres, embora tenha registrado pequenos avanços, como a permissão para que elas dirijam. Ativistas são perseguidas com tortura e morte, segundo a Human Rights Watch.
O príncipe consolida o poder e tenta reabilitar a imagem do país, para conferir à monarquia um certo grau de modernidade. Recentemente foi promovido a primeiro-ministro, cargo que costuma ser exercido pelo rei saudita. A nomeação foi encarada como uma manobra para influenciar a recomendação dos EUA para conceder-lhe a imunidade soberana, o que acabou acontecendo semana passada.
3 de 4 Emir do Catar Tamim bin Hamad Al Thani participa de uma reunião com o presidente do Irã Ebrahim Raisi (que não aparece na foto) no Cazaquistão, em 13 de outubro de 2022 — Foto: Presidente do Irã/WANA via Reuters
Emir do Catar Tamim bin Hamad Al Thani participa de uma reunião com o presidente do Irã Ebrahim Raisi (que não aparece na foto) no Cazaquistão, em 13 de outubro de 2022 — Foto: Presidente do Irã/WANA via Reuters
O país anfitrião da Copa é, juntamente com a Arábia Saudita, uma das seis monarquias que compõem o Golfo Pérsico. Os abusos de direitos humanos abrangem a opressão das mulheres, que precisam de autorização do pai ou do marido para trabalhar, a prisão de homossexuais e a carência de liberdade de expressão a jornalistas.
A rica nação, que detém enormes reservas de petróleo, foi acusada de impor um tratamento de escravidão aos imigrantes que trabalharam na construção de estádios da Copa. Isso ocorre por meio de um sistema, conhecido como Kafala, em que o empregador retém o passaporte do funcionário e mantém o total controle sobre ele. Em 2023, o Catar concordou em abolir o sistema, mas entidades de direitos humanos denunciam que os abusos persistem, assim como a impossibilidade de os trabalhadores se filiarem a sindicatos.
4 de 4 O presidente de Camarões, Paul Biya, aguarda sua vez de discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, em 22 de setembro de 2016 — Foto: Reuters/Carlo Allegri/File Photo
O presidente de Camarões, Paul Biya, aguarda sua vez de discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, em 22 de setembro de 2016 — Foto: Reuters/Carlo Allegri/File Photo
O ditador Paul Biya comanda o país há 40 anos e tornou-se o segundo mais longevo do mundo, atrás apenas de Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial. Com amplos poderes executivos e legislativos, Bya, de 87 anos, conquistou maiorias parlamentares em todas as eleições.
Sem alternância de poder, Camarões ocupa a 143ª posição no índice. No quesito processo eleitoral e pluralismo, obteve a pontuação de 0.33. Isso diz muito sobre os sucessivos rebaixamentos que o país vem recebendo, ano a ano, nas avaliações da lista global da Economist.
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