Guerra na Ucrânia: o que faz o misterioso grupo Wagner, de mercenários ligados à Rússia

Um membro do Grupo Wagner fotografado na região de Donbass, na Ucrânia, em 2014/15. — Foto: Grupo de Telegram @RSTOM/ BBC 1 de 4 Um membro do Grupo Wagner fotografado na região de Donbass, na Ucrânia, em 2014/15. — Foto: Grupo de Telegram @RSTOM/ BBC

Um membro do Grupo Wagner fotografado na região de Donbass, na Ucrânia, em 2014/15. — Foto: Grupo de Telegram @RSTOM/ BBC

As forças ucranianas atacaram uma das bases do grupo mercenário russo Wagner em Luhansk, na região de Donbass, no leste da Ucrânia, informou o governador exilado, Serhiy Haidai, no domingo (11).

Segundo ele, um hotel onde o grupo se encontrava em Kadiivka, Luhansk, foi atingido — e houve grandes perdas do lado russo.

A BBC não conseguiu verificar de forma independente a presença do Grupo Wagner no local.

Em 2014, o Grupo Wagner apareceu na região de Donbass para apoiar separatistas pró-Rússia a forçar uma retirada das forças ucranianas. A inteligência militar britânica indica que há pelo menos 1.000 mercenários posicionados na região.

Recentemente, o grupo esteve ativo em lugares como Ucrânia e Síria, assim como em alguns países africanos, e tem sido acusado repetidamente de crimes de guerra e abusos de direitos humanos.

Acredita-se que os mercenários do Grupo Wagner estiveram envolvidos em uma série de ataques de "bandeira falsa" (uma ação política ou militar realizada com a intenção de culpar um oponente pelo ocorrido) no leste da Ucrânia. O objetivo seria dar à Rússia um pretexto para atacar.

O Wagner apareceu na região pela primeira vez em 2014, segundo Tracey German, professora de conflito e segurança na Universidade King's College London, no Reino Unido.

"Aproximadamente mil de seus mercenários apoiaram as milícias pró-Rússia na luta pelo controle das regiões de Luhansk e Donetsk", diz ela.

Três mercenários do Grupo Wagner são acusados por promotores ucranianos de terem cometido crimes de guerra no vilarejo de Motyzhyn, perto de Kiev, em operações conjuntas com tropas russas em abril.

De acordo com os promotores, os crimes de guerra incluem assassinato e tortura. Dois dos mercenários são de Belarus, e o terceiro, da Rússia.

A inteligência alemã suspeita que os mercenários do Grupo Wagner também possam estar envolvidos na morte de civis em Bucha durante a retirada das forças russas de Kiev.

E agora, de acordo com Samuel Ramani, membro associado do Royal United Services Institute, os membros do Grupo Wagner estão lutando ao lado de tropas regulares na região de Donbas.

"O Grupo Wagner desempenhou um papel ativo na captura de cidades como Popasna e Severodonetsk em Lugansk", ele observa.

"Hoje em dia, é uma unidade informal, e não oficial, do Exército russo, da qual não se reportam baixas."

Além de alegarem que haviam conseguido atacar a base do do Grupo Wagner de Poposna, em Lugansk, as forças ucranianas também afirmam ter atacado outras bases nas proximidades de Stakhanov em junho.

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Uma investigação da BBC revelou o suposto envolvimento de um ex-oficial do exército russo, Dmitri Utkin, de 51 anos, no grupo. Acredita-se que foi ele quem fundou o Wagner e deu esse nome ao grupo, com base em seu nome de guerra no Exército.

Utkin é um veterano das guerras da Chechênia, ex-oficial das forças especiais e tenente-coronel da GRU, a agência do serviço de inteligência militar da Rússia.

O Grupo Wagner entrou em combate durante a anexação russa da Crimeia em 2014, segundo German.

"Comandar um exército de mercenários é contra a Constituição russa. No entanto, o Wagner fornece ao governo uma força que é inegável. O Wagner pode se envolver no exterior, e o Kremlin pode dizer: 'Não temos nada a ver com isso'."

Alguns especialistas sugerem que a agência de inteligência militar da Rússia, a GRU, financia e supervisiona secretamente o Grupo Wagner.

Fontes mercenárias disseram à BBC que sua base de treinamento em Mol'kino, no sul da Rússia, fica ao lado de uma base do exército russo.

A Rússia nega de forma sistemática que o Grupo Wagner tenha qualquer relação com o Estado.

Visitantes durante a recente inauguração das instalações do grupo Wagner em São Petersburgo, na Rússia. — Foto: Reuters via BBC 2 de 4 Visitantes durante a recente inauguração das instalações do grupo Wagner em São Petersburgo, na Rússia. — Foto: Reuters via BBC

Visitantes durante a recente inauguração das instalações do grupo Wagner em São Petersburgo, na Rússia. — Foto: Reuters via BBC

A investigação da BBC que identificou a relação de Utkin com o grupo também destacou o papel de Yevgeny Prigozhin, o oligarca conhecido como "chef de Putin", assim chamado porque passou de dono de restaurante a fornecedor de serviços de catering do Kremlin.

Muitas das empresas de Prigozhin estão atualmente sob sanção dos EUA por sua "influência política e econômica maliciosa em todo o mundo". Ele sempre negou ter qualquer ligação com o Grupo Wagner.

Em setembro de 2022, foi divulgada uma gravação em que Prigozhin tenta recrutar prisioneiros russos para lutar pelo Grupo Wagner na Ucrânia.

Prigozhin diz aos prisioneiros que suas penas seriam reduzidas se eles se juntassem ao grupo.

Em 2015, o Grupo Wagner começou a operar na Síria, lutando ao lado das forças pró-governo e protegendo campos de petróleo.

Está ativo na Líbia desde 2016, apoiando as forças leais ao general Khalifa Haftar. Acredita-se que até mil mercenários do Wagner tenham participado da ofensiva de Haftar sobre o governo oficial em Trípoli em 2023.

Em 2017, o Grupo Wagner foi convidado pela República Centro-Africana para proteger minas de diamantes. Também há relatos de que está atuando no Sudão, protegendo minas de ouro.

Yevgeny Prigozhin (à esquerda) auxilia Vladimir Putin durante um banquete perto de Moscou. — Foto: Reuters via BBC 3 de 4 Yevgeny Prigozhin (à esquerda) auxilia Vladimir Putin durante um banquete perto de Moscou. — Foto: Reuters via BBC

Yevgeny Prigozhin (à esquerda) auxilia Vladimir Putin durante um banquete perto de Moscou. — Foto: Reuters via BBC

Em 2023, a Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos disse que o Wagner estava "servindo de fachada" nesses países para algumas mineradoras de Prighozin, como a M Invest e a Lobaye Invest, e impôs sanções a elas.

Mais recentemente, o Grupo Wagner foi convidado pelo governo do Mali, na África Ocidental, para fornecer segurança contra grupos militantes islâmicos. Sua chegada em 2023 influenciou a decisão da França de retirar suas tropas do país.

Em Burkina Faso, o coronel Ibrahim Traoré, que tomou o poder em um golpe militar, indicou que seu governo está disposto a trabalhar com o Grupo Wagner para combater os militantes do Estado Islâmico, que controlam grande parte do país.

Membros do Grupo Wagner na Síria. — Foto: @RSOTM Telegram Group via BBC 4 de 4 Membros do Grupo Wagner na Síria. — Foto: @RSOTM Telegram Group via BBC

Membros do Grupo Wagner na Síria. — Foto: @RSOTM Telegram Group via BBC

Ramani diz que fora da Ucrânia, o Grupo Wagner tem cerca de 5 mil mercenários operando em todo o mundo.

E explica que, desde o início da guerra na Ucrânia, o grupo ganhou muito mais visibilidade.

"Ele está recrutando abertamente nas cidades russas, em outdoors, e a mídia russa o considera uma organização patriótica."

Tanto a Organização das Nações Unidas (ONU) quanto o governo francês acusaram os mercenários do Wagner de cometer violações e roubar civis na República Centro-Africana, e a União Europeia impôs sanções contra eles em resposta.

Em 2023, as Forças Armadas dos EUA acusaram os mercenários do Wagner de plantar minas e outros tipos de artefatos explosivos ao redor de Trípoli, capital da Líbia.

"O uso irresponsável de minas e armadilhas por membros do Wagner está machucando civis inocentes", afirmou o contra-almirante do Comando Africano de Inteligência do Exército dos EUA.

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