Anestesista preso por estupro durante cesárea tem recebido ameaças e acompanha julgamento de modo remoto

O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, que começou a ser julgado pelo estupro de uma mulher durante uma cesárea no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, nesta segunda-feira (12), não participa de forma presencial a audiência por motivo de segurança. Ele está sendo ameaçado de morte e, por medida de proteção, acompanha os depoimentos da Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8.

Em quase cinco horas de julgamento, cinco testemunhas de acusação já foram ouvidas. O g1 apurou que o depoimento mais longo e emocionado foi o da vítima. Ela falou por mais de uma hora para o juiz Carlos Márcio da Costa Cortazio Correa, da 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, e para integrantes do Ministério Público do Estado (MPRJ).

Em seguida, foi a vez do marido da vítima, que falou por cerca de 40 minutos, e três funcionários da equipe de enfermagem que estavam na sala de parto no momento do crime. Os servidores falaram por pouco mais de 50 minutos.

Todas as testemunhas estão em salas separadas e não têm contato entre si. O principal questionamento do juiz é se elas confirmam o crime.

Julgamento de anestesista acontece no Fórum de São João de Meriti — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio 1 de 4 Julgamento de anestesista acontece no Fórum de São João de Meriti — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio

Julgamento de anestesista acontece no Fórum de São João de Meriti — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio

Giovanni responde por estupro de vulnerável. O presídio é destinado a detentos com curso superior. Ele está preso em uma cela individual e isolado. O médico virou réu em julho. Além do estupro durante o parto filmado, a polícia investigou outros casos.

Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) negou que Giovanni Quintella esteja em cela separada e disse que a participação do acusado na audiência de instrução do processo se dará por videoconferência em virtude de decisão judicial.

O g1 apurou que, ao menos, seis mulheres teriam sido vítimas do médico. A Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti está relatando todos os casos ao Ministério Público do Estado (MPRJ) que deverá denunciá-lo.

A defesa do médico deve alegar, nesta primeira audiência do julgamento, que o médico foi gravado ilegalmente. A Defensoria Pública já havia sustentado essa tese em um dos pedidos de habeas corpus impetrados no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) e que, posteriormente, foram negados.

Fórum de São João de Meriti — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio 2 de 4 Fórum de São João de Meriti — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio

Fórum de São João de Meriti — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio

O advogado da primeira vítima do médico, uma mulher que deu à luz horas antes dele ser filmado, criticou a postura da Defensoria.

"A tese de defesa utilizada pelos defensores é que a gravação foi ilegal. Não é verdade. Primeiro que a gravação sendo feita em local público, ela não é ilegal. Não precisa de autorização dele. E mesmo se o muito fosse local privado, todo o conjunto probatório, os depoimentos dos profissionais, o depoimento da própria vítima, já é o suficiente para manter uma condenação", afirma o advogado criminalista Joabs Sobrinho.

Giovanni Quintella Bezerra, em imagem de arquivo — Foto: Reprodução 3 de 4 Giovanni Quintella Bezerra, em imagem de arquivo — Foto: Reprodução

Giovanni Quintella Bezerra, em imagem de arquivo — Foto: Reprodução

Giovanni Quintella Bezerra em imagem de arquivo — Foto: Reprodução/TV Globo 4 de 4 Giovanni Quintella Bezerra em imagem de arquivo — Foto: Reprodução/TV Globo

Giovanni Quintella Bezerra em imagem de arquivo — Foto: Reprodução/TV Globo

Serão ouvidas oito testemunhas de acusação e outras oito de defesa. A expectativa é que as testemunhas de acusação sejam ouvidas ainda nesta segunda. Entre elas estão a vítima do médico, que aparece no vídeo, e o marido. A delegada Bárbara Lomba, responsável pela prisão e pela investigação, também vai depor. Os integrantes da equipe médica serão ouvidos como testemunhas de acusação.

O advogado explica como será passo a passo do julgamento.

"Nesse primeiro momento serão ouvidas as testemunhas de acusação, em seguida as testemunhas de defesa, os advogados falam e, posteriormente, as alegações finais. O processo está bem no início. Acredito que ele vá continuar preso no processo todo. Neste processo não é só uma vítima, e sim outras vítimas. Inclusive, a nossa cliente que foi a primeira a fazer o parto, a primeira estuprada", salientou Joabs Sobrinho.

Segundo o advogado da vítima, ainda não é possível saber, neste primeiro momento, a pena que o anestesista pegará, caso seja condenado pelo crime.

"Não sabemos qual será a pena dele, porque é réu primário e tem uma série de fatores. Mas, se for somar todas as penas, ele passa de 20 anos na cadeia", disse.

Francisco Barreira, advogado da vítima, disse que o vídeo feito pela equipe de enfermeiras não pode ser considerado ilegal.

"A audiência de instrução se resume a fazer a oitiva da vítima, do esposo dela, além das testemunhas de acusação e defesa. E, posteriormente, se tiver alguma dúvida, vamos questionar os peritos. E, não tendo, por último o ofendido."

"A estratégia da defesa dele vai fazer seu papel. Não podemos desclassificar a defesa. Mas, dizer que o vídeo é ilegal, é forçar a barra. Porque, a própria desembargadora reconheceu que as enfermeiras agiram em defesa de uma pessoa que estava em posição de vulnerabilidade extrema."

Barreira disse que ainda não é possível precisar quanto tempo o julgamento levará até a sentença.

"Tudo vai depender com o que vai acontecer hoje."

Segundo ele, desde o estupro, a vítima vem enfrentando várias dificuldades.

"Ela está muito abalada, tem muita dificuldade para andar nas ruas, se comunicar com as pessoas e até interagir com os filhos. Ela não consegue superar. Quando ela vê uma pessoa com semelhança com o réu, ela entra em desespero. O emocional dela começa a mexer. Ela tem expectativa que ele seja condenado. Vamos lutar com o MP pela pena máxima com as agravantes. Que seja uma decisão de efeito pedagógico, para que isso não aconteça mais com mães pelo país afora."

"Ela não assistiu ao vídeo. Ela não quer ver. Até para ir ao hospital ela tem dificuldade. Ela não é mais atendida por médicos homens. Ela fica sempre achando que será violentada. Ela está com uma série de problemas para locomoção, por exemplo."

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