Alemanha inaugura seu primeiro terminal de gás natural liquefeito
Terminal de GNL (Gás Natural Liquefeito) em Wilhelmshaven, Alemanha, em 17 de dezembro de 2022 — Foto: Michael Sohn/AP
A Alemanha inaugurou neste sábado (17) seu primeiro terminal de gás natural liquefeito (GNL), construído em tempo recorde diante das dificuldades do país em se adaptar a viver sem os hidrocarbonetos russos.
A instalação no porto de Wilhelmshaven, no Mar do Norte, foi inaugurada pelo chanceler Olaf Scholz em uma cerimônia a bordo do navio conhecido como Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação (FRSU), batizado de Hoegh Esperanza.
"Este é um bom dia para o nosso país e um sinal para o mundo inteiro de que a economia alemã pode continuar forte", declarou Scholz a bordo de um navio, vestido com um colete amarelo.
O terminal, já carregado com gás nigeriano que pode abastecer 50 mil residências por um ano, começará o fornecimento em 22 de dezembro.
A Alemanha planeja abrir outros quatro terminais de GNL financiados pelo governo nos próximos meses, além de uma infraestrutura privada.
"É o novo ritmo na Alemanha com que avançam as nossas infraestruturas", afirmou o chanceler.
Todos esses terminais juntos devem fornecer 30 bilhões de metros cúbicos de gás por ano a partir do ano que vem, o que representa um terço das necessidades totais do país.
Isso se Berlim encontrar GNL suficiente para enchê-los.
Esses terminais permitem que o gás natural resfriado seja importado por via marítima e condensado em líquido para facilitar o transporte.
As unidades FRSU armazenam GNL e o convertem em gás pronto para o uso.
Até agora, a Alemanha não possuía esses terminais e 55% de seu abastecimento dependia do gás barato enviado por gasoduto da Rússia.
Mas desde a invasão da Ucrânia, as entregas de gás para a Alemanha caíram e Berlim foi forçada a recorrer ao GNL processado em portos da Bélgica, França e Holanda, pagando um bônus pelos custos de transporte.
O governo decidiu investir para construir suas próprias instalações o mais rápido possível e gastou bilhões de euros para obter o FSRU.
No entanto, a Alemanha ainda não assinou nenhum contrato importante de longo prazo para garantir o fornecimento desses terminais a partir de janeiro.
"A capacidade de importação existe. Mas estou preocupado com os suprimentos", disse à AFP Johan Lilliestam, pesquisador da Universidade de Potsdam.
Existe um contrato com o Catar para abastecer o terminal de Wilhelmshaven, mas as entregas só estão previstas para 2026.
Os fornecedores querem contratos de longo prazo, mas a Alemanha não quer amarrar as mãos com acordos de muitos anos, já que o país pretende atingir a neutralidade de carbono até 2045.
"As empresas precisam saber que as compras na Alemanha vão diminuir eventualmente se quisermos cumprir nossas metas de proteção climática", disse o ministro da Economia, Robert Habeck.
A associação DUH, crítica dos projetos de GNL, anunciou na sexta-feira que tomaria "ações legais" contra Wilhelmshaven. Uma dezena de ativistas ambientais protestaram na cidade, com faixas pedindo o "fim do gás", segundo um jornalista da AFP presente no local.
Inicialmente, a primeira economia da zona do euro pode ser forçada a comprar GNL nos mercados à vista, o que significará preços mais altos para os consumidores.
Além disso, o mercado pode encolher no próximo ano devido à demanda renovada da China, que deixa para trás sua rígida política anticovid, alertou à AFP Andreas Schroeder, especialista do instituto de energia ICIS.
"Se a Europa conseguiu receber tanto GNL nos últimos meses foi porque a demanda chinesa estava baixa", explicou.
O gigante asiático assinou um acordo para comprar gás do Catar por 27 anos, o mais longo da história, segundo o país árabe.
A Alemanha passou por um inverno frio até agora, o que reduziu as reservas mais rápido do que o esperado.
"O consumo de gás está aumentando. Isso é um risco, especialmente se o frio continuar", afirmou Klaus Mueller, diretor da agência governamental que regula o mercado de gás e eletricidade.
Existe um risco real de que a Alemanha sofra interrupções temporárias no fornecimento nos próximos meses, segundo Schroeder.
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