Suspeito de ataque contra curdos em Paris diz ser racista; ato em memória às vítimas termina em violência

O homem suspeito de ter assassinado três curdos na sexta-feira (23) no centro de Paris afirmou às autoridades que seu ato teve caráter racista. Uma mobilização em homenagem às vítimas do ataque neste sábado (24) foi palco de confrontos entre manifestantes e a polícia na capital francesa.

A prisão preventiva do suspeito do ataque em um centro curdo foi prolongada nesta manhã. Segundo as autoridades francesas, "a motivação racista" foi adicionada à investigação, que inclui assassinatos, tentativas de homicídio, violência com arma de fogo e violação da legislação sobre o porte de armas. Segundo o Ministério Público, ao ser interrogado, o aposentado francês de 69 anos afirmou ser racista.  

O ataque ocorreu na manhã de sexta-feira na rua d'Enghien, no 10° distrito de Paris. O suspeito, autor de violências com armas contra imigrantes no passado, matou a tiros dois homens e uma mulher, e feriu outros três homens, um deles gravemente. Ele foi imobilizado por várias pessoas em um salão de cabeleireiro próximo ao local do crime. A polícia chegou momentos depois e prendeu o aposentado.

Membros da comunidade curda fazem protestos pelo 2º dia seguido, após um tiroteio, em Paris, França - 24 de dezembro de 2022 — Foto: Reuters 1 de 1 Membros da comunidade curda fazem protestos pelo 2º dia seguido, após um tiroteio, em Paris, França - 24 de dezembro de 2022 — Foto: Reuters

Membros da comunidade curda fazem protestos pelo 2º dia seguido, após um tiroteio, em Paris, França - 24 de dezembro de 2022 — Foto: Reuters

Com o suspeito, os policiais apreenderam uma maleta contendo "dois ou três carregadores de armas", além de uma caixa de munições de calibre 45, com ao menos 25 balas dentro. Segundo fontes próximas da investigação, a arma utilizada é uma pistola "1911 Colt 45" do exército americano, de "aparência desgastada". 

O tiroteio ocorreu a poucos dias do aniversário de uma data simbólica para a comunidade curda na França. Na madrugada de 10 de janeiro de 2013, três militantes próximas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), movimento classificado como terrorista por vários países ocidentais e pela Turquia, foram mortas a tiros no 10° distrito de Paris pelo turco Omer Güney. Ele foi preso e morreu três anos depois devido a um tumor no cérebro, antes do início de seu julgamento.

De acordo com o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, o suspeito do ataque de sexta-feira agiu sozinho e "quis atacar estrangeiros". O homem, um ex-condutor de trens, era frequentador de um clube de tiros. "Não há certeza de que o assassino, que quis matar essas pessoas, tenha visado especificamente os curdos", disse Darmanin.

O ministro reiterou que o atirador não era rastreado pelos serviços antiterrorismo da França e nem era "fichado como alguém de ultradireita". "Nada permite, por enquanto, dizer que esse homem era afiliado a um movimento ideológico extremista", afirmou a procuradora de Paris, Laure Beccuau. 

O aposentado já havia sido indiciado no final do ano passado por degradação e violências com armas, com premeditação e com motivações racistas. Em 8 de dezembro de 2023, ele feriu com uma arma branca migrantes de um acampamento de Paris, destruindo algumas barracas do local. Após um ano de prisão preventiva, ele foi libertado no último 12 de dezembro, e colocado sob controle judicial.

Em 2017, ele também foi condenado a seis meses de prisão com sursis por porte ilegal de armas. No último mês de junho, o aposentado recebeu ainda uma pena de doze meses de detenção por violências com armas cometidas em 2016.

Interrogado pela polícia, o pai do suspeito afirmou que, na manhã do ataque, ao sair de casa, "ele não disse nada". "Ele é louco", declarou o idoso de 90 anos, descrevendo o filho como "silencioso" e "retraído". 

Convocada pelo Conselho Democrático Curdo na França (CDK-F), uma manifestação em homenagem às vítimas do tiroteio teve início na tarde deste sábado de forma pacífica, na praça da República, centro de Paris. Além de membros da comunidade curda, o ato, que reuniu milhares de pessoas, também contou com militantes antirracismo e antifacismo. 

Na multidão, alguns manifestantes agitavam bandeiras do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). "Viva a resistência do povo curdo!", gritavam vários deles. 

Cerca de uma hora após o início da mobilização, violências começaram a ser registradas nos arredores da praça da República. Segundo o CDK-F, cidadãos turcos teriam se infiltrado na multidão e provocaram manifestantes curdos. A organização resolveu encerrar o ato devido aos confrontos, mas as violências continuaram até o meio da tarde. 

Ao menos quatro carros foram vandalizados e várias lixeiras na região da praça da República foram queimadas. As forças de segurança francesas foram acionadas e atiraram bombas de gás lacrimogênio contra os manifestantes radicais. Alguns deles lançaram projéteis contra a polícia. 

Em entrevista ao canal BFM TV, Jean-Christophe Couvy, secretário nacional do sindicato de polícia SGP FO, afirmou que a maioria dos participantes da manifestação não tinham o objetivo de protagonizar violências. Ele atribui os atos de vandalismo a membros do PKK. 

Já Bruno Pommard, ex-integrante do Raid, polícia tática francesa, indicou que membros da extrema esquerda também se infiltraram na manifestação e teriam participado das violências. "Essa tentativa de recuperação política da mobilização curda é lamentável", afirmou. 

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