Pelé sofreu racismo, mas fez muito pela representatividade negra, diz comentarista

No Museu da Seleção Brasileira, Pelé beija réplica da taça Jules Rimet, conquistada pelo Brasil na Copa do Mundo de 1970, no México. — Foto: DIVULGAÇÃO/ CBF 1 de 1 No Museu da Seleção Brasileira, Pelé beija réplica da taça Jules Rimet, conquistada pelo Brasil na Copa do Mundo de 1970, no México. — Foto: DIVULGAÇÃO/ CBF

No Museu da Seleção Brasileira, Pelé beija réplica da taça Jules Rimet, conquistada pelo Brasil na Copa do Mundo de 1970, no México. — Foto: DIVULGAÇÃO/ CBF

Pelé foi cobrado ao longo de sua carreira para se engajar mais na luta contra o racismo. Mas para muitos, sua genialidade como jogador e sua presença nos campos de futebol e nas telas de televisão e jornais por todo o mundo foram essenciais para a construção de uma representatividade negra no Brasil.

"Ele foi muito importante para que outras pessoas negras se reconhecessem quando assistiam à televisão, por exemplo", afirma o jornalista, que é negro e diz ter crescido tendo Pelé como ídolo.

O comentarista, que atualmente trabalha no canal de televisão por assinatura SporTV, afirma ainda que, apesar de toda admiração que despertou em sua carreira, o Rei do Futebol também foi vítima de racismo.

"Há uma perversidade no racismo brasileiro. Quando um homem ou uma mulher negra ganham visibilidade, por vezes deixam de ser pretos [para a sociedade]. Ele não é um homem preto, ele é o Pelé", diz. "Isso também é racismo".

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Ainda segundo ele, muitas das mensagens de Pelé foram desconsideradas ou ridicularizadas simplesmente pela cor de sua pele.

"Como o racismo praticado no Brasil é um racismo pautado até hoje pelo cinismo e pela dissimulação, muitas vezes se tentou desqualificar o que Pelé dizia, exatamente por se tratar de um preto falando de assuntos delicados", diz Vasconcellos.

O jornalista cita, por exemplo, o famoso discurso do jogador após marcar seu gol de número mil, em 1969. "Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode esquecer das crianças, as crianças necessitadas, as casas de caridade. Vamos pensar nisso", afirmou o jogador a jornalistas.

"Muita gente na época preferiu ironizar e taxar como demagógico o que ele disse, mas se por acaso tivessem prestado atenção, quem sabe os bisnetos daquelas crianças citadas por ele não estariam mais nas ruas hoje."

Quando o tema é racismo e esporte, é comum também que se compare o papel e os esforços de Pelé na luta com os de outro atleta negro de sua época, o boxeador americano Muhammad Ali.

Mas para o comentarista, a sociedade americana era completamente distinta; ali, o racismo se apresentava — e era combatido — de forma mais aberta do que no Brasil.

"Desqualificá-lo como um homem que afirmou o povo preto é muitas vezes comentário de branco."

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