RETROSPECTIVA 2022 – Música brasileira perde pilares com mortes de Elza Soares, Erasmo Carlos e Gal Costa

A cantora Elza Soares (1930 – 2022) foi o elo entre o samba, o jazz e o blues carregados na alma e na voz rouca — Foto: Daryan Dornelles / Divulgação 1 de 3 A cantora Elza Soares (1930 – 2022) foi o elo entre o samba, o jazz e o blues carregados na alma e na voz rouca — Foto: Daryan Dornelles / Divulgação

A cantora Elza Soares (1930 – 2022) foi o elo entre o samba, o jazz e o blues carregados na alma e na voz rouca — Foto: Daryan Dornelles / Divulgação

♪ 💥️RETROSPECTIVA 2022 – Foi um ano de grandes perdas. Personalidades de todas as áreas culturais saíram de cena. Na música brasileira, três mortes abalaram o Brasil e deixaram a trilha sonora do país sem pilares fundamentais. As partidas de Elza Soares (23 de junho ou 22 de julho de 1930 – 20 de janeiro de 2022), Erasmo Carlos (5 de junho de 1941 – 22 de novembro de 2022) e Gal Costa (26 de setembro de 1945 – 9 de novembro de 2022) abriram rombos na música do Brasil que jamais serão preenchidos.

♪ Elza Soares foi a voz do morro que ganhou o mundo entre perdas e danos que a fizeram dura na queda. Foi o elo que reconectou o samba ao jazz – gênero trazido intuitivamente pela cantora no canto rouco e potente – através da África matricial. Foi a cantora que dava voz ao samba com balanço singular, mas também com lamento típico das lavadeiras e do blues. Porque Elza Soares, voz que transcendeu rótulos, trazia a mãe, a lata d'água, o samba, o jazz e o blues na alma. E assim, sem fronteiras, a mulher do início e do fim do mundo cantou até o fim, atiçando dores do cóccix até o pescoço.

Erasmo Carlos (1941 – 2022) foi pioneiro roqueiro brasileiro de alma gentil — Foto: Guto Costa / Divulgação 2 de 3 Erasmo Carlos (1941 – 2022) foi pioneiro roqueiro brasileiro de alma gentil — Foto: Guto Costa / Divulgação

Erasmo Carlos (1941 – 2022) foi pioneiro roqueiro brasileiro de alma gentil — Foto: Guto Costa / Divulgação

♪ Erasmo Carlos foi o garoto do subúrbio carioca que, no balanço das horas dos anos 1950, se maravilhou ao descobrir tanto o rock de Bill Haley (1925 – 1981) e Elvis Presley (1935 – 1977) quanto a batida diferente da bossa nova de João Gilberto (1931 – 2023). Guardou o encanto pela bossa na alma gentil e exteriorizou a paixão pelo rock, se tornando um dos pioneiros do gênero no Brasil. Erasmo foi valoroso soldado do exército da juventude que abriu trincheira pop na música brasileira ao longo dos anos 1960. Forjou a fama de mau, virou o e, ao lado do amigo de fé Roberto Carlos, mandou tudo para o inferno nas jovens tardes de domingo. Finda a Jovem Guarda, em 1968, Erasmo sentou perplexo à beira da estrada até encontrar outro caminho através do samba-rock, do soul e das canções amorosas dos adultos anos 1970. Reencontrou o sucesso nos anos 1980, amargou ostracismo na década de 1990 e voltou ao pódio, já eternizado, a partir dos anos 2000.

Gal Costa (1945 – 2022) foi a musa de todas as estações musicais do Brasil com voz que sintonizou a contracultura, os Carnavais e as FMs — Foto: Carol Siqueira / Divulgação 3 de 3 Gal Costa (1945 – 2022) foi a musa de todas as estações musicais do Brasil com voz que sintonizou a contracultura, os Carnavais e as FMs — Foto: Carol Siqueira / Divulgação

Gal Costa (1945 – 2022) foi a musa de todas as estações musicais do Brasil com voz que sintonizou a contracultura, os Carnavais e as FMs — Foto: Carol Siqueira / Divulgação

♪ Gal Costa foi a musa de todas as estações musicais. Da tímida Gracinha que achava João Gilberto o maior cantor do Brasil (preferência que permaneceu inalterada até o fim da vida), Maria da Graça Costa Penna Burgos se transformou em Gal Costa na efervescência tropicalista de 1967 e 1968. A voz se abriu. Gal também se abriu para o rock e para a contracultura, da qual foi a musa brasileira no período mais duro da ditadura. Divina, maravilhosa, Gal deu voz a Dorival Caymmi (1914 – 2008), se tornou tropical ao cantar as trilhas foliãs de muitos Carnavais da fase 1979 / 1982 e ampliou o alcance da voz ao gravar românticas baladas sintetizadas para as FMs, até se reafirmar plural em 1990. Daí em diante, a discografia alternou altos e baixos, mas até mesmo os baixos foram elevados pela dimensão da voz singular. Um cristal puro que em 2011 se revigorou nos recantos escuros de disco eletrônico idealizado por Caetano Veloso para em seguida, guiada por Marcus Preto, voltar habitar a jovial pele do futuro que sempre vislumbrou através do canto eterno.

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