Por que o Papa Bento XVI renunciou?

Papa emérito, Bento XVI, é visto em Munique, na Alemanha, em 22 de junho de 2023 — Foto: Sven Hoppe/Pool via REUTERS 1 de 2 Papa emérito, Bento XVI, é visto em Munique, na Alemanha, em 22 de junho de 2023 — Foto: Sven Hoppe/Pool via REUTERS

Papa emérito, Bento XVI, é visto em Munique, na Alemanha, em 22 de junho de 2023 — Foto: Sven Hoppe/Pool via REUTERS

Joseph Ratzinger, que morreu neste sábado (31) aos 95 anos, foi o primeiro Papa da história a renunciar por falta de “ânimo” para governar.

Em 2013, Papa Bento XVI surpreendeu o mundo quando anunciou sua renúncia, em latim, durante uma reunião rotineira com os cardeais presentes em Roma.

Muitos papas da era moderna chegaram a cogitar a renúncia por motivos de saúde, entre eles Paulo VI e João Paulo II, mas nenhum deles havia concretizado essa decisão.

Na ocasião, aos 85 anos, Bento XVI disse que o motivo para deixar o cargo era a falta de forças na mente e no corpo:

“No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, seja do corpo, seja do ânimo, vigor que, nos últimos meses, em mim diminuiu, de modo tal a ter que reconhecer minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiado.”

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A diferença de Bento XVI em relação a outros papas que renunciaram no passado é que ele deixou o cargo de forma consciente e voluntária, alegando não ter mais forças para governar. Renunciou quase 600 anos depois de Gregório XII, que renunciou em 1415, em meio a uma divisão política na Igreja.

A ideia de Gregório XII era permitir a eleição de um novo pontífice que a unificasse. Ainda mais notável, porém, foi o caso do Papa Celestino V, considerado santo pela Igreja. Em 1294, ele renunciou após apenas cinco meses no trono de Pedro, virou eremita e, no fim da vida, foi mantido prisioneiro de seu sucessor, o Papa Bonifácio VIII.

Mas adotou um estilo simples e, com exceção de algumas aparições públicas e comentários teológicos publicados por escrito, manteve-se isolado. Ao renunciar, ele prometeu obediência ao seu sucessor, que viria a ser o Papa Francisco, eleito em 13 de março de 2013.

“Com um ato de extraordinária audácia, ele renovou o ofício papal, e com um último esforço o potencializou”, disse Dom Georg Gänswein, secretário particular de Bento XVI e Prefeito da Casa Pontifícia, em maio de 2016, num evento em Roma.

Bento XVI celebra missa ao ar livre em Aparecida, no dia 13 de maio de 2007 — Foto: Osservatore Romano/Arturo Mari/Pool/AFP/Arquivo 2 de 2 Bento XVI celebra missa ao ar livre em Aparecida, no dia 13 de maio de 2007 — Foto: Osservatore Romano/Arturo Mari/Pool/AFP/Arquivo

Bento XVI celebra missa ao ar livre em Aparecida, no dia 13 de maio de 2007 — Foto: Osservatore Romano/Arturo Mari/Pool/AFP/Arquivo

O Papa afirmou que a decisão de renunciar foi tomada após sua viagem ao México, em março de 2012, quando levou uma queda e sentiu o peso da idade em um voo intercontinental. Foi quando percebeu que não seria capaz de ir ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013.

O momento era difícil para a Igreja Católica: os escândalos do Vatileaks expuseram uma série de problemas na forma como o Vaticano vinha sendo conduzido, entre corrupção, desvios de dinheiro, condutas sexuais contrárias ao ensinamento da Igreja e jogos de poder.

Na época, relatos na imprensa internacional mostravam um Papa isolado no Palácio Apostólico, enquanto a Igreja era comandada, na prática, pelo secretário de Estado, o cardeal Tarciso Bertone – posteriormente envolvido numa polêmica por causa da reforma de seu apartamento de 700 m usando recursos do hospital infantil Bambino Gesù, do Vaticano.

Idoso e pouco popular, Joseph Ratzinger tinha seu poder e influência enfraquecidos. Em vida, ele mesmo reconhecia que a administração não era o seu ponto mais forte e, por isso, delegava boa parte das decisões a pessoas de confiança, como o cardeal Bertone.

Em entrevista ao biógrafo Peter Seewald, autor de “O Último Testamento”, Bento XVI garantiu que jamais abandonaria a “barca de Pedro” em mar tortuoso, como pressões externas ou após a traição de alguns colaboradores. Afirmou que já havia solucionado os problemas ligados ao Vatileaks e vivia “no estado de espírito de quem pode passar o leme a quem vem depois”.

Um dos colaboradores mais próximos a ele, o mordomo Paolo Gabriele, foi condenado por ter vazado documentos pessoais do papa ao jornalista Gianluigi Nuzzi. Após prisão e julgamento, Gabriele foi perdoado por Bento XVI e continuou trabalhando no Vaticano, em outras funções. O mordomo dizia que sua intenção era expor os escândalos para ajudar o pontífice. Além dele, ninguém mais foi condenado.

Dom Gänswein insiste que a renúncia de Bento XVI não está ligada aos escândalos. “É bom que eu diga com toda a clareza que o Papa Bento, no fim, não renunciou por causa do pobre e mal dirigido ajudante de quarto [o mordomo Paolo Gabriele]”.

“Aquele escândalo era pequeno demais para uma coisa do gênero. Foi muito maior o bem ponderado passo de grandeza histórica milenar que Bento XVI realizou”, comentou Georg Gänswein, secretário particular do então Papa.

Conheça a trajetória de Bento XVI

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