VÍDEO: torcedores corintianos organizaram caravana de quase 20 horas de SP a Brasília para acompanhar posse de Lula

De São Paulo a Brasília, em uma caravana de ônibus, são mil quilômetros e quase 20 horas de viagem. Nem isso nem a data - véspera do Ano Novo - impediram o servidor público Sidney Nobre Júnior, de 46 anos, de viajar com suas muletas, o necessário apoio para quem teve a perna esquerda amputada em um acidente ferroviário.

Ele fez questão de embarcar junto com a torcida corintiana rumo à posse do presidente Lula neste 1º de janeiro.

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Sidney Nobre Júnior, 46 anos, que viajou de SP para Brasília para acompanhar a posse de Lula. — Foto: Luiz Franco/ g1 1 de 5 Sidney Nobre Júnior, 46 anos, que viajou de SP para Brasília para acompanhar a posse de Lula. — Foto: Luiz Franco/ g1

Sidney Nobre Júnior, 46 anos, que viajou de SP para Brasília para acompanhar a posse de Lula. — Foto: Luiz Franco/ g1

Já a gerente de contas Camila Carbonelli, de 35 anos, decidiu viajar mesmo sem folga. “Na segunda-feira vou trabalhar de dentro do ônibus, com o celular, fazendo reunião, atendimento. Alguém realmente quer pegar um ônibus e passar 20 hora na estrada no Ano Novo? Não, mas é um dia emblemático para a nossa geração, um marco de restabelecimento da democracia”, afirma ela.

Os irmãos Bráulio e Rachel Rossetto vão juntos para a capital federal. Ele veio da Austrália para ver Lula subir a rampa do Palácio do Planalto.

Quando viu as notícias sobre um possível ataque a bomba e o reforço da segurança no evento, “desencanei de ir e saí de casa para passar a semana toda e a virada em Ubatuba, mas minha mulher falou: você é muito politizado para não ir para a posse, então eu mudei meus planos de novo”, conta Bráulio, de 41 anos.

Camila Carbonelli, 35 anos. — Foto: Luiz Franco/ g1 2 de 5 Camila Carbonelli, 35 anos. — Foto: Luiz Franco/ g1

Camila Carbonelli, 35 anos. — Foto: Luiz Franco/ g1

Já Rachel, de 43 anos, fez vigília para Lula quando o petista esteve preso, acompanhou o momento em que ele foi solto em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e agora quer vê-lo colocar de novo a faixa de presidente.

“A gente pensou nisso da violência, só que decidimos dar um crédito pro Estado. É histórico. Tudo vale a pena.”

Eles fazem parte de uma divisão da Gaviões da Fiel que discorda da máxima de que futebol e política não se discutem, ou que os dois não deveriam se misturar. Foi o grupo, chamado de “Revolução Corinthiana”, que organizou a caravana com dois ônibus e quase cem pessoas para a ida à posse.

“As torcidas são um dos maiores movimentos sociais do país e um instrumento de mobilização do povo, principalmente de quem vive na periferia. Conseguem mobilizar massas que muitas vezes não se veem nos partidos políticos e nos movimentos tradicionais. E o debate político agora está mais pujante dentro das torcidas por um reflexo da sociedade brasileira”, diz o teólogo e historiador Danilo Pássaro, de 30 anos.

Grupo de torcedores antes de embarcar para Brasília. — Foto: Luiz Franco/ g1 3 de 5 Grupo de torcedores antes de embarcar para Brasília. — Foto: Luiz Franco/ g1

Grupo de torcedores antes de embarcar para Brasília. — Foto: Luiz Franco/ g1

Pássaro foi um dos líderes do protesto das torcidas organizadas de São Paulo que lotaram a Avenida Paulista em maio de 2023, no auge da pandemia de Covid. Eles queriam antagonizar os bolsonaristas que ocupavam a via pedindo intervenção militar.

“Eles pediam volta da ditadura, agrediam jornalistas e profissionais da Saúde. A gente disse: ‘Não dá para continuar desse jeito, os caras estão achando que são os donos da rua. Vamos sair e mostrar que tem gente disposta a defender a democracia’. Depois eles pararam, o Bolsonaro até usou máscara”, relembra.

O grupo também desmobilizou bloqueios golpistas de bolsonaristas que impediam a passagem de veículos na Marginal Tietê e em várias estradas do país, logo depois do resultado da eleição que deu vitória a Lula.

O torcedor Danilo Pássaro, pertencente ao grupo “Revolução Corinthiana” em São Paulo. — Foto: Reprodução 4 de 5 O torcedor Danilo Pássaro, pertencente ao grupo “Revolução Corinthiana” em São Paulo. — Foto: Reprodução

O torcedor Danilo Pássaro, pertencente ao grupo “Revolução Corinthiana” em São Paulo. — Foto: Reprodução

Camila Carbonelli faz coro. “Quando ninguém quer liberar estrada, quando ninguém quer fazer nada, é a torcida que está lá.”

Quem também embarcou para Brasília na caravana foi o jornalista Luan Araújo, de 32 anos. É ele o homem negro que foi perseguido e ameaçado com uma arma pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) na véspera do segundo turno da eleição presidencial vencida por Lula.

“Eu tinha saído de casa para jogar bola e ir num chá de bebê, mas aconteceu tudo aquilo que as câmeras mostraram. Quando eu olhei para trás, ela estava com a arma apontada, aí eu senti medo de morrer, não pensava mais em eleição, em questão política, em nada”, diz Araújo, que após o episódio passou a ter crises de pânico.

O jornalista Luan Araújo, 32 anos, membro da torcida corintiana rumo a Brasília. — Foto: Reprodução 5 de 5 O jornalista Luan Araújo, 32 anos, membro da torcida corintiana rumo a Brasília. — Foto: Reprodução

O jornalista Luan Araújo, 32 anos, membro da torcida corintiana rumo a Brasília. — Foto: Reprodução

A defesa de Luan entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a abertura de processo para apurar a conduta da parlamentar, que tem foro privilegiado.

Estar com a torcida o deixa mais seguro de ir para Brasília, diz Luan. “Eu falei no Réveillon passado: ‘A gente vai ganhar essa eleição e eu vou tá lá’. Como membro da torcida que teve a ‘Democracia Corinthiana’, a gente pensava em ir junto e fazer a celebração do fim de tudo isso. Só não pensei que para mim essa parte final seria tão dramática”, afirma.

Ele relembra o movimento conhecido como “Democracia Corinthiana”, quando, em meio à ditadura militar, jogadores consagrados, como Sócrates, Wladimir, Casagrande e Biro-Biro, começaram a reivindicar mudanças estruturais dentro do clube e participar de atos que pediam o fim do governo militar, como o comício pelas Diretas e a aprovação da Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que propunha o voto direto.

“As torcidas sempre tiveram esse papel [político]. A Gaviões, a Jovem do Santos, a do Flamengo nasceram no final dos anos 1960, com pessoas jovens que tinham sentimento de subverter a ordem ditatorial. Depois perderam essa força nos anos 1980, mas agora finalmente estão redescobrindo a sua função social”, diz.

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