Paciente que recebeu 500º transplante de pulmão no InCor quer 'aposentar' cilindros e planeja viagens: '

Mulher recebeu novos pulmões em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal 1 de 4 Mulher recebeu novos pulmões em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Mulher recebeu novos pulmões em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

O fim dos dias de mangueira do cateter nasal pela casa e de orelhas doloridas foram os presentes da dona de casa Maria de Fátima Souza Silva para 2023. A moradora de Barueri, na Grande São Paulo, foi a 500ª paciente a receber transplante pulmonar no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), em São Paulo, em 19 de dezembro.

Maria, de 57 anos, recebeu o órgão de outra mulher que deu entrada com morte cerebral no pronto-socorro da mesma unidade, segundo o médico Paulo Pego Fernandes, que conduziu o transplante e também é o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

"Uma situação rara o doador estar no mesmo hospital. A mulher sofreu um infarto agudo do miocárdio e foram feitas todas as tentativas pelas equipes. O coração 'voltou', mas o cérebro, não. A família aceitou fazer a doação", explicou Paulo.

Foi o 500º procedimento em 32 anos, desde o início da série histórica no hospital.

O caso de Maria se enquadrava na situação possível para transplante, que são os extremos sem chance de cura do órgão. Ela tinha bronquiectasia, uma doença que causa a dilatação anormal e distorção irreversível dos brônquios. A mulher convivia com cilindro de oxigênio e pneumonias frequentes.

Paciente tinha que andar com cilindro de oxigênio — Foto: Arquivo pessoal 2 de 4 Paciente tinha que andar com cilindro de oxigênio — Foto: Arquivo pessoal

Paciente tinha que andar com cilindro de oxigênio — Foto: Arquivo pessoal

Foram mais de sete horas de cirurgia pulmonar bilateral, quando os dois pulmões são transplantados, segundo o Paulo, médico que a operou no mesmo dia em que ele completou 40 anos de carreira.

Maria de Fátima deve ter alta na próxima semana e uma melhora significa na qualidade de vida, segundo o especialista.

InCor faz 500 transplantes pulmonares — Foto: Divulgação 3 de 4 InCor faz 500 transplantes pulmonares — Foto: Divulgação

InCor faz 500 transplantes pulmonares — Foto: Divulgação

A pernambucana vive há 37 anos na Grande São Paulo, quando se mudou com o filho de 1 ano, grávida e com o marido.

Os dois criaram as crianças com as rendas dela, de faxineira, e dele, de pedreiro, quando Maria ainda conseguia trabalhar. Com o passar dos anos, porém, a situação dela piorou. As visitas ao pronto-socorro aumentaram e foi preciso o uso de oxigênio ao menos duas vezes por dia.

O marido, de 63 anos, a ajudava com o transporte de cilindros para atividades básicas. Segundo ela, para qualquer lugar que ia tinha que levar o "cachorrinho", como chama o suporte de cilindro com rodas que precisava acompanhá-la, e as orelhas já doíam com o uso frequente do cateter.

O casal vive numa rua íngreme, e o máximo que a dona de casa conseguia era caminhar até o portão para tomar sol.

“Não saía de casa a pé, só de carro. Eu não conseguia atravessar a rua para comprar uma bala", lembra.

A alta de Maria ainda não foi definida pelos médicos, mas ela espera sair até a próxima semana e poder ver o resultado de uma pequena reforma que a família está fazendo na casa para recebê-la.

No grupo considerado de risco pelos médicos, por ter mais de 20% do pulmão comprometido, a transplantada diz que não pegou Covid e passou ilesa de uma tuberculose na família.

Um dos filhos, no início da pandemia, positivou para a contaminação. "Cuidei dele no comecinho da pandemia. Queimava de febre, tossindo, eu ia lá medir a febre dele e olhar ele na cama. E graças a Deus não peguei. Todos chegavam e não podiam me abraçar. Eu sou uma prova viva da mão de Deus."

Família de Maria de Fátima — Foto: Arquivo pessoal 4 de 4 Família de Maria de Fátima — Foto: Arquivo pessoal

Família de Maria de Fátima — Foto: Arquivo pessoal

Uma das noras apresentou tosse contínua, e a sogra deu apoio, sempre com o uso de máscara. Depois, a família descobriu que se tratava de tuberculose, uma doença infecciosa que afeta principalmente os pulmões e é altamente contagiosa.

"Eu não sabia e achei que era uma pneumonia e cuidei dela. Depois descobriu que era tuberculose. Eu cuidava mesmo doente, cansada, puxando a cordinha [mangueira do cateter], fazia comida, ia na casa dela levar."

São Paulo lidera o ranking dos estados com mais transplantes de pulmão no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, entre janeiro e setembro de 2022, foram 45 no estado. Em todo o país, 76.

Paulo Pego Fernandes explica que o número de procedimentos subiu em todo o país de 2014 a 2023. Depois, despencou. Passou de 106, em 2023, para 65 em 2023, primeiro ano da pandemia de Covid. Em 2023, foram 83 transplantes e, em 2022, 76.

"Em 2022, chegou perto de 2023. Para quem estava crescendo desde 2014, a gente caiu muito. Se continuasse como estava, acredito que estaria com cerca de 15% à frente nos números de 2023 e não lutando para voltar ao que era."

Em setembro de 2023, o Incor deu alta ao primeiro paciente com Covid e que passou por transplante de pulmão.

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