Chico Buarque esquece o desalento e abençoa a 'boa brisa' do Brasil na estreia do show 'Que tal um samba

Chico Buarque reina no palco da casa Vivo Rio na noite de ontem, 5 de janeiro, na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio 1 de 5 Chico Buarque reina no palco da casa Vivo Rio na noite de ontem, 5 de janeiro, na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Chico Buarque reina no palco da casa Vivo Rio na noite de ontem, 5 de janeiro, na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Resenha de show

Título: 💥

Artista: 💥️Chico Buarque

Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 5 de janeiro de 2023

Cotação: ★ ★ ★ ★ ★

♪ É sintomático que Chico Buarque tenha tirado a música 💥 (1970) do roteiro do show 💥no decorrer da turnê que percorre o Brasil desde 6 de setembro. As mutações sofridas pelo roteiro a partir do fim de novembro – com a entrada de 💥(1983) em sóbrio tributo a Gal Costa (1945 – 2022) – acompanharam as transformações do país.

O alívio do cantor com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 desanuviou o clima e alterou o sentido político do show, como ficou claro na chegada da turnê ao Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do artista, na noite de ontem, 5 de janeiro, na primeira das 16 apresentações agendadas na casa Vivo Rio.

Ao longo de show embebido em beleza, Chico esqueceu o desalento e – com a voz posta no tempo do artista de 78 anos – soprou a boa brisa que embala o Brasil neste início de 2023. A leveza do cantor gerou até ironia com o ex-ministro da economia do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, durante 💥 (1985).

“Essa é do Paulo Guedes”, debochou após fazer piada com os boatos de que comprava música, em alusão ao fato de a juíza Mônica Ribeiro Teixeira ter questionado a autoria da música 💥 (1967) em ação movida pelo compositor contra o deputado Eduardo Bolsonaro pelo uso indevido do tema.

“Não sou comprador de música”, brincou. “Mas posso vender”, completou o compositor, genial e mordaz, ao retomar o canto do blues de ritmo marcado com o estalar de dedos do artista e as palmas da plateia cúmplice nos ideais.

A afinidade musical e ideológica entre artista e público já ficou evidente quando, no set inicial de Mônica Salmaso, a cantora foi aplaudida a cada verso mais significativo do samba 💥 (1968), cuja letra menciona a que ganhou renovado sentido em 2023.

Mônica Salmaso e Chico Buarque reiteram a afinidade musical e ideológica na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio 2 de 5 Mônica Salmaso e Chico Buarque reiteram a afinidade musical e ideológica na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Mônica Salmaso e Chico Buarque reiteram a afinidade musical e ideológica na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Convidada de Chico, Salmaso se fez presente ao longo do show – entre entradas e saídas do palco feitas com naturalidade – e conquistou o público pelo mix preciso de técnica e emoção ao dar voz a músicas como 💥 (1977), 💥 (1980) e 💥 (1983).

Descendente da linhagem nobre de Nana Caymmi (não por acaso, Salmaso lançou ano passado um disco em duo com Dori Caymmi), a monumental cantora paulistana abriu o show com 💥 (1977) – manifesto de resistência fraterna da trilha sonora do musical Os saltimbancos (1977) – e mostrou desde o primeiro dos cinco solos do set inicial que, sim, tem cacife para ocupar lugar que poderia ser de Gal Costa ou Maria Bethânia.

Uma e outra foram evocadas de forma sagaz e silenciosa nos contracantos de Chico e Salmaso no samba 💥 (1993) e na canção 💥 (1968), músicas gravadas pelo cantor com Gal e Bethânia, respectivamente. Só que, como os tempos são outros, Chico e Salmaso subvertem questões de gênero ao fim de 💥, com ela assumindo na letra a parte que era dele e vice-versa.

Emoldurado por projeções de fotos que expressam belezas e lutas do Brasil no cenário de Daniela Thomas, Chico Buarque entrou em cena somente ao fim da sexta música, 💥(1993), cuja última estrofe foi cantada com Salmaso.

A partir de 💥, o e garboso Francisco desfiou canções que puxaram o fio da memória de um Brasil sempre dissonante em fraturas sociais expostas em músicas como 💥 (1981), 💥 (1997), 💥 (2011) e 💥 (2017), esta contundentemente turbinada com citação de 💥 (1971).

Chico Buarque toca violão na estreia do show 'Que tal um samba?' na cidade do Rio de Janeiro (RJ) — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio 3 de 5 Chico Buarque toca violão na estreia do show 'Que tal um samba?' na cidade do Rio de Janeiro (RJ) — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Chico Buarque toca violão na estreia do show 'Que tal um samba?' na cidade do Rio de Janeiro (RJ) — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

No palco, tudo soou harmonioso no toque da banda regida pelo diretor musical Luiz Cláudio Ramos (violão) e formada por Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), João Rebouças (piano e cavaquinho), Jorge Helder (baixo e bandolim), Jurim Moreira (bateria) e Marcelo Bernardes (saxofone, flauta e clarinete), além do próprio Chico ao violão, tocado na maior parte do tempo em que permaneceu no palco, sentado, dando voz a belezas atemporais do quilate da canção 💥 (1993) e revolvendo uma ou outra canção menos badalada, caso de 💥(1987).

Além de 💥, o roteiro perdeu as recentes 💥 (2011) e 💥 (2017), e também 💥💥(1968), mas ganhou 💥 (1980) e a já mencionada 💥 (1983). Mudanças que agregarão valor ao já planejado – mas ainda não anunciado – registro audiovisual do show 💥.

No palco da casa Vivo Rio, o tom foi de celebração. Em essência, Chico Buarque abençoou a soprada no Brasil ao som de sambas redentores. O samba da terra que é também o país do Carnaval, festejado no dueto com Mônica Salmaso em 💥 (1967) no bis iniciado com tributo terno à irmã Miúcha (1937 – 2018) em 💥💥(1977) e encerrado com o faz-de-conta lúdico da valsa 💥 (1977).

Herói que enfrentou os batalhões do obscurantismo no tempo da maldade, Chico Buarque foi rei na estreia carioca do show 💥, entronizado por gente agora já sem medo de ser feliz.

Chico Buarque toca violão à frente do cenário de Daniela Thomas na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio 4 de 5 Chico Buarque toca violão à frente do cenário de Daniela Thomas na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Chico Buarque toca violão à frente do cenário de Daniela Thomas na estreia carioca do show 'Que tal um samba?' — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

♪ Eis as 34 músicas alocadas nos 31 números do roteiro seguido por Chico Buarque e Mônica Salmaso em 5 de janeiro de 2023 na estreia carioca do show 💥 na casa Vivo Rio, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ):

1. 💥 (Luís Enríquez Bacalov e Sergio Bardotti em versão de Chico Buarque, 1977) – Mônica Salmaso

2. 💥 (Chico Buarque, 1980) – Mônica Salmaso

3. 💥 (Francis Hime e Chico Buarque, 1977) – Mônica Salmaso

4. 💥 (Chico Buarque, 1968) – Mônica Salmaso

5. 💥(Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) – Mônica Salmaso

6.💥 (Chico Buarque, 1993) – Mônica Salmaso com Chico Buarque na última estrofe

7. 💥 (Chico Buarque, 1987) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

8. 💥(João Bosco e Chico Buarque, 2011) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

9. 💥💥(Chico Buarque, 1968) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

10. 💥 (Chico Buarque, 1993) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

11. 💥 (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1983) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

12. 💥 (Edu Lobo e Chico Buarque, 1985) – Chico Buarque

13. 💥 (Chico Buarque, 1979) – Chico Buarque

14. 💥 (Chico Buarque, 1980) – Chico Buarque

15. 💥 (Chico Buarque, 1983) – Chico Buarque

16. 💥(Chico Buarque, 1983) – Chico Buarque

17. 💥 (Chico Buarque, 1998) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

18. 💥 (Chico Buarque, 2011) – Chico Buarque

19. 💥 (Chico Buarque, 1987) – Chico Buarque

20.💥 (Chico Buarque, 1978) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

21.💥 (Chico Buarque, 1989) – Chico Buarque

22. 💥 (Chico Buarque, 1993) – Chico Buarque

23. 💥 (Chico Buarque, 1997) – Chico Buarque

24. 💥(Edu Lobo e Chico Buarque, 1985) – Chico Buarque

25. 💥 (Cristovão Bastos e Chico Buarque, 2017) – Chico Buarque

26. 💥 (Chico Buarque, 1981) – Chico Buarque

27. 💥 (Chico Buarque, 2017) com citação de 💥 (Chico Buarque, 1971) – Chico Buarque

28. 💥 (Chico Buarque, 2022) /

💥 (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966)

💥 (Dorival Caymmi, 1940) /– Chico Buarque e Mônica Salmaso

Bis:

29. 💥 (Chico Buarque, 1977) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

30. 💥 (Chico Buarque, 1967) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

31. 💥 (Sivuca e Chico Buarque, 1977) – Chico Buarque e Mônica Salmaso

Mônica Salmaso arrebata o público na estreia carioca de 'Que tal um samba?' desde o set solo no início do show — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio 5 de 5 Mônica Salmaso arrebata o público na estreia carioca de 'Que tal um samba?' desde o set solo no início do show — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Mônica Salmaso arrebata o público na estreia carioca de 'Que tal um samba?' desde o set solo no início do show — Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

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