Mãe se revolta com lixo dentro de caixão do filho que morreu após ter atendimento negado por seis hospitais em SP

A mãe de Vitor Augusto Marcos de Oliveira se revoltou após descobrir, pouco antes do enterro, que o caixão do filho havia sido preenchido com pó de serra aparente, caixotes de madeira e folhas de jornal para que o corpo do jovem ficasse nivelado dentro da estrutura.

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Andreia da Silva também se surpreendeu com a altura da urna funerária em que o filho havia sido colocado. "Tamanho exorbitante, grotesco, feio, horroroso", disse ela.

O jovem de 25 anos morreu dentro de uma ambulância em frente ao Hospital Geral de Taipas, na Zona Norte de São Paulo, após tentar vaga em seis unidades de saúde e não conseguir atendimento por falta de equipamentos para pacientes obesos.

Mãe de jovem falecido se revoltou com lixo encontrado em caixão — Foto: Reprodução 1 de 2 Mãe de jovem falecido se revoltou com lixo encontrado em caixão — Foto: Reprodução

Mãe de jovem falecido se revoltou com lixo encontrado em caixão — Foto: Reprodução

A funerária Trianon, responsável pelo caixão, disse ao 💥️g1 que não tinha responsabilidade pelo estado do caixão, apenas pelo transporte de Vitor. Informou também que a responsável pela preparação do corpo e da urna funerária para o velório seria a Cooperaf, uma cooperativa de tanatopraxia.

Procurada pelo 💥️g1, uma representante da Cooperaf afirmou que o nivelamento do corpo com papéis e a utilização de pó de serra são práticas habituais na área. Ao ser questionada pela presença dos caixotes de madeira, encerrou a ligação.

Lourival Panhozzi, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF), disse ao 💥️g1 que os protocolos adotados estão "absolutamente fora dos padrões estabelecidos" e que "responsabilidades precisam ser apuradas".

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que as imagens que mostram o caixão preenchido com os materiais estão sob análise. "Exames periciais foram solicitados, e estão em fase de elaboração, e serão analisados pela autoridade policial tão logo forem concluídos. As diligências estão em andamento para esclarecer os fatos", diz em nota.

Em nota, a Cooperaf disse que "foi subcontratada pela Funerária Trianon para realizar tão somente o serviço de tanatopraxia" no corpo do falecido". 💥)

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Vitor Augusto Marcos de Oliveira morreu esperando por atendimento em hospital de SP — Foto: Reprodução/Facebook 2 de 2 Vitor Augusto Marcos de Oliveira morreu esperando por atendimento em hospital de SP — Foto: Reprodução/Facebook

Vitor Augusto Marcos de Oliveira morreu esperando por atendimento em hospital de SP — Foto: Reprodução/Facebook

O Ministério Público do Estado de São Paulo instaurou, na segunda-feira (9), inquérito contra as secretarias municipal e estadual da Saúde para apurar a morte de Vitor. O jovem não conseguiu atendimento em maca especial para pessoa com obesidade e morreu na porta do Hospital Geral de Taipas, na Zona Norte da capital, na quinta-feira (5), após tentar vaga em seis unidades de saúde.

Segundo o MP, a investigação é necessária “para apurar devidamente os fatos e tomar, a posteriori, as providências que se fizerem necessárias, inclusive eventual propositura de ação civil pública”.

O promotor de Justiça Arthur Pinto Filho deu prazo de cinco dias para os envolvidos apresentarem recurso ao Conselho Superior do Ministério Público e dez dias para responderem os questionamentos.

Entre os esclarecimentos solicitados, estão:

Na portaria divulgada nesta segunda-feira, o MP cita os artigos 196 e 197 da Constituição Federal, que determinam:

O documento cita ainda que “é responsabilidade do Poder Público garantir a qualidade e suficiência de serviços de saúde para os cidadãos”.

Seis hospitais recusaram atendimento a Vitor antes de ele morrer na porta do Hospital Geral de Taipas.

De acordo com a mãe, ele chegou a ser atendido na UPA Perus, também na Zona Norte, na quarta (4), e os médicos constataram que havia necessidade de internação urgente em unidade especializada.

No entanto, ao menos seis hospitais consultados pelo sistema de regulação de leitos — três municipais e três estaduais — recusaram, por telefone, a transferência do paciente ou por superlotação ou por falta de equipamentos necessários para pacientes obesos.

Vitor, então, ficou quatro horas dentro de uma ambulância, teve três paradas cardíacas e morreu.

Vitor percorreu 53 km dentro da ambulância e, durante todo o tempo, a ventilação foi feita manualmente.

Desde 2006, a taxa de obesidade vem crescendo entre a população paulista. Atualmente, passou de 20%, o dobro de quando começou a ser registrada.

Isso traz novos desafios para o atendimento da população, explica o endocrinologista Márcio Mancini.

"Fazer uma tomografia em uma paciente com obesidade muitas vezes já tem um limite de peso. Intubar um paciente com obesidade muitas vezes precisa de um anestesista, um médico com menos experiência não consegue intubar um paciente".

"Os exames radiológicos, ultrassom, até mesmo um raio-x simples já pode ter dificuldade diante de um paciente com obesidade", completa.

A Secretaria Municipal da Saúde disse que a equipe da UPA mandou Vítor para o Vila Nova Cachoeirinha porque a vaga havia sido cedida, mas que, quando a ambulância chegou lá, o paciente não foi admitido. Informou, ainda, que mandou o paciente para o Hospital Geral de Taipas porque esta era a unidade de referência. A secretaria lamentou a morte e disse que a equipe da UPA Perus deu toda a assistência.

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