Americanas desaba na bolsa após descoberta de rombo de R$ 20 bilhões; entenda o caso

A Americanas divulgou um rombo de R$ 20 bilhões devido "inconsistências em lançamentos contábeis".

  • O presidente da companhia, Sergio Rial, e o diretor financeiro, André Covre, deixaram o cargo apenas 9 dias depois de assumirem seus respectivos postos.

  • As ações da Americanas na Ibovespa caíram 77,33%, e o valor da empresa passou de R$ 10,8 bilhões para R$ 2,4 bilhões.

  • Especialistas ainda avaliam o impacto da crise no setor do varejo, que já é afetado pela pressão inflacionária e pela alta dos juros.

    Fachada de uma loja física da Americanas — Foto: Divulgação 1 de 2 Fachada de uma loja física da Americanas — Foto: Divulgação

    Fachada de uma loja física da Americanas — Foto: Divulgação

    As ações da Americanas despencaram quase 80% na bolsa de valores nesta quinta-feira (12), depois que a empresa publicou comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que chega a R$ 20 bilhões.

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    Em outras palavras, a Americanas percebeu que o valor bilionário — que é referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores — não havia sido registrado de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa.

    As ações da Americanas (AMER3) foram negociadas em leilão até 13h45 de hoje. O leilão é um "mecanismo de defesa" que interrompe as negociações comuns para tranquilizar momentos de variação bruta de papéis na bolsa.

    Depois, as negociações foram suspensas para a divulgação de um novo comunicado oficial da companhia. Este é um procedimento padrão da B3 neste tipo de caso.

    Por volta de 14h05, as ações voltaram a ser negociadas, mas foram colocadas em leilão novamente. 💥Ainda assim, ao fim do pregão, a queda exata foi de 77,33%. Segundo Einar Rivero, da TradeMap, essa foi a 💥maior queda diária de uma empresa de capital aberto na bolsa brasileira desde 2008.

    💥️Entenda o caso a partir das respostas para as perguntas abaixo:

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    O comunicado da Americanas sobre o rombo no balanço foi divulgado na noite de quarta-feira (11). Além disso, o texto informou que o presidente da companhia, Sergio Rial, deixou o cargo apenas 9 dias depois de assumir. O diretor financeiro da empresa, André Covre, também renunciou — ele havia tomado posse junto a Rial.

    Os nomes dos dois executivos tinham sido muito bem recebidos pelo mercado. Na época do anúncio, as ações da Americanas chegaram a subir mais de 20%. Apesar de ter deixado a empresa, Rial disse que manter o funcionamento da companhia é "absolutamente viável".

    Como consequência da revelação feita na noite de quarta, os investidores amanheceram em polvorosa. As principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários da empresa em leilão.

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    O documento divulgado pela companhia não traz muitos detalhes sobre o que de fato foi encontrado nas contas, mas esclarece que a área contábil detectou "a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras".

    Para se ter uma ideia, um levantamento de Einar Rivero, da TradeMap, mostra que o volume do rombo de R$ 20 bilhões é equivalente ao valor de mercado da Magazine Luiza, que até o fechamento do pregão desta quarta valia R$ 20,20 bilhões, e da Lojas Renner, de R$ 20,22 bilhões.

    Em valor de mercado, a Americanas perdeu R$ 8,37 bilhões só nesta quinta-feira. A empresa valia R$ 10,8 bilhões. Agora, R$ 2,4 bilhões.

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    Sérgio Rial fez uma conferência na manhã desta quinta para esclarecer alguns pontos. "A primeira grande conclusão é que não estamos falando de um número que está fora do balanço. Só que ele não está registrado de forma apropriada ao longo dos últimos anos", disse.

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    A Americanas disse que ainda não é possível determinar todos os impactos do rombo na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia. Em contrapartida, a empresa afirmou estimar que "o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial".

    Assim, o rombo teria apenas um efeito contábil, e não financeiro. Caso fosse financeiro, haveria saída de dinheiro do caixa da companhia.

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    Mesmo com as informações preliminares, as corretoras e casas de análise começam a mudar as recomendações sobre as ações da companhia.

    Em um relatório, a Genial Investimentos passou de recomendação de compra para venda e reduziu o preço-alvo de AMER3 de R$ 28,40 para R$ 9,40.

    “A companhia realizava operações chamadas de Risco Sacado, onde repassa a responsabilidade do pagamento a fornecedores para instituições financeiras. Isso, por sua vez, reduz a conta de Fornecedores no passivo, que teve seu valor declarado em R$5 bilhões no balanço do terceiro trimestre”, analisa a Genial.

    Para a corretora, a empresa deveria redirecionar esse valor na conta de empréstimos e financiamentos, uma vez que as financiadoras e os bancos cobram juros pelo dinheiro emprestado e, por isso, o valor do “rombo” pode ser maior do que o anunciado. “Não sabemos, até o momento, o quanto dos R$ 20 bilhões de fato estão fora do balanço e qual porcentagem desse valor estará sujeita a reclassificação de contas”, pondera.

    De acordo com um relatório da XP Investimentos, em equipe liderada pela responsável pela área de Varejo, Daniella Eiger, apesar de o comunicado oficial da empresa dizer que o efeito caixa é imaterial, a falta de detalhes sobre os fatos adiciona muita incerteza aos ativos e ao futuro da companhia. A XP coloca a recomendação em Americanas sob revisão e enxerga três principais riscos:

    Tudo isso, entretanto, ainda pode ser revisto — para melhor ou para pior —, a depender da apuração realizada pela consultoria independente contratada pela Americanas para verificar os fatos, tendo em vista que, até o momento, não há muita clareza sobre o que aconteceu.

    Analistas do Itaú BBA compartilham da mesma visão e, assim como a XP e outras instituições, colocaram as ações da Americanas sob revisão até que os fatos sejam esclarecidos.

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    Sérgio Rial, quando ainda era presidente do Santander Brasil. — Foto: Reprodução/NBR TV 2 de 2 Sérgio Rial, quando ainda era presidente do Santander Brasil. — Foto: Reprodução/NBR TV

    Sérgio Rial, quando ainda era presidente do Santander Brasil. — Foto: Reprodução/NBR TV

    Para além da insegurança com a notícia sobre o rombo bilionário, o mercado se mostra bastante descontente com a saída de Sérgio Rial, um executivo com boa fama entre investidores e especialistas.

    Rial é um banqueiro e economista que já trabalhou com diversas instituições financeiras e foi presidente do Santander Brasil de 2016 a 2022, tendo sido escolhido pessoalmente pela herdeira do banco, Ana Patrícia Botín.

    Sob sua gestão, o Santander Brasil se tornou a operação mais rentável de todo o grupo espanhol. Além disso, os resultados do banco se destacaram em relação aos outros bancos brasileiros por diversos trimestres com Rial à frente.

    Rial foi escolhido para o comando da Americanas em um momento bastante complicado para todo o setor de varejo no Brasil.

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    Em um período de inflação elevada e acima da meta do Banco Central (BC), o poder de compra da população é comprometido. Simultaneamente, para frear a pressão inflacionária, a medida do BC é elevar a Selic, taxa básica de juros, que hoje está em 13,75% ao ano.

    💥️Juros mais altos encarecem os processos de tomada de crédito e financiamento, impactando a força do consumo doméstico. Por serem empresas que dependem, sobretudo, do consumo doméstico, as varejistas enfrentam dificuldades em momentos de situação macroeconômica apertada.

    Junto com as demais empresas do setor, a Americanas também sofria com o cenário. Rial, então, era visto como alguém que poderia recolocar a empresa em uma trajetória mais lucrativa, e sua saída frustra os acionistas.

    A questão que fica — e que os especialistas estão tentando entender — é se as inconsistências na companhia vão refletir em todo o setor de varejo. No curtíssimo prazo, a resposta é sim: mesmo que o rombo seja nas contas da Americanas, outras importantes varejistas como Magazine Luiza e Via vivem um dia de forte desvalorização na bolsa, com suas ações despencando cerca de 10%.

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