Após ataques em Brasília, próximos passos da agenda econômica dividem opiniões de analistas
Bolsonaristas terroristas são presos e retirados do Palácio do Planalto — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Os ataques terroristas, vistos no país no segundo domingo de janeiro, ainda trazem divergências entre especialistas ouvidos pelo 💥️g1 sobre possíveis impactos no avanço da pauta econômica do novo governo.
Logo no início do mandato, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é cobrado por uma solução para a crise das contas públicas do país, enquanto tenta avançar com um programa de ampliação de receitas e a reforma tributária.
Parte dos especialistas afirma que a dissolução dos atos antidemocráticos exige tanta atenção do governo que pode causar atraso nas discussões sobre a política fiscal e na negociação de reformas no Congresso Nacional.
Na outra ponta, há que defenda que a rápida resposta do presidente Lula e a unificação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para tratar o tema deram uma segurança maior ao mercado e trouxeram um ganho político ao novo governo — o que pode aumentar as chances de uma evolução mais rápida nos trâmites da agenda econômica.
Com o cenário fiscal no centro das atenções, a percepção de alguns economistas é que a rápida resposta aos atos antidemocráticos facilita o desenrolar dos planos do governo. Junto a isso, o recente pacote econômico anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na semana passada, foi bem recebido pelo mercado.
Para essa parcela dos analistas, a leitura é que as instituições continuam focadas e seguem trabalhando.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Pedro Afonso Gomes, os ataques têm pouca importância para o progresso do debate fiscal e das discussões sobre ajustes no orçamento e reforma tributária.
Ele comenta que nem mesmo o mercado sentiu algum baque desses atos, citando como exemplo a reação positiva da bolsa de valores brasileira logo após os eventos do domingo, e opina que as perspectivas já parecem ser mais positivas para a economia.
Haddad trouxe, na semana seguinte aos ataques, as primeiras medidas para tentar reduzir o rombo das contas públicas e conter a alta na dívida do setor público. Entre as medidas, está um novo programa de parcelamento extraordinário de dívidas, a intenção de reduzir R$ 50 bilhões em despesas, entre outros.
“Nós já percebemos um posicionamento mais firme do Lula, que tem pedido que seus ministros apresentem resultados. Houve um freio por conta dos atos antidemocráticos e é natural, já que o governo precisa dar uma resposta à altura, não só na política, mas na parte criminal também. Mas agora, já vemos o pessoal mostrando trabalho”, afirma o economista, advogado e conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Alessandro Azzoni.
Os economistas dizem acreditar, ainda, que as medidas anunciadas pelo governo para endereçar os ataques trouxeram uma maior força política para Lula e podem até acabar diminuindo eventuais divergências no Congresso, de maneira a atenuar os posicionamentos mais radicais e a facilitar a articulação com os parlamentares, ajudando a encaminhar as pautas da agenda econômica.
Por outro lado, alguns especialistas ainda enxergam obstáculos à frente para o novo governo. Segundo Carlos Melo, cientista político do Insper, os ataques terroristas vistos no segundo domingo de janeiro —e toda a repercussão que os casos ainda têm — desviam parte da atenção das medidas econômicas necessárias.
Além disso, a leitura é que o perfil mais liberal do Congresso nesse mandato de Lula ainda traz uma oposição diferente do que o presidente enfrentou em seu primeiro mandato, em 2003.
Nesse cenário, os especialistas reforçam que mesmo que haja certo ganho político para Lula diante das rápidas respostas aos ataques, isso não necessariamente se traduzirá em maior espaço para aprovar a agenda econômica.
De acordo com Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, mesmo com uma força maior, o novo governo já nasce com capital político limitado por conta de uma rejeição ainda alta do presidente, além de ter precisado já lidar com problemas institucionais e com as sinalizações de um cenário de desaceleração econômica à frente.
“A reforma tributária é outro item importante, que mexe com o pacto federativo e com os grandes setores econômicos. Nesse caso, ainda há uma variação importante nos caminhos a serem seguidos para essa reforma”, acrescenta Cortez.
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