Papa Francisco: 'Estou bem de saúde'
O Papa Francisco durante a entrevista com a Associated Press na última terça-feira, 24. — Foto: AP Photo/Domenico Stinellis
O Papa Francisco afirmou nesta terça-feira (24) que não pensa em emitir normas que regulem futuras renúncias papais e que planeja continuar como bispo de Roma enquanto puder, apesar da recente onda de ataques de alguns cardeais e bispos de alto escalão.
Em sua primeira entrevista desde a morte do Papa emérito Bento XVI, o pontífice de 86 anos acrescentou ainda que, apesar do diagnóstico de estenose diverticular e dos problemas no joelho, está bem de saúde.
Em 2023, o papa Francisco passou por uma cirurgia no intestino grosso. Na ocasião, o pontífice teve 33 centímetros do órgão removido.
Na entrevista, Francisco afirmou ainda que teve uma leve fratura óssea em seu joelho devido a uma queda, mas que o problema foi resolvido sem cirurgia após laser e terapia magnética.
As especulações sobre a saúde de Francisco e o futuro de seu pontificado só aumentaram após a morte de Bento XVI, cuja renúncia em 2013 marcou uma virada para a Igreja Católica desde que ele foi o primeiro pontífice em seis séculos a se aposentar.
Alguns comentaristas acreditam que Francisco tem mais liberdade agora depois que Bento XVI morreu, tendo passado sua aposentadoria no Vaticano por mais de dez anos. Outros sugerem que qualquer tipo de paz eclesial que reinou acabou e que Francisco na verdade está mais exposto às críticas, privado da influência moderadora que Bento XVI teve para manter afastados os católicos conservadores.
O papa reconheceu que havia pontos de vista conflitantes, mas parecia quase otimista sobre isso.
"Eu não associaria isso a Bento, mas ao desgaste do governo de dez anos", disse ele sobre seu papado. Sua eleição foi recebida com "surpresa" pela nomeação de um papa sul-americano, disse ele. Depois veio o desconforto “quando começam a ver os defeitos que eu tenho, (...) não gostam”, disse.
"A única coisa que peço é que façam na minha cara, porque é assim que todos crescemos, certo?", acrescentou.
2 de 4 O Papa Francisco reflete sobre uma pergunta durante a entrevista à Associated Press no Vaticano. — Foto: AP Photo/Andrew MedichiniO Papa Francisco reflete sobre uma pergunta durante a entrevista à Associated Press no Vaticano. — Foto: AP Photo/Andrew Medichini
Francisco chamou Bento XVI de "cavalheiro" e disse que, com sua morte, "perdi um pai".
“Para mim, ele era uma segurança. Quando estava diante de uma dúvida, eu pedia o carro e ir ao monastério fazer perguntas”, disse ele sobre suas visitas à casa de repouso de Benedito. "Perdi um bom parceiro."
Alguns cardeais e advogados canônicos disseram que o Vaticano deveria regular as futuras aposentadorias papais para evitar alguns contratempos que aconteceram durante a aposentadoria inesperadamente longa de Bento XVI, na qual o papa emérito permaneceu um ponto de referência para alguns conservadores e tradicionalistas que se recusaram a reconhecer a legitimidade de Francisco.
Do nome escolhido por Bento XVI, papa emérito, às roupas brancas que ele usava em suas ocasionais aparições públicas, nas quais falava do celibato dos padres e dos abusos sexuais, esses especialistas disseram que as normas deveriam deixar claro que só existe um papa governante, por causa da unidade da Igreja.
Quanto a emitir normas como essas, Francisco disse que não chegou a cogitar a ideia.
3 de 4 O Papa Francisco (dir.) cumprimenta o Papa emérito Bento XVI no monastério Mater Ecclesiae, no Vaticano. Dias antes, Francisco ligou para Bento XVI e desejou um 'Feliz Natal'. — Foto: Reuters/Osservatore Romano
O Papa Francisco (dir.) cumprimenta o Papa emérito Bento XVI no monastério Mater Ecclesiae, no Vaticano. Dias antes, Francisco ligou para Bento XVI e desejou um 'Feliz Natal'. — Foto: Reuters/Osservatore Romano
Francisco disse ainda que Bento XVI "abriu a porta" para futuras renúncias e que também consideraria isso. Na terça-feira, ele reiterou que, se renunciasse, assumiria o cargo de bispo emérito de Roma e viveria na residência para padres aposentados na diocese de Roma.
O papa descreveu a decisão de Bento XVI de fixar residência em um monastério convertido nos Jardins do Vaticano como "um bom compromisso", mas afirmou que no futuro talvez outros papas possam querer fazer as coisas de maneira diferente.
A morte de Bento provavelmente remove o principal obstáculo à renúncia de Francisco, uma vez que a perspectiva de ter dois papas aposentados nunca foi uma opção. Mas Francisco disse que a morte do antecessor não mudou seus planos. "Nem me ocorreu fazer um testamento sobre mim mesmo", disse ele.
A curto prazo, Francisco enfatizou seu papel como "bispo de Roma" em contraste com a figura do papa e disse que seus planos são "continuar a ser bispo, bispo de Roma e em comunhão com todos os bispos do mundo". Ele indicou ainda que queria eliminar o conceito do papado como um "tribunal".
O papa também abordou as críticas de cardeais e bispos conhecidos nas semanas desde a morte de Bento XVI, que ele descreveu como desconfortáveis, "como urticária, incomoda um pouco", mas sobre as quais ele prefere ficar calado.
“Você prefere que não critiquem, por uma questão de tranquilidade”, disse Francisco. “Mas prefiro que façam isso porque significa que há liberdade para falar".
“Se não fosse assim, haveria uma ditadura da distância, como eu chamo, onde o imperador está lá e ninguém pode lhe dizer nada. Não, deixa que falem porque... a crítica te ajuda a crescer e melhorar as coisas".
4 de 4 O Papa Francisco responde à uma pergunta durante sua entrevista com a Associated Press na última terça, 25. — Foto: AP Photo/Domenico StinellisO Papa Francisco responde à uma pergunta durante sua entrevista com a Associated Press na última terça, 25. — Foto: AP Photo/Domenico Stinellis
A primeira lança na enxurrada de ataques veio do antigo secretário de Bento, o arcebispo Georg Gaenswein, que expôs o ressentimento acumulado nos últimos 10 anos em um livro de memórias revelador publicado nos primeiros dias após o funeral do papa emérito.
Em uma das partes mais controversas, Gaenswein revelou que Bento XVI soube pelo diário vaticano L'Osservatore Romano que Francisco havia revogado uma das decisões litúrgicas mais marcantes do papa emérito e restabelecido as restrições à celebração da missa em latim.
Poucos dias após a publicação das memórias, o Vaticano foi abalado novamente pela morte de outro líder conservador, o cardeal George Pell, e pelas revelações de que Pell havia escrito um memorando devastador que circulou no ano passado e que ele havia descrito o pontificado de Francisco como "um desastre" e "uma catástrofe".
O texto, que inicialmente circulou sob o pseudônimo de "Demos", listava todos os problemas do Vaticano sob Francisco, desde suas finanças precárias até o estilo de pregação do pontífice, e incluía uma lista do que um futuro papa poderia fazer para resolvê-los.
Francisco reconheceu as críticas de Pell, mas o elogiou por ser sua "mão direita" na reforma das finanças do Vaticano e seu primeiro ministro das finanças.
“Dizem que no final ele me criticou. Bem, ele tem o direito, a crítica é um direito humano", comentou Francisco. "Um grande cara. Excelente".
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