Cidade Integrada: Um ano depois, moradores de Muzema e Jacarezinho contam que vivem acuados pela criminalidade

Moradores da Muzema, uma das duas comunidades onde foi implantado o programa Cidade Integrada há um ano, contam que estão no meio da disputa de território entre traficantes e milicianos. Eles revelam que recebem ordens de ambos os grupos, temem retaliações e vivem acuados.

“Eu vejo que as pessoas estão muito amedrontadas, estão com muito medo, e pedindo providências. Na semana passada, foram obrigados a fechar as portas por volta de 20h, por ordem desses caras, por ordem desses traficantes. Todo o comércio teve que fechar”, contou um morador, que não quis ser identificado.

Uma das mensagens recebidas em grupos de Whatsapp dá uma ordem para ninguém sair de casa.

“Todos os moradores do Rio das Pedras, Muzema e Tijuquinha: toque de recolher a partir de hoje, 20h”.

Com o Jacarezinho, a outra área do projeto, as duas comunidades contam com cerca de 45 mil habitantes.

Mensagens determinam toque de recolher nas comunidades — Foto: Reprodução/TV Globo 1 de 3 Mensagens determinam toque de recolher nas comunidades — Foto: Reprodução/TV Globo

Mensagens determinam toque de recolher nas comunidades — Foto: Reprodução/TV Globo

Os moradores da Muzema contam que vivem sob o domínio do crime, mesmo após o início do Cidade Integrada. Eles contam que os criminosos que agiam na região eram milicianos. E agora a ameaça também é do tráfico de drogas, que tenta tomar o território.

Quem vive na região conta que eles recebem áudios com ordens que seriam de traficantes e de milicianos. E que, no meio da disputa, não sabem o que fazer.

Um morador da Muzema afirma que a Cidade Integrada só existe no nome do projeto.

“Hoje completa um ano do cidade enganada, porque integrada não integrou nada, não sobrou nada. Foram só as viaturas decorativas que colocaram. Passa miliciano, passa traficante, porque agora está tudo misturado, para cima e para baixo, sem capacete. Armados. E nada fazem”, disse.

Comunidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio — Foto: Reprodução/ TV Globo 2 de 3 Comunidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio — Foto: Reprodução/ TV Globo

Comunidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio — Foto: Reprodução/ TV Globo

No Jacarezinho, os moradores contam que o tráfico de drogas segue atuando na região. Assim como na Muzema, eles dizem que o principal objetivo do programa do Governo do Estado do Rio de Janeiro não foi cumprido: melhorar a vida de quem vive na área.

“Como moradora, eu não vi mudança nenhuma, porque a cidade integrada, na realidade, é só um nome paliativo. Porque não tem integração de nada, não houve melhoria na comunidade. Todas as promessas que foram feitas não aconteceram”, disse a moradora da comunidade.

Ela reclama de problemas diários na região.

“Nós temos uma precariedade muito grande no Jacarezinho de coleta de lixo, infraestrutura, esgoto, saneamento básico, e tudo isso que foi prometido pelo governador Cláudio Castro e não foi cumprido. Temos também a carência de uma escolinha de futebol para as crianças, um projeto que dê certo dentro da comunidade”, afirmou a mulher.

O programa Cidade Integrada foi lançado no dia 22 de janeiro do ano passado, com a promessa de R$ 500 milhões em investimentos, não apenas investidos em forças de segurança, mas também em programas sociais relacionados a educação, emprego e saúde para as favelas. O objetivo é a melhora dos índices sociais destas áreas. Deste valor, R$ 333 milhões já foram gastos.

Programas sociais previstos para o Cidade Integrada foram interrompidos depois do escândalo de corrupção no Ceperj, uma fundação do Governo do Estado que está sendo investigada por contratações suspeitas de mais de 9 mil pessoas.

Questionado sobre o balanço das ações nas duas comunidades, o poder estadual afirmou que, em um ano, ofereceu cursos para 1,4 mil mulheres chefes de família, abriu 1.050 vagas de cursos profissionalizantes e fez 152 projetos de melhoras habitacionais.

Nos números de segurança pública, o Governo do Rio de Janeiro afirmou que, no Jacarezinho e na Muzema, 720 criminosos foram presos. E que a Justiça concedeu o bloqueio de R$ 140 milhões em contas e bens das organizações criminosas.

Para a professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jaqueline Muniz, o programa Cidade Integrada errou em vários pontos.

“As iniciativas de assistência social, além de pulverizadas, elas não correspondem a um programa social de redução da violência com foco e alvo. Aqui não teve uma participação social efetiva no programa. Porque, afinal, quem sabe o que acontece de segurança, de violência, no seu local, é o morador”, disse a professora.

Jaqueline afirma que a integração não foi efetiva nas comunidades.

“Por fim, não se assistiu uma integração de verdade. Quem exerce controle sobre a população, controle sobre o território e regula mercados ilegais, governo é. Hoje nós temos uma governança com o crime no Rio de Janeiro e não dá para enfrentar essa dinâmica com ações pontuais”, finalizou a pesquisadora.

Coronel Marco Antônio Andrade, porta-voz da Polícia Militar — Foto: Reprodução/ TV Globo 3 de 3 Coronel Marco Antônio Andrade, porta-voz da Polícia Militar — Foto: Reprodução/ TV Globo

Coronel Marco Antônio Andrade, porta-voz da Polícia Militar — Foto: Reprodução/ TV Globo

O coronel Marco Antônio Andrade, porta-voz da Polícia Militar, afirmou que o policiamento ostensivo foi reforçado em toda a região de Jacarepaguá para coibir a atuação de criminosos.

Segundo o PM, não houve falha na atuação da corporação na Muzema. Ele afirma que as ações na área continuam por coibir os confrontos entre traficantes e milicianos.

“A Polícia Militar se faz presente, 24 horas por dia, sete dias por semana. Dentro da comunidade da Muzema, nós já realizamos mais de 140 prisões e mais de 14 armas foram apreendidas. Continuamos um trabalho constante. Há 15 dias, inauguramos uma cabine blindada que funciona 24 horas por dia. Trabalhamos para que esse cenário não continue acontecendo”, disse o porta-voz.

Ainda de acordo com o coronel, a corporação atua investigando as movimentações de criminosos e atua em ações pontuais para coibir confrontos.

“As forças de segurança do estado trabalham com uma grande investigação para tentar entender o que está acontecendo com uma grande movimentação de facções criminosas dentro do Estado do Rio de Janeiro, especificamente na região de Jacarepaguá. Enquanto isso está acontecendo, a Polícia Militar tem adotado ações pontuais e necessárias para coibir possíveis movimentações”, afirmou Marco Antônio Andrade.

Por fim, ele contou que as ações contam com várias unidades da Polícia Militar e, caso sejam necessárias, operações ocorrerão na área para evitar que os moradores tenham o direito de ir e vir cerceado pelos criminosos.

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