Ex-alunos denunciam abusos físicos e psicológicos e perseguição durante curso para a Escola Naval no RJ
Ex-alunos do curso de preparação para a Escola Naval, no Centro do Rio, denunciaram torturas e perseguição durante a primeira semana do curso. Os relatos incluem desde sessões de exercícios físicos extenuantes até receber menos comida por conta do peso.
Ao menos duas vítimas desistiram de seguir na carreira e já registraram boletim de ocorrência contra a instituição.
Um jovem de 20 anos contou que um dos instrutores prometeu que o faria desistir do curso.
“Ele falava declaradamente. Ele me chamava, às vezes, sozinho, e ele ficava falando: ‘Eu tenho o aval para fazer o que for necessário. Eu vou te tirar daqui nem que me custe a minha carreira’”, relatou o jovem, que se formou no Colégio Naval em 2023 e fez todo o processo seletivo.
Ele acabou desistindo depois de diversos abusos. Um exame de corpo de delito constatou escoriações em várias partes do corpo.
Outro aluno ouvido afirmou que desistiu da carreira militar.
"Desisti e eu nunca mais boto uma farda. O cidadão deposita a sua confiança nesses homens e mulheres. Você entrar lá e ver que toda teoria, tudo o que é divulgado, não é uma realidade para todos, isso é bem difícil", disse.
“Eu espero que daqui para a frente as pessoas coloquem a mão na consciência e comecem a agir de forma a tratar os outros com humanidade."
O caso é investigado pela 4ª DP (Praça da República). A Polícia Civil afirmou que os envolvidos serão ouvidos, e que o relatório médico de atendimento de um dos alunos foi solicitado à Escola Naval.
Um outro aluno relatou que sofreu abusos de superiores por conta do peso.
"Eu me sentava numa mesa específica pra pessoas que eram mais pesadas. Eles chamavam de 'mesa fit'. Eu era obrigado sempre a beber dois litros de água antes de todas as refeições e eu comia menos do que os demais", contou.
O aluno teve traumas psicológicos por causa desses abusos.
“Eu saí com a pressão alta, né? E com algumas alterações de saúde verificadas em exame de sangue e outros exames. E eu vou fazer um acompanhamento psicológico”, disse o ex-aluno.
Para a advogada Andreia Rodrigues, o sonho do seu filho e de outros jovens acabou por conta da maldade de "supostos comandantes":
“Os nossos filhos saíram de casa com todo aporte educacional, com ética, com respeito ao próximo, e verificar a situação a qual esses meninos chegaram em casa, com o tratamento que receberam nessa suposta adaptação, foi desumano demais. É muito difícil você ter a consciência de que seu filho foi torturado", avaliou ela.
A Escola Naval da Marinha informou que a preparação física serve para que os candidatos a aspirantes estejam aptos a cursar o primeiro ano, e negou que haja diferença de tratamento entre eles.
A entidade disse também que o processo garante o comprometimento com a saúde e adequada qualificação de futuros oficiais, e que os exercícios físicos são sempre acompanhados por uma uti móvel e por uma equipe multidisciplinar com militares que são médicos, enfermeiros, terapeutas e psicólogos.
A Marinha afirmou ainda que não tolera qualquer prática que atente contra a dignidade e integridade de seu pessoal.
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