Garota britânica de 14 anos morre após borrifar desodorante no quarto

Giorgia Green morreu em maio de 2022 aos 14 anos — Foto: ARQUIVO PESSOAL 1 de 3 Giorgia Green morreu em maio de 2022 aos 14 anos — Foto: ARQUIVO PESSOAL

Giorgia Green morreu em maio de 2022 aos 14 anos — Foto: ARQUIVO PESSOAL

Os pais de uma menina que morreu após inalar desodorante em aerossol estão pedindo uma rotulagem mais clara para alertar as pessoas sobre os potenciais perigos.

Giorgia Green tinha 14 anos, vivia em Derby, Inglaterra, e teve uma parada cardíaca após borrifar o desodorante em seu quarto em 2022.

Desde então, seus pais ficaram sabendo de outros jovens que morreram acidentalmente após inalar desodorante.

A Associação Britânica de Fabricantes de Aerossóis (Bama, na sigla em inglês) defende que os desodorantes têm "advertências muito claras".

No Reino Unido, os desodorantes em aerossol devem trazer impresso na embalagem o aviso "manter fora do alcance das crianças".

No Brasil, uma lei aprovada em 1976 já proibia que produtos destinados ao uso infantil fossem vendidos sob apresentação de aerossol — em 2015, uma nova lei acrescentou um parágrafo determinando que os produtos de uso infantil "deverão ter características de rotulagem e de embalagem que possibilitem a sua imediata e precisa distinção daqueles destinados ao uso adulto".

A reportagem aguarda informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para maior detalhamento sobre as regras no Brasil.

Os pais de Giorgia dizem que, no Reino Unido, o aviso vem atualmente em letras muito pequenas e que muitos pais devem comprar desodorantes para os filhos sem perceber o alerta.

"As pessoas não sabem o quão perigoso pode ser o conteúdo dessas latas", diz o pai de Giorgia, Paul. "Gostaria que ninguém mais no país — ou no mundo — passe pelo que passamos."

"Não queremos que a morte de nossa filha seja em vão."

Eles defendem que os desodorantes venham com um aviso dizendo que o produto "pode matar instantaneamente" e dizem que a filha não fazia uso abusivo do item.

Paul Green diz que o cheiro de desodorante dava à filha 'uma sensação de conforto' — Foto: ARQUIVO PESSOAL 2 de 3 Paul Green diz que o cheiro de desodorante dava à filha 'uma sensação de conforto' — Foto: ARQUIVO PESSOAL

Paul Green diz que o cheiro de desodorante dava à filha 'uma sensação de conforto' — Foto: ARQUIVO PESSOAL

Giorgia era autista e seu pai diz que ela gostava de borrifar desodorante nos cobertores porque achava o cheiro reconfortante.

"O cheiro dava a ela uma certa sensação de relaxamento", conta Paul Green. "Se ela estivesse se sentindo um pouco ansiosa, ela borrifava o desodorante e isso fava uma sensação de conforto, porque era o desodorante que minha esposa usava."

O irmão mais velho de Giorgia a encontrou inconsciente em seu quarto em 11 de maio de 2022.

"A porta dela estava aberta, então não era um ambiente fechado", afirma o pai. "A quantidade exata [de desodorante inalada] não está clara, mas seria mais do que uma pessoa normalmente usaria."

"Em algum momento, o coração dela parou depois das inalações."

Um inquérito sobre a morte de Giorgia foi conduzido, e os investigadores concluíram que se tratou de um acidente. A causa médica da morte foi registrada como "não determinada, mas consistente com a inalação de aerossol".

De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS) do Reino Unido, a palavra "desodorante" foi mencionada em 11 atestados de óbito entre 2001 e 2023. No entanto, é provável que o número real de mortes por essa causa seja maior, porque substâncias específicas nem sempre são mencionadas nos atestados de óbito.

O atestado de óbito de Giorgia, por exemplo, mencionou a "inalação de aerossol" em vez de "desodorante".

O butano — principal propelente do desodorante Giorgia — foi registrado como envolvido em 324 mortes entre 2001 e 2023. Propano e isobutano — também presentes no desodorante Giorgia — foram mencionados em 123 e 38 mortes, respectivamente.

A ONS disse que as substâncias foram associadas a várias mortes, acrescentando: "A inalação de gás butano ou propano pode levar à insuficiência cardíaca".

A Sociedade Real para Prevenção de Acidentes (RoSPA) afirma que várias pessoas já morreram após o acionamento excessivo do spray de desodorantes.

Ashley Martin, consultora de saúde pública da RoSPA, diz: "É fácil supor que eles são completamente seguros e totalmente livres de riscos. A verdade é que não são".

"A inalação de grandes quantidades de aerossóis, não apenas de desodorantes, pode levar a uma série de cenários que colocam a vida em risco — de desmaios e dificuldades respiratórias a alterações do ritmo cardíaco e, infelizmente, à morte."

"Existe um equívoco comum de se pensar que as mortes por aerossóis só acontecem em um cenário de abuso de substâncias, mas isso não é verdade."

Giorgia, como outras crianças, segundo relatos, lembrava da mãe ao cheirar o desodorante — Foto: ARQUIVO PESSOAL 3 de 3 Giorgia, como outras crianças, segundo relatos, lembrava da mãe ao cheirar o desodorante — Foto: ARQUIVO PESSOAL

Giorgia, como outras crianças, segundo relatos, lembrava da mãe ao cheirar o desodorante — Foto: ARQUIVO PESSOAL

"Vimos uma série de fatalidades nos últimos anos em que crianças e jovens adultos borrifaram aerossóis em excesso — desde adolescentes preocupados com o cheiro corporal até crianças que buscam conforto em cheiros familiares."

Os pais de Giorgia dizem ter encontrado alguns desses casos por meio de suas próprias pesquisas. Um deles foi o de Daniel Hurley, de 12 anos, também do condado de Derbyshire, que desmaiou e morreu após borrifar desodorante em um banheiro.

"Isso foi em 2008, mas minha filha morreu em 2022", diz Green. "A conscientização sobre o assunto não é suficiente."

Mais recentemente, Jack Waple, de 13 anos, morreu em circunstâncias semelhantes à de Giorgia, em 2023. O inquérito chegou à informação de que o adolescente borrifava desodorante ao se sentir ansioso quando a mãe saía de casa, pois o odor o lembrava dela.

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