Quem foi Vana Lopes, primeira mulher a denunciar Roger Abdelmassih

Vana Lopes, à direita, consola vítima de Roger Abdelmassih no aeroporto de Congonhas, em SP — Foto: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO 1 de 2 Vana Lopes, à direita, consola vítima de Roger Abdelmassih no aeroporto de Congonhas, em SP — Foto: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Vana Lopes, à direita, consola vítima de Roger Abdelmassih no aeroporto de Congonhas, em SP — Foto: RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Morreu na madrugada desta sábado (28) a ativista e estilista Vana Lopes, de 64 anos, a primeira vítima a denunciar Roger Abdelmassih, ex-médico condenado a 278 anos de prisão pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor contra pacientes - a sentença foi reduzida para 173 anos. Ela sofria de um câncer de mama em estágio avançado.

A informação foi confirmada por Maria do Carmo Santos, presidente do Vítimas Unidas, um grupo criado por Vana que reúne mulheres que foram abusadas por Abdelmassih.

Vanuzia Leite Lopes vivia em Portugal com o marido. Ela voltou ao Brasil nos últimos dias por conta de uma possibilidade de tratamento. Na noite de ontem, Vana teve duas convulsões e uma parada cardíaca. Em novembro de 2022, ela veio até o Brasil para se despedir de amigos e familiares, devido ao estado grave de saúde, e retornou a Portugal para ficar com o marido.

"No final de novembro nos reunimos, trouxe a Vana para o Brasil para ela se despedir do país dela, da filha, da neta e conhecer a bisneta. Fizemos uma festa com o pessoal do Vítimas Unidas e, após isso, ela retornou para Portugal, mas surgiu uma possibilidade aqui e ela voltou novamente ao Brasil. Ela já estava muito confusa, o câncer já tinha tomado conta de 80% do seu corpo", afirmou Maria do Carmo.

A ativista foi a primeira vítima a denunciar Abdelmassih. Em 1993, ela fazia tratamento de fertilização in vitro na tentativa de engravidar quando foi violentada pelo ex-médico. Na época, Vana foi até a delegacia apresentar queixa contra ele, foi encaminhada para fazer exame de corpo de delito e depois foi até o Conselho Regional de Medicina. Segundo ela mesma, após sua denúncia, o caso foi esquecido.

O ex-médico foi indiciado em junho de 2009 por estupro e atentado violento ao pudor contra 39 pacientes. Ele chegou a ficar preso de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009, mas recebeu do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de responder o processo em liberdade.

O habeas corpus foi revogado pela Justiça em janeiro de 2011, quando o ex-médico tentou renovar seu passaporte, o que sugeria a possibilidade de que ele tentaria sair do Brasil. Como a prisão foi decretada, e ele deixou de se apresentar, passou a ser procurado pela polícia.

Em 2011, Vana criou a página "Vítimas Unidas" que coletava informações sobre novas vítimas de Roger e o possível paradeiro dele. No livro “Bem-vindo ao Inferno — A história de Vana Lopes, a vítima que caçou o médico estuprador Roger Abdelmassih”, lançado em 2015, ela conta que conseguiu rastrear Abdelmassih por contas telefônicas, extratos bancários, notas promissórias, contratos sociais, documentos pessoais e até a localização quase em tempo real de pessoas que poderiam levar ao foragido. Ela conta também que foi um dos seus contatos que denunciou para a polícia que o ex-médico estaria no Paraguai.

Em agosto de 2014, Abdelmassih foi preso em Assunção, capital do Paraguai. No dia da prisão, Vana e outras vítimas esperaram pela chegada do ex-médico no Aeroporto de Congonhas para mostrar que elas "têm rosto".

Vana deixa uma filha, uma neta e uma bisneta. Os detalhes sobre o velório e enterro ainda não foram divulgados.

Vana Lopes, uma das líderes de um grupo que reúne as vítimas do ex- médico RogerAbdelmassih — Foto: Sérgio Castro/Estadão Conteúdo 2 de 2 Vana Lopes, uma das líderes de um grupo que reúne as vítimas do ex- médico RogerAbdelmassih — Foto: Sérgio Castro/Estadão Conteúdo

Vana Lopes, uma das líderes de um grupo que reúne as vítimas do ex- médico RogerAbdelmassih — Foto: Sérgio Castro/Estadão Conteúdo

Segundo Maria do Carmo, Vana teve um câncer de mama há cerca de quatro anos. "Por mais que a gente soubesse, ela foi uma guerreira nessa última luta dela, trabalhou até o final, mas foi dada a hora. Ela deixa um legado, a partir da denúncia dela contra o Roger que a palavra da mulher ganhou importância porque não havia provas concretas, mas havia um conjunto de mulheres que contavam a mesma história", afirmou.

"É com grande pesar que o Grupo Vítimas Unidas lamenta a morte de sua fundadora e ativista Vana Lopes, que nos deixou na madrugada deste sábado (28). Ela, que tanto fez por centenas de vítimas de crimes hediondos no Brasil, descobriu um câncer de mama há quatro anos e enfrentava bravamente esta doença terrível. Em toda a sua trajetória, Vana lutou para punir seu abusador, o ex-médico Roger Abdelmassih, e trabalhou para que outros criminosos hediondos também fossem condenados por seus atos", disse o grupo Vítimas Unidas em nota.

"Recentemente, em seus últimos meses de vida, ela continuou a luta pelo projeto de Lei do Estatuto da Vítima (PL 3890/20) que tem o intuito de humanizar, educar e evitar a revitimização de pessoas vulneradas em seus direitos", completou.

Roger Abdelmassih, que era considerado um dos principais especialistas em reprodução humana no Brasil, está preso na Penitenciária 2 de Tremembé, em São Paulo. Ele foi condenado à prisão em novembro de 2010. Abdelmassih não foi preso logo após ter sido condenado porque um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ) dava a ele o direito de responder em liberdade.

O habeas corpus foi revogado pela Justiça em janeiro de 2011. Como a prisão foi decretada e ele deixou de se apresentar, passou a ser procurado pela polícia até ser preso em 2014 no Paraguai.

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