280 crianças e adolescentes trans fazem transição de gênero no HC da USP; veja vídeos com o que eles contam sobre esse processo

Jovens trans falam sobre transição de gênero — Foto: Reprodução/Divulgação/Juan Silva/g1 Design 1 de 2 Jovens trans falam sobre transição de gênero — Foto: Reprodução/Divulgação/Juan Silva/g1 Design

Jovens trans falam sobre transição de gênero — Foto: Reprodução/Divulgação/Juan Silva/g1 Design

Atualmente, 380 pessoas identificadas como trans fazem transição de gênero gratuitamente no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Desse total, 100 são crianças de 4 a 12 anos de idade, 180 são adolescentes de 13 a 17 anos e 100 são adultos a partir dos 18 anos.

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Para lembrar o Dia da Visibilidade Trans, celebrado neste domingo (29), o 💥️g1 conversou com transgêneros que estão em busca ou conseguiram passar por processos como o bloqueio da puberdade, a hormonização cruzada e a cirurgia de redesignação sexual. Médicos especializados no assunto também foram ouvidos.

💥️Nesta reportagem, você vai conhecer as histórias de Gustavo, Stefan, Callebe, Sofia e Mayla.

Jovens trans contam como estão sendo suas transições — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Juan Silva/g1 Design

Ele faz acompanhamento no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (Amtigos) do Instituto de Psiquiatria do HC da Faculdade de Medicina da USP. “Um dia, eu ia conseguir o que eu queria. E eu consegui.”

O menino trans, que biologicamente nasceu com características físicas femininas, mora com a mãe e a família na capital paulista.

“Eu percebi que o Gustavo era uma criança trans quando ele tinha 2 anos de idade. Ele sempre rejeitava tudo que era feminino”, falou 💥️Jaciana Batista Leandro de Lima, chefe de cozinha e assistente de cabeleireiro de 35 anos.

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A procura pelo atendimento na rede pública de saúde é tão grande que o 💥️Amtigos foi obrigado a suspender as triagens em novembro de 2022, por não conseguir atender a demanda.

Existe a possibilidade de que elas voltem a ser realizadas a partir de fevereiro deste ano. Enquanto isso, 160 famílias que têm crianças e adolescentes que se identificam como transgêneros estão na fila de espera da triagem, que é feita por uma equipe multidisciplinar de especialistas.

Além dos filhos, a família também é acompanhada por uma equipe multidisciplinar durante a possível transição. O processo pode ser interrompido a qualquer momento dependendo da decisão ou avaliação de alguma das partes envolvidas.

O Amtigos foi criado em 2010 para atender gratuitamente adultos pelo 💥️Sistema Único de Saúde (SUS).

O Ministério da Saúde também disponibiliza gratuitamente para pessoas trans o Processo Transexualizador em 12 locais habilitados pela pasta do governo federal. 💥.

O Amtigos deixou de atender adultos em 2015, quando notou que eles tinham outros equipamentos públicos e até particulares de saúde para recorrer. E também por notar uma busca maior de responsáveis por crianças e adolescentes trans pelo serviço em São Paulo.

Os maiores de idade que ainda são atendidos no Amtigos são remanescentes das primeiras turmas ou eram menores quando entraram no programa de transição.

Pela lei brasileira, a operação para adequação sexual só pode ser realizada em adultos acima dos 18 anos. Esta é a última etapa do processo de transição ou acompanhamento.

Em homens trans, além da retirada dos seios e útero, a genitália feminina pode ser modificada para se aproximar a um órgão sexual masculino. Nas mulheres trans, existe a possibilidade de se retirar o pênis e transformá-lo numa espécie de vagina.

Antes da cirurgia, no entanto, há a hormonização, que consiste na utilização de hormônio do sexo oposto no paciente. Injeções são aplicadas regularmente em adolescentes a partir dos 16 anos, seguindo recomendação do💥️ Conselho Federal de Medicina (CFM).

Por exemplo, pessoas que nasceram com o sexo biológico masculino, mas depois se identificam como garotas trans, recebem o estrogênio. Este hormônio feminino irá causar mudanças corporais desejadas, entre elas o aumento das mamas.

Em uma situação inversa: quem nasceu com a genitália feminina, mas se vê como um garoto trans, receberá a testosterona. O hormônio masculino levará ao aparecimento de barba, por exemplo.

As crianças e os adolescentes atendidos na USP podem receber um bloqueador hormonal para não entrarem na puberdade e desenvolverem características físicas com as quais não se identificam. Nos garotos trans, o bloqueio impedirá a menstruação e o crescimento das mamas. Nas meninas trans, os pelos do rosto deixarão de crescer, e a voz não engrossará.

A aplicação do bloqueio varia entre cada paciente, mas pode acontecer entre 9 a 13 anos em crianças com características biológicas femininas e de 10 a 14 anos naquelas que têm o fenótipo masculino.

O promotor de vendas 💥️Stefan Vicenzo Barreto Soares da Cruz tem 25 anos e é um homem trans. Ele contou ao 💥️g1 que fez toda a sua transição no Hospital das Clínicas da USP, mas pela rede particular de saúde.

"Eu tive que fazer pelo particular porque na rede pública demorava muito, tinha muita burocracia", falou Stefan, que passou pela cirurgia de mastectomia, para retirada das mamas. Ele ainda tem vontade de retirar o útero. Mas não decidiu se fará a redesignação sexual.

Segundo especialistas, não é preciso se submeter ao processo de transição para ser considerada uma pessoa transgênera. Isso vale tanto para homens quanto mulheres trans.

As irmãs gêmeas 💥️Sofia Albuquerck e 💥️Mayla Phoebe pagaram para ter o corpo adequado ao gênero com o qual se identificam: o feminino. Elas tinham nascido biologicamente com o sexo masculino.

Dois anos antes, quando tinham 19 anos, elas saíram de Minas Gerais para serem operadas numa clínica particular em Blumenau, Santa Catarina. As duas passaram por cirurgia de redesignação sexual. Antes, já haviam colocado implantes de silicone nos seios.

"A partir dos meus 8 anos para cima, até os 14, eu começava a não entender mais o meu órgão genital. Isso deu uma disforia tão grande, tão grande, nessa época, que eu não entendia ao certo. Então até [fui] pesquisar e entender mais e começar minha transição", disse Sofia ao 💥️g1.

Atualmente ela namora um rapaz e estuda engenharia civil em Franca, interior paulista.

"Quando eu era adolescente eu já tinha repúdio, eu tinha disforia tão grande com meu órgão genital, porque eu tinha dificuldade para tomar banho, porque eu sentia pavor em ver", falou Mayla, que mora na Argentina, onde estuda medicina.

A respeito da cirurgia de readequação, o médico 💥️José Carlos Martins Júnior, da Transgender Center Brazil e que operou as gêmeas, explicou que nem sempre ela é necessária.

"A mulher trans, ela não tem indicação de cirurgia. Ela é uma mulher trans pelo simples fato de se entender como tal. Quando a cirurgia entra? Quando há o diagnóstico da chamada 'disforia de gênero'. A disforia de gênero não é uma doença, mas ela é um mal-estar."

“O termo transgênero é um termo guarda-chuva e se refere a qualquer variedade de gênero, sejam transexuais, travestis, gênero não binário, agênero, gênero fluído”, disse ao 💥️g1 o psiquiatra 💥️Alexandre Saadeh, coordenador do Amtigos.

Segundo o especialista, no caso dos transgêneros, existe uma hipótese científica de que essa identidade de gênero se manifeste no cérebro na formação do bebê, ainda na fase intrauterina, depois do desenvolvimento dos órgãos sexuais.

Em outras palavras, de acordo com Saadeh, isso quer dizer que alguém que nasce com a genitália feminina não necessariamente terá um cérebro feminino. E vice-versa.

Em 2018, a 💥️Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a transexualidade da lista de transtornos mentais da Classificação Internacional de Doenças (CID) e passou a ser considerada uma "condição". Apesar disso ela continua no CID, mas numa categoria chamada de “saúde sexual”.

Oficialmente, a transexualidade é citada com o termo "incongruência de gênero" na CID-11, e descrita como "uma incongruência marcada e persistente entre o gênero que um indivíduo experimenta e o sexo ao qual ele foi designado".

Essa inadequação vivenciada por transgêneros pode provocar o que especialistas chamam de "💥️disforia de gênero", que é quando uma pessoa não se sente confortável com as características masculinas ou femininas de seu corpo.

“É importante o diagnóstico no sentido de viabilizar e legalizar uma intervenção médica que se faça necessária. Desde hormonização até cirurgia”, falou Saadeh.

💥️Callebe Ferreira Marques, de 14 anos, não fez nenhum bloqueio hormonal, mas espera começar a tomar hormônios masculinos a partir dos 16 anos. O estudante também pretende fazer a cirurgia para a retirada dos seios depois dos 18 anos.

Veja onde fica o Amtigos — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/g1-Design 2 de 2 Veja onde fica o Amtigos — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/g1-Design

Veja onde fica o Amtigos — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/g1-Design

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