Três anos do Brexit: Reino Unido tem pior economia entre países ricos
Empresas do Reino Unido tiveram que lidar com novas regras e burocracias — Foto: Getty Images
Já se passaram três anos desde que o Reino Unido deixou a União Europeia.
Desde então, houve uma pandemia e uma crise energética — o que dificulta o trabalho de se entender exatamente qual foi o impacto do Brexit na economia britânica.
Dados oficiais recentemente divulgados indicam que o impacto foi grande — mas não da forma como muitos esperavam.
Com a saída do Reino Unido do mercado único e da união aduaneira europeia em 2023, as empresas que negociam com a União Europeia tiveram que lidar com novas regras e burocracias para algumas mercadorias.
Isso gerou temores sobre o impacto do Brexit nos cerca de US$ 670 bilhões de comércio entre o Reino Unido e a União Europeia — seu parceiro comercial mais próximo.
Inicialmente houve uma queda nas exportações do Reino Unido para a UE. Mas depois de alguns ajustes, os volumes de comércio voltaram aos níveis pré-pandemia, segundo dados oficiais.
Ainda assim, seria possível argumentar que o comércio poderia ter crescido ainda mais se não fosse pelo Brexit.
Uma pesquisa recente da entidade British Chambers of Commerce com 500 empresas mostrou que mais da metade delas ainda enfrenta dificuldades com as novas regras.
A burocracia pode inclusive ter provocado o fim dos negócios para alguns pequenos exportadores.
Um outro estudo mostrou que a variedade de mercadorias exportadas pelo Reino Unido diminuiu.
Algo parecido acontece com as importações. Os volumes se recuperaram para os níveis anteriores à pandemia.
Mas pesquisadores da London School of Economics dizem que o preço dos alimentos importados da UE (como tomates e batatas) aumentou em até 6% em 2023 e 2023. Isso aconteceu antes mesmo da recente escalada de inflação.
Por outro lado, isso aumentou a competitividade dos produtores britânicos de alimentos, com ganhos de até US$ 6 bilhões.
Mas quando se olha para um quadro mais amplo, surge um cenário diferente.
A maioria dos países viveu um colapso do comércio internacional no auge da pandemia.
Desde então, a recuperação nas relações comerciais foi melhor nos demais países do G7, em comparação com o Reino Unido.
O G7 reúne – além do Reino Unido — Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Japão.
2 de 3 Comércio no Reino Unido — Foto: BBCComércio no Reino Unido — Foto: BBC
A proporção do comércio internacional dentro da economia britânica caiu.
No Reino Unido, as importações e exportações não se recuperaram tão rapidamente como ocorreu em outros países.
O Reino Unido está ficando para trás no comércio exterior.
E os novos acordos comerciais firmados pelo Reino Unido? Eles podem contribuir para melhorar as relações comerciais — mas ainda é cedo para se compreender qual será o impacto disso.
Até agora, 71 acordos comerciais foram fechados, o que é um avanço rápido.
Mas a grande maioria desses acordos apenas reproduz os termos que já existiam quando o Reino Unido ainda fazia parte da UE.
O Reino Unido assinou novos acordos com a Austrália e a Nova Zelândia, mas o impacto dessas negociações é pequeno e poderá levar anos ainda.
Além disso, os acordos são polêmicos. Agricultores do Reino Unido dizem que têm a perder com eles.
Ainda há negociações em curso com a Índia e países do Pacífico. Apesar da demora em se chegar a um acordo, alguns analistas acreditam que esse atraso possa levar a termos melhores para o Reino Unido.
Os acordos comerciais com alguns dos maiores atores internacionais, como os EUA e a China, permanecem indefinidos.
O quanto as empresas investem em fábricas, treinamento, equipamentos e tecnologia também é afetado pela relação com a UE.
Mas o investimento no Reino Unido está estagnado desde o referendo de 2016.
As empresas seguem cautelosas com suas perspectivas para a economia.
O investimento já não vinha bem mesmo antes de 2016, mas se tivesse continuado sua tendência pré-referendo ele poderia estar cerca de 25% maior do que é agora, segundo uma consultoria.
Os economistas ainda não entendem esse fenômeno. Alguns — como o FMI — sugeriram que a incerteza em torno do Brexit segurou muitos investimentos.
Empresários como Richard Branson, do grupo Virgin, estão entre os líderes que disseram que o custo da burocracia do Brexit os impediria de investir no Reino Unido.
O grupo Briefings for Business, que defende o Brexit, afirma que os números são enganosos e que não há evidências de um impacto relacionado ao Brexit no investimento.
Em última análise, porém, a falta de investimento significa que a economia britânica é menos eficiente do que poderia ser.
O Brexit também alterou regras de livre circulação de mão de obra e criou um sistema de imigração baseado em pontuação.
Isso gerou reclamações de alguns setores dos quais não se esperava problemas.
O diretor da cadeia de moda Next, Simon Wolfson, e o diretor da rede de pubs Wetherspoons, Tim Martin, apoiaram o Brexit — mas ambos pediram que o Reino Unido permitisse mais trabalhadores imigrantes.
Um estudo das consultorias Center for European Reform e UK in a Changing Europe sugere que há 330 mil trabalhadores a menos no Reino Unido como resultado do Brexit.
Isso pode representar apenas 1% da força de trabalho total — mas setores como transporte, hotelaria e varejo sentiram a diferença.
3 de 3 Bares, restaurantes e hotéis sofreram com a falta de trabalhadores imigrantes — Foto: Getty ImagesBares, restaurantes e hotéis sofreram com a falta de trabalhadores imigrantes — Foto: Getty Images
A falta de trabalhadores está provocando aumento de preços para os consumidores.
Alguns argumentam que essas restrições vão fazer com que as empresas invistam mais na qualificação de seus empregados.
Mas no setor de serviços financeiros, 7 mil empregos podem ter sido destruídos por causa dessas restrições, de acordo com um relatório do Parlamento britânico.
Ainda assim, esse número é muito menor do que as projeções feitas antes do Brexit, de 70 mil empregos fechados.
O Reino Unido é a única grande economia rica que permanece menor – mais pobre – do que antes da pandemia. E o Brexit pode ser um dos fatores desse problema.
O Escritório de Responsabilidade Orçamentária, que fiscaliza as contas do governo britânico, acredita que a economia do Reino Unido está 4% menor por causa do Brexit.
Para muitos eleitores, o Brexit tem mais a ver com soberania nacional do que com economia. Mas ainda há muito a se fazer.
Alguns pontos do Brexit ainda não foram resolvidos — como o protocolo da Irlanda do Norte, normas permanentes para setores como serviços financeiros, cooperação em ciência e formas de reduzir a burocracia.
Os ganhos que podem surgir nessas áreas dependem não só da economia — como também da política.
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