Assucena é amor da cabeça aos pés ao celebrar Gal Costa em show que recria marcante álbum da cantora

Assucena na estreia carioca do show 'Rio e também posso chorar – Um tributo a Gal Costa' — Foto: Mauro Ferreira / g1 1 de 2 Assucena na estreia carioca do show 'Rio e também posso chorar – Um tributo a Gal Costa' — Foto: Mauro Ferreira / g1

Assucena na estreia carioca do show 'Rio e também posso chorar – Um tributo a Gal Costa' — Foto: Mauro Ferreira / g1

Resenha de show

Título: 💥💥

Artista: 💥️Assucena

Local: Manouche (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 11 de fevereiro de 2022

Cotação: ★ ★ ★ ★ 💥️½

♪ “Vou para homenagear Gal”, gracejou Assucena no palco do clube carioca Manouche na noite de sábado, 11 de fevereiro, antes de declamar a letra de 💥(1982), música em que Caetano Veloso traduziu em versos a imensidão do canto de Gal Costa (26 de setembro de 1945 – 9 de novembro de 2022).

Sim, pela voz grave e pela natural teatralidade com que interpreta repertório próprio e alheio, Assucena muitas vezes evocou a intensidade de Maria Bethânia na primeira apresentação do show 💥 (2021) na cidade do Rio de Janeiro (RJ). A evocação somente engrandeceu o espetáculo idealizado pela artista baiana e formatado em 2023, com a colaboração do DJ Zé Pedro, para celebrar os 50 anos do álbum ao vivo 💥 (1971).

Quando estreou na cidade de São Paulo (SP), em 10 de dezembro de 2023, o show era tributo a álbum emblemático na discografia brasileira e na obra de Gal por ter eternizado momento de resistência e de contracultura no Brasil repressor de 1971. Com a partida da cantora baiana para outra dimensão, em novembro do ano passado, o show se tornou naturalmente um tributo ao legado imortal de Gal, ainda que continue centrado no repertório do disco originado de show concebido pelo poeta Waly Salomão (1943 – 2003).

Assucena acertou ao evitar a tentativa vã de emular os registros vocais de Gal e de tentar simular a atmosfera claustrofóbica do Brasil de 1971, ainda que a resistente polarização política do Brasil de 2023 faça do show, também, um manifesto de liberdade – até porque feito por cantora trans, o que dá sentido próprio à interpretação da balada bluesy 💥 (Luiz Melodia, 1971), por exemplo.

Atração do projeto 💥, idealizado pelo Manouche em parceria com a série 💥(produção ainda inédita do Canal Bis para a qual o show foi gravado na apresentação carioca) com a intenção de dar voz e palco a artistas associados ao movimento LBGTQIAP+, a estreia do show de Assucena no Rio de Janeiro (RJ) reiterou a expressividade da intérprete, já evidenciada no show 💥 (2022), apresentado no mesmo Manouche em abril do ano passado.

Escorada no trio formado pelo guitarrista Rafael Acerbi (também no violão e na certeira direção musical) com Beatriz Lima (baixo) e Bianca Predieri (bateria e programações), Assucena foi amor da cabeça aos pés ao reverenciar Gal em roteiro aberto de forma inebriante, com a voz cristalina de Gal encorpada no coro de 💥 (tema do folclore baiano) antes de Assucena recitar o elétrico poema 💥 (Waly Salomão, 2005).

Na sequência do show, Assucena virou e revirou passado e presente em roteiro que abriu espaços para temas autorais da artista, uma “profanação”, como a cantora caracterizou para o público, quase se desculpando por desviar do trilho seguro do disco. Dentre os temas da artista, o samba 💥 (Assucena, 2017) se afinou com o show por dialogar com a brejeirice do canto de Gal nos anos 1970.

Já 💥 (Assucena, 2015), embora remetesse ao angustiado universo poético do álbum de 1971, soou como anticlímax no fecho do bis iniciado com abordagem de 💥💥(Caetano Veloso, 1968) em voz e violão, feita antes do rock 💥(Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1971), momento catártico do show.

Assucena se confirma intérprete expressiva no show 'Rio e também posso chorar – Um tributo a Gal Costa' — Foto: Mauro Ferreira / g1 2 de 2 Assucena se confirma intérprete expressiva no show 'Rio e também posso chorar – Um tributo a Gal Costa' — Foto: Mauro Ferreira / g1

Assucena se confirma intérprete expressiva no show 'Rio e também posso chorar – Um tributo a Gal Costa' — Foto: Mauro Ferreira / g1

Entre a abertura e o bis, Assucena deu o devido tom melancólico ao samba-canção 💥 (Ismael Silva, 1950), reviveu o refrão de 💥 (Jorge Ben Jor, 1969) antes de 💥 (Caetano Veloso, 1971) – tal como Gal fazia no show – e fez💥 (Caetano Veloso, 1967) bater com a intensidade amorosa recorrente na apresentação.

Se a cantora excluiu 💥 (Geraldo Pereira, 1944) do roteiro, por ainda estar insegura com o canto do samba (“Mas já estou ensaiando”, avisou), Assucena incluiu outro samba cantado por Gal no show, 💥 (Paulinho da Viola, 1971), mas excluído do disco lançado em dezembro de 1971. Nesse número, a cantora simulou batucar o violão cenográfico portado em cena com charme.

Após se distanciar do trio elétrico, ralentando a marcha-frevo 💥 (Caetano Veloso, 1971), Assucena recitou o poema 💥 (Waly Salomão, 1998) e alçou o voo mais alto do show ao cantar (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971) de forma exuberante, inicialmente a capella e depois com a banda em pegada de blues.

O trio, aliás, contribuiu para ambientar o repertório do álbum de 1971 em atmosfera moderna que, sem procurar reproduzir os arranjos do show original, conseguiu se conectar com a contemporaneidade atemporal de 💥sem jamais cair na imitação ou na caricatura.

O voo de 💥 (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) foi feito na mesma altitude de 💥, com Assucena expondo a dor e emulando o canto dilacerado do pássaro cego que anseia por liberdade.

Facho de luz na escuridão do Brasil de 1971, o show 💥 reluz sob outro prisma na visão de Assucena. Ao pegar , por vezes para celebrar Gal Costa, a cantora baiana soube se desviar das águas de um passado que não volta mais, mas que permanece vivo no canto matricial e inigualável de Maria da Graça Costa Penna Burgos.

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