Dólar vai a R$ 5,22 mesmo com redução da pressão sobre a meta de inflação
Cédulas de dólar — Foto: John Guccione/Pexels
O dólar fechou em alta nesta quarta-feira (15), com investidores de olho nas ações do governo de Luiz Inácio Lula da Silva por alterações na meta de inflação do país e redução no nível dos juros. Mesmo com pressões atenuadas, o real não se recuperou.
A moeda norte-americana subiu 0,44%, cotada a R$ 5,2205. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 0,41%, cotada a R$ 5,1974. Com o resultado de hoje, a moeda passou a acumular alta de 2,90% no mês. No ano, entretanto, ainda tem queda de 1,09%.
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Depois de alguns dias de turbulência para os ativos brasileiros, em virtude da tensão institucional entre governo e Banco Central, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez acenos ao Planalto na terça-feira ao afirmar que é justo o Executivo questionar o patamar elevado dos juros e que é trabalho do Banco Central esclarecer e melhorar a comunicação em meio a esse debate.
Agora, o mercado fica à espera da primeira reunião no novo governo do Conselho Monetário Nacional (CMN), na quinta-feira, em meio à possibilidade de que sejam discutidas mudanças para elevar as metas de inflação.
Perguntado se haverá debate sobre os objetivos de inflação na reunião do CMN, Campos Neto disse na terça-feira que será preciso aguardar para ter essa resposta, ressaltando que a prerrogativa de pautar e definir o tema é do governo.
Também nesta terça, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a revisão da meta de inflação não está na pauta do CMN. "Não está [na pauta]. Existe uma coisa chamada pré-Comoc, que define a pauta do CMN. Não está na pauta", afirmou.
Especialistas consideram que, se o BC concordar com alterações na meta da inflação — principalmente na primeira reunião do ano —, o ato poderia ser interpretado como fraqueza da instituição diante da pressão do presidente Lula, que vem reclamando do atual patamar da Selic em 13,75% ao ano.
Lula teria avisado à equipe econômica que quer um aumento de 1 ponto percentual na meta de inflação de 2023, atualmente em 3,25%, e a redução da Selic para um patamar próximo de 12% até o fim do ano.
Depois dos entraves, profissionais respeitados pelo mercado financeiro se mostraram relativamente mais tranquilos a respeito de uma revisão de meta de inflação do que o consenso vigente do mercado até hoje.
Em evento do banco BTG Pactual, Rogério Xavier, da SPX Capital, Luis Stuhlberger, da Verde Asset Management, e André Jakurski, da gestora JGP, comentaram a questão, indicando que seria aceitável uma mudança. "Obviamente, a nossa meta está errada", afirmou Xavier.
Além disso, o ministro Fernando Haddad afirmou também nesta quarta que o anúncio da nova regra fiscal deve ocorrer em março. O ministro vinha falando anteriormente em apresentar a regra em abril.
Haddad ainda afirmou que não vê motivo para se preocupar com a relação entre a Fazenda e o Banco Central, e que as expectativas econômicas estão sendo contaminadas por ruídos.
No exterior, dados da terça-feira mostraram que os preços ao consumidor nos Estados Unidos aceleraram em janeiro na comparação com o mês anterior, embora o aumento anual tenha sido o menor desde o final de 2023.
Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Gestora, comentou que a inflação ainda pressionada nos EUA "coloca para os investidores a possibilidade bastante razoável de nós termos mais duas altas (de juros) nas próximas reuniões do Fed", o que "de fato muda um pouco a perspectiva que nós tínhamos até a semana passada" e ajuda a explicar a piora nos mercados tanto internacionais quando domésticos.
Juros mais altos nos Estados Unidos elevam a rentabilidade dos títulos públicos do país, que são considerados os mais seguros do mundo. Isso favorece o dólar frente a outras moedas e impacta principalmente países emergentes, como o Brasil.
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