Portela, 100 anos: escola mais vezes campeã e que revolucionou o carnaval nasceu como bloco rural e desfilava com licença empres
Nenhuma outra escola de samba do Rio tem 💥️22 campeonatos — sete deles consecutivos —, e nenhuma tem 💥️100 anos de história. É a Portela, que cantará seu centenário na próxima segunda-feira (20), na Marquês de Sapucaí.
Mais do que o aniversário, a Portela e o mundo do samba celebram a revolução que aquela escola trouxe para o carnaval.
Nesta quarta-feira (15), o 💥️RJ1 e o g1 começam a série 💥️Centenário do Samba, que em quatro capítulos mostrará como a Portela surgiu, bem como suas lendas, suas vitórias e seus ícones.
Levou um tempo para que aquele bloco rural crescesse até virar a Portela. Até 💥️licença emprestada os foliões usaram — manifestações culturais de origem afro não eram reconhecidas.
1 de 8 Paulo Benjamin de Oliveira, Antônio Rufino e Antônio Caetano, fundadores da Portela — Foto: Reprodução/TV GloboPaulo Benjamin de Oliveira, Antônio Rufino e Antônio Caetano, fundadores da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo
2 de 8 Quadra da Portela, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução/TV GloboQuadra da Portela, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução/TV Globo
A Portela nasceu em abril de 1923 como 💥️Baianinhas de Oswaldo Cruz, fruto da união de três amigos: 💥️Paulo Benjamin de Oliveira, 💥️Antônio Rufino e 💥️Antônio Caetano.
Naquela época, Portela era o nome de uma estrada — que existe até hoje —, a principal de um bairro ainda em instalação. Eram as terras de 💥️Lourenço Madureira.
3 de 8 A Grande Madureira era uma região rural — Foto: Reprodução/TV GloboA Grande Madureira era uma região rural — Foto: Reprodução/TV Globo
“Lourenço Madureira era um boiadeiro”, ensina a guia de turismo 💥️Raquel Oliveira. “Toda a Grande Madureira era uma região rural que de certa forma abastecia a cidade com carne, hortifrutigranjeiros e tudo mais. Era muito presente essa cultura de fazendas e cultivos no local”, descreve.
💥️Tia Surica, baluarte e presidente de honra da Portela, diz que Madureira e Oswaldo Cruz “eram um bairro pobre”. “Mas de boas pessoas. Era terra, não era asfaltado.”
Para lá iam mulheres e homens recém-libertos da tragédia da escravidão. A escritora 💥️Marília Barbosa, biógrafa de Paulo da Portela, conta que eram negros bantos ou angola-conguenses. “Vinham de Angola e do Congo, eram especializados em extrativismo”, detalha.
4 de 8 Mercado de Madureira, em foto sem data — Foto: Reprodução/TV Globo
Mercado de Madureira, em foto sem data — Foto: Reprodução/TV Globo
No pós-abolição, houve uma migração muito forte de pessoas do Vale do Paraíba e da 💥️Pequena África — região de maioria negra que se consolidou na região central da cidade, mas de onde comunidades inteiras foram despejadas no início do século passado.
O historiador 💥️Rafael Mattoso lembra que Madureira “oferecia um atrativo”. “Você está perto do trem, de uma Estação Cascadura, que foi inaugurada em 1858, e de uma nova estação que vai homenagear o próprio Lourenço Madureira em 1890”, ensina.
💥️Rogério Rodrigues Santos, diretor do Departamento Cultural da Portela, diz que “o trem é a origem do bairro”. “Foi através da inauguração da Estação Rio das Pedras que nasceu o núcleo suburbano de Oswaldo Cruz — e foi através dele que Paulo chegou do Centro para lá”, destaca.
💥️Paulo Benjamim de Oliveira era entregador de marmita e lustrador. Quando se mudou do Estácio para Madureira, era um jovem na casa dos 20 anos.
“Ao chegar em Madureira, ele leva um choque: algo completamente diferente do que estava acostumado”, diz Marília, a biógrafa.
Foi lá que Paulo fundou, ao lado de Rufino e Caetano, a Baianinhas de Oswaldo Cruz.
“Ficaram amigos, os três gostavam muito de música. Caetano tocava violão, Paulo estava aprendendo também, e começaram a fazer música de rancho”, diz Marília.
5 de 8 Primeiro veio a Estrada do Portela, depois surgiu a escola — Foto: Reprodução/TV GloboPrimeiro veio a Estrada do Portela, depois surgiu a escola — Foto: Reprodução/TV Globo
Canções que nasciam na linha férrea: o bloco aproveitava o trem que partia da Central do Brasil às 18h04 para compor.
“Na fila do trem ou dentro da composição, você podia pensar qual ia ser o enredo do samba, começar a construir as primeiras letras, pensar nas alas, pensar quem ia ser responsável pelo carnaval daquele ano”, explica o historiador Rafael.
Nesse trem do samba havia dois Paulos: o que descia na Estação Bento Ribeiro virou 💥️Paulo de Bento Ribeiro. O que morava em Oswaldo Cruz passou a ser chamado 💥️Paulo da Portela, por causa da estrada.
Paulo da Portela morou no número 950 daquela via, quase em frente à hoje Rua Clara Nunes. Mas o imóvel está em ruínas.
6 de 8 Casa de Paulo da Portela está abandonada — Foto: Reprodução/TV GloboCasa de Paulo da Portela está abandonada — Foto: Reprodução/TV Globo
Algumas quadras acima, resiste — toda pintada de azul — uma casa igualmente importante para a história da Portela: a da 💥️Dona Esther. Nela vive 💥️Raldomiro Meireles, o 💥️Seu Mirinho, sobrinho da dona e hoje o mais velho baluarte da Águia, com 💥️92 anos.
No quintal aconteciam grandes festas, onde o samba cresceu e se desenvolveu.
7 de 8 Seu Mirinho, mais velho baluarte da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo
Seu Mirinho, mais velho baluarte da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo
Na casa da Esther foi fundado outro bloco de carnaval, o 💥️Quem Fala de Nós Come Mosca. Quando os fundadores da Portela queriam desfilar no Centro da cidade sem ser parados pela polícia, era a licença do bloco da Dona Esther que eles usavam para poder passar.
“O Quem Fala de Nós Come Mosca era um bloco legalizado. As manifestações populares de matriz africanas não eram reconhecidas. Mas Dona Esther era uma mulher branca casada com homem negro”, descreve Rogério.
Marília destaca que foi na casa de Esther “que Paulo parou e se fez Paulo”.
8 de 8 Casa de Dona Esther foi fundamental para a história da Portela — Foto: Reprodução/TV GloboCasa de Dona Esther foi fundamental para a história da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo
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