Como vem a Unidos do Viradouro? Barreto vai erguer altar para coroar Rosa Maria Egipcíaca, a santa aclamada pelo povo
Viradouro vai contar a saga de Rosa Maria Egipcíaca, a santa não reconhecida pela Igreja, mas aclamada pelo povo — Foto: Alba Valeria Mendonça/g1 Rio
A saga de 💥️Rosa Maria Egipcíaca, da tribo Courana, na África para o Rio, escravizada aos 6 anos de idade, no século 18, daria um livro. E foi isso que ela fez: foi a primeira mulher negra do país a escrever um livro no país, onde contou seu suplício. Se em vida ela sofreu todo tipo de privação, no Sambódromo ela vai ser coroada pela Unidos do Viradouro por seu pioneirismo, força e resiliência.
A escravizada que foi considerada bruxa pela Inquisição, mas aclamada pelo povo como santa, vai ter sua história contada no enredo "Rosa Maria Egipcíaca", do carnavalesco 💥️Tarcísio Zanon. A Viradouro vai ser a sexta e última escola a desfilar na segunda-feira (20).
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Diferentemente do que se pode imaginar, Tarcísio garante que não se trata de um enredo triste. Mas que mostra a força e a resiliência de uma mulher, negra, pioneira, que sofreu, mas não desistiu de sua missão. O enredo, embora trate de uma personagem do século 18, trata de temas bem atuais, como a militância das mulheres negras.
"A história de Rosa motiva muitas outras mulheres, diante de questões atuais bem difíceis, como a negação do protagonismo feminino preto. Atualmente, existem novas Rosas por aí, que insistem em brotar nesse solo árido que é o cotidiano", disse Tarcísio.
2 de 4 Rosa Maria, a Flor do Rio, mulher negra escravizada, chamada de Flor do Rio, por ter criado um convento para meninas de rua negras, que ela cuidava como se fossem filhas — Foto: Reprodução/Tarcísio ZanonRosa Maria, a Flor do Rio, mulher negra escravizada, chamada de Flor do Rio, por ter criado um convento para meninas de rua negras, que ela cuidava como se fossem filhas — Foto: Reprodução/Tarcísio Zanon
O enredo, baseado no livro do antropólogo 💥️Luiz Mott, conta que Rosa — que foi rebatizada com nome católico ao chegar ao país — era escrava doméstica e aos 10 anos foi vendida como escrava de ganho (que prestava serviços sexuais) a 70 fidalgos e donos de minas de ouro em Minas Gerais.
"Por dez anos, ela foi escrava de ganho, período em que enriqueceu juntando pó e pedras de ouro. Mas, ao se converter ao cristianismo, entregou tudo o que tinha aos pobres. Por seu gesto, foi associada a uma santa egípcia, daí surgir o nome Rosa Maria Egipcíaca", contou o carnavalesco.
Considerada bruxa pela igreja e uma santa pelo povo — por causa de suas visões que sempre se concretizavam — foi mandada de volta ao Rio, onde sofreu os castigos da Inquisição. Ficou confinada num convento franciscano, onde, com o apoio de um padre, aprendeu a ler e escreveu um livro contando sua história de vida.
Ela também criou uma espécie de convento para meninas de rua negras, que era sustentado com doações. Ela tratava as meninas como suas filhas. E passou a ser adorada como a 💥️Flor do Rio, por sua generosidade, o que voltou a despertar a ira dos poderosos. Tanto ela quanto o padre que a apoiava foram levados para a Torre do Tombo, em Portugal.
"Vamos contar a história de Rosa cronologicamente, mas não vamos chegar até o final. A Viradouro vai realizar uma das últimas profecias de Rosa, a única que não aconteceu", contou Tarcísio.
3 de 4 Viradouro vai desfilar com um visual mais barroco para falar da vida da santa aclamada pelo povo Rosa Maria Egipcíaca — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioViradouro vai desfilar com um visual mais barroco para falar da vida da santa aclamada pelo povo Rosa Maria Egipcíaca — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
Rosa sonhou que em 300 anos o Rio seria devastado por uma inundação, para lavar os pecados de seus habitantes. Seu convento viraria uma arca, e a inundação traria uma outra arca, com 💥️Dom Sebastião — rei de Portugal morto em batalha e cujo corpo nunca foi encontrado —, com quem ela se casaria e se transformaria na rainha de um novo império brasileiro, mais rico e justo com o povo.
Será um momento de muita festa e folguedos para celebrar essa nova era, para lembrar uma santa, que, mesmo não reconhecida pela Igreja, foi aclamada pelo povo.
"No final do desfile, a gente estende um manto e coroa todas as Rosas, que têm um trabalho relevante e lutam por um mundo melhor. Vamos ter uma ala com 💥️30 mulheres negras representativas, como 💥️Djamila Ribeiro (escritora), 💥️Luana Xavier (atriz), 💥️Tânia Bisteka (diretora de barracão da Mangueira), 💥️Bianca Monteiro (rainha de bateria da Portela), 💥️Helena Teodoro (pesquisadora) e representantes de todas as escolas de samba. Ninguém sabe como era o rosto de Rosa. Então, a Viradouro vai coroar todas essas mulheres, como representantes do legado de rosa", disse Tarcísio.
4 de 4 Rosa Maria Egipcíaca, africana escravizada, foi a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioRosa Maria Egipcíaca, africana escravizada, foi a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
Místico, o carnavalesco disse que sempre faz bons desfiles quando mulheres são personagens de seus enredos ou trabalha com água, como aconteceu com as Ganhadeiras de Itapuã, em 2023, quando a Viradouro foi campeã. Tarcísio revelou que vai usar água para representar Rosa ainda menina, criada à beira de uma lagoa, onde costumava brincar, antes de ser capturada como escrava.
"Vamos fazer um desfile grandioso e emocionante, como é a expectativa de todos desde o campeonato de 2023, com uma estética mais barroca, pelo período histórico retratado. Mas sem perder a contemporaneidade do legado que Rosa nos deixou ", disse Tarcísio.
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