Portela, 100 anos: multiartista e elegante, Paulo da Portela fundou os conceitos do carnaval e morreu rompido com a escola que c

O homem cuja alcunha batizou a escola mais vezes campeã do carnaval carioca lançou as bases do desfile que conhecemos hoje, mas morreu rompido com a agremiação que criou.

💥️Paulo Benjamim de Oliveira, o 💥️Paulo da 💥️Portela, é tema do segundo capítulo da série 💥️Centenário do Samba, sobre a Águia de Oswaldo Cruz e Madureira, que o RJ1 e o g1 apresentam esta semana.

Paulo, um multiartista, já era da Portela anos antes de rebatizar a 💥️Baianinhas de Oswaldo Cruz. O primeiro capítulo da série mostrou que o apelido pegou em Paulo no “trem do samba” que saía da Central no fim do dia rumo ao subúrbio. Como havia um xará que descia em Bento Ribeiro, a turma que compunha nos vagões o apelidou com o nome da principal via do bairro: a 💥️Estrada do Portela.

Paulo da Portela tinha se mudado do Estácio para Oswaldo Cruz na década de 1930 e fez a ponte entre aqueles dois mundos.

Na Madureira rural, predominava a cultura dos descendentes dos 💥️negros bantos, vindos do Congo e de Angola. O jongo é herança deles.

Já na região urbana do Centro da cidade, da Pequena África, os 💥️iorubás, originários da Nigéria e do Daomé, eram maioria. Muitos, ainda na Bahia, pagaram pela liberdade e chegaram ao Rio livres da escravidão.

Nessa condição, andavam sempre impecáveis. Essa indumentária impressionou Paulo, que levou a elegância para a nova vizinhança.

Paulo da Portela sempre andava bem-vestido — Foto: Reprodução/TV Globo 1 de 4 Paulo da Portela sempre andava bem-vestido — Foto: Reprodução/TV Globo

Paulo da Portela sempre andava bem-vestido — Foto: Reprodução/TV Globo

💥️Jeronymo Patrocínio, baluarte da Portela, diz que Paulo andava sempre de paletó, gravata, colete e calça.

“Paulo tinha uma percepção muito grande. Ele via que aqueles homens penetravam na sociedade branca e nas outras classes sociais”, destaca 💥️Marília Barbosa, biógrafa dele.

Paulo da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo 2 de 4 Paulo da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo

Paulo da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo

O talento não era só no figurino: Paulo da Portela cantava, dançava e compunha. Para muitos estudiosos do carnaval, foi ele quem criou os fundamentos não só da Portela, mas de todas as escolas de samba.

💥️Fábio Pavão, presidente da escola, ressalta a preocupação de Paulo com o estigma das agremiações na época.

“Paulo foi grande idealizador da escola de samba, mas elas eram associadas à violência”, ensina. “Ele ia de casa em casa se responsabilizar pelas meninas para que elas pudessem desfilar”, emenda.

Paulo, segundo Pavão, ia às rádios defender o samba quando sambistas eram atacados. “Então ele vai ser o professor.”

Mas nem todo esse cuidado livrou a turma da repressão policial. Em 1935, a Baianinhas de Oswaldo Cruz já era a 💥️Vai Como Pode. No carnaval, o primeiro oficial das escolas de samba, Paulo e os companheiros foram perseguidos por um delegado que não gostou do nome — mesmo assim, desfilaram e saíram campeões.

“A autoridade entendeu, no contexto da década de 30, que Vai Como Pode não era muito adequado para representar algo oficial, reconhecido pelo poder público”, ensina Pavão.

O trio da fundação continuou firme. Paulo era o cérebro e o coração; 💥️Antonio Rufino era o tesoureiro; e 💥️Antônio Caetano, o criador dos símbolos — sobretudo a Águia.

Caetano dizia que a escolheu porque é o pássaro que voa mais alto. Já a bandeira foi inspirada pela do Japão e pelas cores do manto de Nossa Senhora da Conceição.

Bandeira da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo 3 de 4 Bandeira da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo

Bandeira da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo

Aquele azul deu o tom de um dos acontecimentos mais tristes da história do samba: o rompimento de Paulo com a Portela — e da Portela com Paulo.

Era 1941. Luis Carlos Magalhães, ex-presidente da Portela, narra:

“Paulo, 💥️Cartola e 💥️Heitor dos Prazeres vieram de trem de São Paulo. Da Central do Brasil foram direto para o desfile. Paulo quis levá-los para desfilar com uma roupa preta e branca.”

💥️Mauro Diniz, compositor e filho de 💥️Monarco, emenda a contenda:

“Quando o Paulo chegou, papai me contou, naquela época era com corda, e o 💥️Manoel Bambambam disse: ‘Paulo, você pode entrar, mas ele não vai entrar’.”

Paulo, em solidariedade, não entrou — e rompeu com a Portela.

Heitor dos Prazeres não era muito bem-visto em Oswaldo Cruz, aonde chegou trazido por Paulo da Portela. O motivo foi um samba composto por Antônio Rufino e que Heitor gravou numa rádio como se fosse dele. O costume era comum entre os bambas do Centro, mas não fazia parte da tradição de Madureira.

“É muito mais sério que uma briga por causa de camisa. Estruturalmente, é um choque de culturas. Os grandes choques são esses, banto e iorubás, cultura folclórica com a popular”, explica Marília.

Paulo morreu oito anos depois, no dia 30 de janeiro de 1949, dias antes do carnaval. Segundo a certidão, teve um colapso cardíaco.

Os jornais da época dizem que 💥15 mil pessoas acompanharam o enterro no Cemitério de Irajá.

Bustos dos fundadores da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo 4 de 4 Bustos dos fundadores da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo

Bustos dos fundadores da Portela — Foto: Reprodução/TV Globo

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