Blocos do Rio cobram desburocratização do carnaval: 'Ou então vamos todos para a clandestinidade', diz represent
Bloco Me Esquece desfila no Jardim Botânico — Foto: Fernando Maia/Riotur
Os principais organizadores da folia popular do Rio de Janeiro já estão pensando no carnaval de 2024. E a primeira bandeira levantada é a da desburocratização. Os responsáveis pelos principais blocos da cidade querem mudar o atual modelo de autorização dos desfiles.
A principal reclamação sobre o carnaval desse ano foi em relação ao número de documentos que deveriam ser entregues em diferentes órgãos públicos, segundo os representantes, em um prazo muito apertado. Para os organizadores, a burocracia desanima quem pensa em desenvolver a cultura do carnaval de rua.
Segundo 💥️Rodrigo Rezende, presidente da Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira, responsável por nove blocos que desfilam no Rio, é importante iniciar esse debate o quanto antes. Rodrigo é uma das vozes que defendem que o município precisa de um órgão centralizador para receber os pedidos e autorizar os desfiles.
Responsável pela administração de blocos como a 💥️Orquestra Voadora, Cordão do Bola Preta e Céu na Terra, Rodrigo acredita que a burocracia para confirmar as inscrições dos blocos e conseguir as autorizações de diferentes órgãos, como Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e CET-Rio, por exemplo, tem dois tipos de problemas: 💥️novos blocos se afastam e os tradicionais desanimam.
“Não há uma centralização das autorizações junto a prefeitura do Rio. O excesso de regramentos é uma característica do Brasil e os efeitos colaterais acontecem o que resultam em dois problemas: 💥️acabam muitos dos blocos tradicionais, que não querem chegar a um nível alto de profissionalização, e, novos blocos💥️ ficam fora do circuito oficial, porque se assustam com a burocracia. Ou seja, a burocracia é ruim para todos, inclusive para o próprio poder público”, comentou Rodrigo Rezende.
2 de 6 O desfile da Orquestra Voadora nesta terça-feira (21) de carnaval, no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, levantou a bandeira da inclusão — Foto: Fernando Maia/RioturO desfile da Orquestra Voadora nesta terça-feira (21) de carnaval, no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, levantou a bandeira da inclusão — Foto: Fernando Maia/Riotur
Para 💥️Rita Fernandes, presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro (Sebastiana), a relação com a Riotur precisa mudar. Segundo a representante, atualmente os blocos são obrigados a cumprir uma lista grande de exigências de vários órgãos públicos diferentes.
"Não cabe ao bloco ficar nessa gincana indo em todos os órgãos, nessa correria, com o tempo apertado. O Corpo de Bombeiros, por exemplo, tem uma nota técnica grande, uma lista de 'a a z', com uma quantidade de exigências que não tem cabimento", exemplificou.
Rita acredita que o Rio de Janeiro deveria buscar inspiração no modelo do carnaval de rua de São Paulo, que esse ano teve mais de 500 blocos desfilando em 7 dias de folia.
3 de 6 Foliã vidente se diverte no Bloco Areia — Foto: Gustavo Stephan /RioturFoliã vidente se diverte no Bloco Areia — Foto: Gustavo Stephan /Riotur
Os blocos de rua no Rio seguem o cronograma da Riotur, empresa pública municipal que organiza os desfiles. A programação oficial terminou no último domingo (26), quando 20 blocos desfilaram no último dia do carnaval 2023.
Ao todo, o poder público 💥️autorizou 💥️415 blocos, em 456 desfiles por toda cidade, contando o período do pré-carnaval e do carnaval desse ano.
A falta de planejamento antecipado também é uma reclamação constante entre os organizadores. Segundo relatos, em 2023, a empresa pública do município que cuida do carnaval de rua só começou a tratar com os blocos em dezembro.
"Em dezembro eu fiz uma reunião com a Riotur e eles já estavam atrasados. Eles estavam preocupados com o réveillon e deixaram a organização do carnaval de lado. A nova gestão chegou em dezembro, não to dizendo que a culpa é deles, realmente já não dava tempo. Mas era preciso um planejamento anterior pensando no carnaval de rua", disse Rita.
Segundo alguns organizadores, por conta dos prazos apertados estipulados pela Riotur, alguns blocos desfilaram no pré-carnaval sem a documentação regularizada.
4 de 6 Foliões se vestem de freira para curtir o Bloco das Carmelitas no Rio — Foto: Fernando Maia/RioturFoliões se vestem de freira para curtir o Bloco das Carmelitas no Rio — Foto: Fernando Maia/Riotur
Rita Fernandes disse ao g1 que o problema aconteceu com o Bloco das Carmelitas, um dos mais tradicionais do Rio. A falta de documentação adequada pode impedir que o grupo tenha acesso aos patrocínios que já estavam fechados.
"Quando o documento do Carmelitas chegou, o bloco já tinha desfilado, já tinha acabado tudo. Ela (Riotur) não pode condicionar uma autorização que depende dela própria e que ela atrasa. (...) Eu preciso dessa documentação para as leis de incentivo, que garantem o patrocínio do bloco", questionou Rita.
Rita Fernandes também lembrou da troca no comando da empresa de turismo do Rio, às vésperas do réveillon e do carnaval. O atual presidente da Riotur, Ronnie Aguiar, assumiu a cadeira em dezembro de 2022.
Para tentar mudar o modelo do carnaval de rua, os representantes de blocos pretendem se reunir com a Riotur na próxima semana.
Além disso, os blocos devem organizar ainda no mês de março um simpósio para levantar alternativas e discutir o futuro do carnaval de rua do Rio. Batizado de 'Desenrolando a Serpentina', o evento promovido pela Sebastiana pretende tratar dos seguintes assuntos:
Ainda em janeiro, os organizadores da tradicional Banda de Ipanema estavam revoltados com a burocracia apresentada pelo poder público para autorizar os desfiles do grupo.
Os responsáveis pela banda disseram que a prefeitura criou uma série de dificuldades para autorizar o primeiro dos quatro desfiles previstos da Banda de Ipanema em 2023.
5 de 6 Alegria transborda no rosto de folião vestido de palhaço no bloco Toca Raul no Rio de Janeiro neste domingo (19). retratos* — Foto: Alexandre Durão / G1Alegria transborda no rosto de folião vestido de palhaço no bloco Toca Raul no Rio de Janeiro neste domingo (19). retratos* — Foto: Alexandre Durão / G1
Por conta dos problemas para entregar toda a documentação, a banda não teve um de seus tradicionais desfiles em 2023, que aconteceria no pré-carnaval.
"Esse primeiro desfile é o mais tradicional. A Banda de Ipanema foi fundada em 1965, em um sábado, a dois finais de semana do carnaval, e desde então a gente abre a festa nessa data. Mas este ano a prefeitura não autorizou. Tem gente na Riotur que não sabe nada de carnaval! Parece que caíram de paraquedas", disparou Claudio Pinheiro.
No calendário do grupo para este ano, a ideia era poder desfilar no dia 4 de fevereiro — exatos dois sábados antes do carnaval — e nos dias 18 e 21 de fevereiro, além de um desfile voltado para o público infantil no dia 20.
Ainda no ano passado, a Prefeitura do Rio, através da Riotur, autorizou os desfiles da banda nos dias 18, 20 e 21 de fevereiro, mas negou o do dia 4.
As autorizações por si só não garantem a realização dos desfiles. Na verdade, a Riotur libera a data do desfile e pede que os organizadores entrem em contato com outros órgãos (Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Civil) para conseguir a permissão definitiva.
Na opinião de Cláudio, um dos fundadores da banda, o modelo adotado pela Riotur para o carnaval de rua no Rio não é o mais adequado. Segundo ele, o órgão público deveria cuidar dessa burocracia junto ao Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e Polícia Militar.
"Esse processo todo é problemático, não apenas conosco, mas com outros também. Todo ano é isso, as confusões com a Riotur continuam as mesmas. O processo tinha que ser simplificado. Na minha opinião, o processo tem que ser invertido. A prefeitura que deveria mandar de uma vez só para os demais órgãos competentes todas as informações dos blocos. Eles tinham que cuidar dos blocos, valorizar os blocos", disse.
Uma das batalhas dos responsáveis por blocos de carnaval do Rio é pela aprovação do Marco Civil do Carnaval, um o projeto de lei que segue tramitando na Câmara de Vereadores do Rio desde 2017.
6 de 6 Com desfile inclusivo, Orquestra Voadora arrasta grande público na Zona Sul do Rio — Foto: Fernando Maia/RioturCom desfile inclusivo, Orquestra Voadora arrasta grande público na Zona Sul do Rio — Foto: Fernando Maia/Riotur
O objetivo do projeto é legitimar os blocos de rua e propor padrões que garantam a realização dos desfiles, com segurança e a mobilidade para a população.
Caso o projeto seja aprovado em sua versão original, o carnaval de rua passaria a ser organizado por uma comissão organizadora. O grupo seria formado por representantes do município, como a Riotur e as secretarias de cultura, de saúde, de conservação e de ordem pública, além de representantes da Comlurb, CET-Rio e dos blocos e federações do carnaval.
O projeto prevê que o grupo deverá definir as regras do evento 💥️200 dias antes do próximo carnaval. Os objetivos seriam:
💥️A responsabilidade do poder público seria:
💥️Já os organizadores dos blocos seriam responsáveis por:
O autor do projeto, o atual deputado federal 💥️Reimont (PT), justificou a regulamentação em sua época como vereador do Rio. Na ocasião, ele argumentou que "o carnaval é o principal produto para alavancar o turismo e a economia do Rio".
Em nota, a Riotur informou que vai abrir um canal para sugestões "e realizar reuniões com representantes dos blocos para elaborar novas diretrizes para as inscrições do carnaval de rua 2024".
"A Riotur esclarece ainda que está aberta a toda e qualquer negociação que contribua para a realização dos desfiles de forma segura e ordeira", emendou.
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