Governo Lula recebe PIB em desaceleração, com desafio de retomar crescimento

 O presidente Lula durante comemoração dos 43 anos do PT, realizado na cidade de Brasília, DF, nesta segunda feira, 13. — Foto: MATHEUS W ALVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO 1 de 5 O presidente Lula durante comemoração dos 43 anos do PT, realizado na cidade de Brasília, DF, nesta segunda feira, 13. — Foto: MATHEUS W ALVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O presidente Lula durante comemoração dos 43 anos do PT, realizado na cidade de Brasília, DF, nesta segunda feira, 13. — Foto: MATHEUS W ALVES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já começou com o peso de uma economia em desaceleração, como mostram os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE.

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O 4º trimestre de 2022 foi o primeiro a registrar queda em relação aos três meses anteriores desde o 2º trimestre de 2023. O recuo foi de 0,2% contra a janela passada.

Apesar de ser o único resultado no campo negativo do ano — que fechou com alta de 2,9% —, trata-se do desfecho de um processo de perda de força da atividade econômica, visto trimestre a trimestre.

💥️Veja abaixo no gráfico.

Variação trimestral do PIB brasileiro — Foto: Editoria de Arte/g1 2 de 5 Variação trimestral do PIB brasileiro — Foto: Editoria de Arte/g1

Variação trimestral do PIB brasileiro — Foto: Editoria de Arte/g1

Lula tem, agora, o desafio de reverter o jogo e colocar o crescimento econômico de volta na pauta.

Há, contudo, uma junção de obstáculos a superar. Entre tantos outros, os principais: os juros altos — aqui e no mundo — que desaceleram a atividade, a falta de espaço no orçamento para estimular a economia e a falta de motor para o consumo com o alto endividamento da população.

Economistas ouvidas pelo 💥️g1 reconhecem algumas das medidas adotadas pelo novo governo como importantes para recuperar a atividade econômica, mas não veem resultados palpáveis no curto prazo para que a situação seja revertida ainda em 2023.

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O primeiro semestre de 2022 teve resultados surpreendentes até mesmo para os mais otimistas. Como mostrou o 💥️g1 em setembro, a retomada forte dos serviços alavancou a economia por conta de um efeito da demanda represada pelo consumo no setor.

Além disso, houve ajuda de incentivos ao consumo, como a liberação emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas, o aumento para R$ 600 do antigo Auxílio Brasil, e a criação de um voucher para caminhoneiros e taxistas.

São efeitos que se esgotaram ao longo do ano e assim continuarão em 2023. Em uma frente, o “efeito reabertura” perdeu força. Em outra, não há mais espaço para um aumento de gastos como o que aconteceu em ano eleitoral, promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Como não teremos o mesmo nível de estímulos fiscais e as famílias estão endividadas, o consumo de produtos deve cair, principalmente dos mais caros.”

Bar Dourados, em SP: PIB de 2022 foi impulsionado pelo setor de serviços, que reúne bares, restaurantes, salões de beleza, hotelaria e tantos outros — Foto: Fábio Tito/g1 3 de 5 Bar Dourados, em SP: PIB de 2022 foi impulsionado pelo setor de serviços, que reúne bares, restaurantes, salões de beleza, hotelaria e tantos outros — Foto: Fábio Tito/g1

Bar Dourados, em SP: PIB de 2022 foi impulsionado pelo setor de serviços, que reúne bares, restaurantes, salões de beleza, hotelaria e tantos outros — Foto: Fábio Tito/g1

Lula anunciou uma porção de medidas para reativar a economia em 2023, mas esbarra na falta de dinheiro para implementá-las. O governo já promoveu um aumento de gasto relevante e precisou gastar capital político antes mesmo de assumir o cargo para aprovar a PEC da Transição.

Mas boa parte desse aumento só deu conta de manter os R$ 600 para o benefício social, que voltou a se chamar Bolsa Família, e para recompor o Orçamento em áreas que Bolsonaro deixou sem verba no fim de governo.

Além disso, estão previstas novas renúncias de receitas com o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física — a priori para R$ 2.640. E ainda estão nos planos o aumento real do salário mínimo para R$ 1.320, por exemplo, que não saiu por estudos de acomodação do gasto extra.

Mas um exemplo claro dos gargalos é o embate entre Planalto e Fazenda no caso da desoneração de combustíveis. Instaurada no ano passado, para relaxar a inflação em ano eleitoral, a medida baixou na marra o preço da gasolina em troca de uma renúncia de receitas para o governo federal e para os estados por meio do teto do ICMS.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), travou uma batalha pela reoneração da gasolina e etanol, pois não pode abrir mão das receitas como fez seu antecessor, Paulo Guedes.

Missão principal de Haddad, o déficit público previsto a ser combatido neste ano é de R$ 228 bilhões. Só com a reoneração de gasolina e etanol, a Fazenda espera arrecadar R$ 28,8 bilhões.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Jean Paul Prates, presidente da Petrobras: semana foi de debates sobre a reoneração dos combustíveis. — Foto: Adriano Machado/Reuters 4 de 5 Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Jean Paul Prates, presidente da Petrobras: semana foi de debates sobre a reoneração dos combustíveis. — Foto: Adriano Machado/Reuters

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Jean Paul Prates, presidente da Petrobras: semana foi de debates sobre a reoneração dos combustíveis. — Foto: Adriano Machado/Reuters

Para a Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore, o governo precisa encontrar um caminho para equacionar o aumento de gastos de forma a recompor o orçamento do que estava subfinanciado enquanto cria uma regra que possa dar credibilidade à dívida pública no longo prazo — e tudo isso sem abrir mão da atividade econômica.

Magalhães reforça, porém, que pouco adianta para o governo exercer pressão para uma queda imediata da taxa de juros — ao menos quando o assunto é o resultado de crescimento de 2023.

Como mostrou reportagem desta quinta-feira no 💥️g1, os seguidos aumentos da taxa básica de juros, a Selic, feitos pelo BC desde 2023 só começaram a trazer consequências mais fortes para a economia neste 4º trimestre de 2022.

Roberto Campos Neto e Lula: para especialistas, a melhora da comunicação poderia acalmar os ânimos — Foto: Reuters/Arte g1 5 de 5 Roberto Campos Neto e Lula: para especialistas, a melhora da comunicação poderia acalmar os ânimos — Foto: Reuters/Arte g1

Roberto Campos Neto e Lula: para especialistas, a melhora da comunicação poderia acalmar os ânimos — Foto: Reuters/Arte g1

Segundo economistas, há uma defasagem entre o ajuste da taxa de juros e seu efeito na atividade. O próprio presidente Lula foi desaconselhado por aliados a insistir em um enfrentamento com o BC.

Para Juliana Trece, do Ibre/FGV, já que há um esgotamento do estímulo ao consumo, é importante que o governo dê atenção a uma agenda de competitividade e estabilização do país, para atração de investimento doméstico e externo.

“É muito difícil dar estímulo fiscal à indústria, então o fiscal é menos importante. Além de ter uma produtividade mais alta, a indústria remunera melhor e tem um encadeamento na atividade econômica, tanto para trás, na cadeia de insumos, até perto dos serviços.”

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