'Declarações de presidente ou ministro da Fazenda não vão fazer taxa de juros cair', diz Eduardo Gianetti
O economista e escritor Eduardo Gianetti da Fonseca declarou que a taxa de básica de juros brasileira não vai cair "no grito". Na avaliação dele, "é contraproducente" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), pressionarem publicamente por uma mudança da política monetária adotada pelo Banco Central do Brasil.
Gianetti também afirmou que "todos desejam" abrir espaço para que os juros caiam no Brasil, inclusive o presidente do BC, Roberto Campos Neto – alvo de críticas de integrantes do governo. "Só que isso tem de ser feito de uma maneira consistente, sólida e permanente."
Em suas críticas a Campos Neto, Lula tem apontado a dificuldade de crescimento do país com a atual taxa básica de juros, mantida em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do BC. Haddad, com tom mais ameno, disse na última quarta-feira (1) que não pressionou o Banco Central, mas que o órgão deve "fazer sua parte" para o equilíbrio da economia.
Para Eduardo Gianetti, se o governo enfrenta "de maneira grosseira" as expectativas que existem, provoca efeitos indesejáveis.
O economista, que é doutor em Economia pela Universidade de Cambridge e ocupante de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), afirmou que o embate da cúpula do Executivo com o Banco Central envolve o que ele classifica como "batalha pelas expectativas do mercado financeiro".
"Enquanto as expectativas de inflação no Brasil não começarem a cair, é muito difícil para o BC ousar uma medida unilateral de redução de juros. Nós vimos isso acontecer no governo Dilma, um erro de sinal na política monetária, que provocou enorme dano à economia brasileira", disse.
Para o economista, a volta de tributos federais sobre combustíveis é uma vitória da equipe econômica, que mostrou estar "atenta" e pretender "endereçar o grave problema fiscal que o Brasil tem pela frente".
"Nós vamos ter neste ano um crescimento expressivo da dívida pública, que não pode continuar nos próximos anos – porque vai colocar em xeque toda a política econômica do governo e a credibilidade das contas públicas brasileiras", disse.
Na avaliação de Gianetti, o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária são duas frentes que determinarão o curso dos acontecimentos na economia brasileira a médio prazo.
"É o que vai garantir de fato o espaço para que os juros no Brasil possam cair de maneira consistente. Nós temos de lembrar que vamos estar gastando algo entre R$ 650 bilhões e 700 bilhões no pagamento de juros sobre a dívida pública. É um problema da maior gravidade num país com restrições de orçamento sérias como é o nosso", alertou.
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