O mistério por trás dos sumiços de magnatas na China

Um dos banqueiros mais importantes da China, Bao Fan está desaparecido há mais de duas semanas — Foto: Bobby Yip/REUTERS 1 de 2 Um dos banqueiros mais importantes da China, Bao Fan está desaparecido há mais de duas semanas — Foto: Bobby Yip/REUTERS

Um dos banqueiros mais importantes da China, Bao Fan está desaparecido há mais de duas semanas — Foto: Bobby Yip/REUTERS

O súbito desaparecimento de um bilionário chinês colocou os holofotes mais uma vez sobre a repressão da China a empresários proeminentes. Bao Fan, um dos banqueiros mais importantes do país – que fundou a China Renaissance, em 2005 – está desaparecido há mais de duas semanas.

Em um comunicado ao mercado de ações no domingo (26/02), a China Renaissance Holdings afirmou que Bao estava atualmente "cooperando com uma investigação realizada por certas autoridades" na China.

A empresa não forneceu mais detalhes sobre o paradeiro ou as condições de seu presidente, cujo sumiço levantou preocupações sobre uma possível repressão de Pequim ao setor de serviços financeiros do país.

Após o desaparecimento de Bao, as ações da empresa listadas na Bolsa de Valores de Hong Kong caíram até 29%, antes de subirem 2,3% na segunda-feira. Alguns especialistas descrevem os desaparecimentos de empresários como "aterrorizantes". E Bao não é a única vítima.

Em setembro passado, o presidente do China Renaissance, Cong Lin, foi preso após uma investigação sobre seu trabalho na divisão de leasing financeiro do banco estatal ICBC, de acordo com a agência de notícias econômica Caixin.

"Não temos ideia sobre o paradeiro deles", disse William Nee, coordenador de pesquisa e defesa do Defensores de Direitos Humanos Chineses (DDHC). "Não sabemos se eles estão detidos em um hotel ou se estão em algum tipo de cela prisional", frisou.

Nee acrescentou que todas essas práticas ferem o Estado de direito, e a tendência de empresários proeminentes serem alvos mostra que a perseguição de Pequim não está afetando apenas dissidentes ou minorias étnicas.

Jack Ma, o homem mais rico da China, também esteve sumido por meses — Foto: Bobby Yip/REUTERS 2 de 2 Jack Ma, o homem mais rico da China, também esteve sumido por meses — Foto: Bobby Yip/REUTERS

Jack Ma, o homem mais rico da China, também esteve sumido por meses — Foto: Bobby Yip/REUTERS

Embora a comunidade internacional veja o desaparecimento forçado como um tipo de violação dos direitos humanos, alguns analistas dizem que o Partido Comunista Chinês (PCC) o vê como uma "prática padrão".

Bao não é o primeiro bilionário chinês a ser forçado a desaparecer ou preso. Nos últimos anos, cerca de meia dúzia de bilionários chineses passaram por esse processo por certos períodos. Guo Guangchang, apelidado de "Warren Buffet da China" e fundador do Grupo Fosun, desapareceu por alguns dias em 2015.

Além disso, o empresário sino-canadense Xiao Jianhua desapareceu em Hong Kong em 2017 e seu julgamento começou em julho passado.

Já em 2023, o fundador do Alibaba, Jack Ma, também desapareceu dos olhos do público por vários meses enquanto se preparava para abrir o capital de sua empresa de pagamentos digitais Ant Financial.

Alguns especialistas afirmam que a razão pela qual Pequim está tomando medidas severas contra os empresários é que eles precisam garantir que suas empresas ou práticas comerciais estejam alinhadas com as prioridades do PCC.

"Xi Jinping acredita que é assim que o sistema deve funcionar e, enquanto os empresários obtêm lucros, pagam impostos e contratam pessoas, eles também precisam garantir que seus negócios estejam alinhados com os objetivos do PCC", disse Dexter Roberts, da Iniciativa de Segurança Indo-Pacífico, do think tank Atlantic Council.

Nee, do DDHC, acrescentou que, nos casos de Jack Ma e Bao Fan, eles provavelmente foram alvos do governo chinês devido às preocupações de Pequim sobre seus negócios ameaçarem o monopólio político no poder ou ganharem controle sobre o financiamento do setor de tecnologia na China.

"O governo está tentando frear as ambições do setor de tecnologia e garantir que, embora eles queiram que essas empresas sejam bem-sucedidas, também desejam que as companhias estejam sob a orientação firme do partido", contou.

À medida que a repressão de Pequim aos empresários proeminentes continua, especialistas dizem que a tendência fará com que os investidores percam a confiança no mercado chinês.

"As prisões e condenações arbitrárias de empresários chineses podem levar os empreendedores privados a prejuízos ou fazer com que os investidores percam a confiança no mercado chinês, no futuro político da China e no ambiente de investimento do país", contou. "Muitos empresários nacionais e internacionais perderam a confiança na China e levaram o dinheiro que deveriam investir na China para outros lugares."

Roberts concorda que a tendência está criando um efeito desencorajador dos empresários na China.

"Xi Jinping e os membros do PCC acham que conseguem atemorizar os empresários enquanto os deixam fazendo negócios, criando empregos e pagando impostos", disse Roberts à DW. "Como a economia da China está em má situação, eles precisam do setor privado mais do que imaginavam."

Nee, do DDHC, acrescentou que, para os empresários chineses que possuem uma nacionalidade diferente, não há garantia de que eles serão poupados da repressão em andamento de Pequim, como mostrou o caso do empresário sino-canadense Xiao Jianhua.

"Como vemos no caso de Bao Fan, as leis e normas internacionais sobre detenção não são reconhecidas na China. O governo chinês não respeita as leis e padrões internacionais", acrescentou.

Yaqiu Wang, da HRW, acredita que a repressão de Pequim à sociedade civil irá aumentar durante o terceiro mandato inédito de Xi Jinping.

"A julgar pelos últimos dez anos do governo de Xi Jinping, a tendência de repressão se tornará cada vez mais séria", disse. "Seus métodos se tornarão mais brutais e secretos, e os direitos básicos das pessoas serão menos garantidos."

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