Sidnei Nehme: BC retoma intervenções programadas no câmbio! Mais do mesmo, dólar a R$ 4,15?
Colunista fala sobre as intervenções do banco central no câmbio
Dia 29 último o BC encerrou sua programação de intervenções no câmbio, não o fazendo no dia 30 corretamente, visto que era o dia da fixação do PTax, taxa referencial para ajuste dos contratos dolarizados e que enseja um forte embate no mercado futuro entre os “players” “comprados” e “vendidos”.
Hoje, já com nova programação anunciada, dará início a nova rotina de intervenções no câmbio diariamente ao longo do mês, “mais do mesmo” com ofertas globais de US$ 11,6 Bi de dólares no mercado a vista e na contrapartida oferta de montante idêntico de “swaps cambiais reversos”, ou seja US$ 580,0 M diários.
No mercado de câmbio brasileiro, popularmente se diz que “o rabo balança o cachorro”, ou seja o mercado futuro forma a taxa do mercado a vista, diferentemente da grande maioria de mercados mundiais, por isso que ofertando dólares no mercado à vista, para compensar a queda acentuada do fluxo cambial positivo para o Brasil nos últimos 12 meses, mas em contrapartida ofertando “swaps cambiais reversos”, o BC irriga a liquidez mas não elimina a disfuncionalidade presente no mercado totalmente e mantém a taxa do mercado “sustentável” no entorno de R$ 4,15, valor que agrega, no nosso entender, algo como R$ 0,15 cima do preço razoável para o momento.
A oferta de “swap cambial reverso” tem efeito redutório de “hedge” e desta forma alavanca a taxa de câmbio futura, provavelmente com o BC tentando evitar a disfunção da taxa “spot” superar a taxa futura, mas dada a característica principal da formação da taxa cambial no Brasil acaba por dar sustentação a uma taxa aviltada do dólar no mercado à vista.
A sustentabilidade do preço do dólar na faixa de R$ 4,15 promovida pela ação do BC, certamente permite a ilação que colocamos na última sexta-feira de uma eventual estratégia para incentivar as exportações e conter as importações, ao mesmo tempo em que poderia atrair investimentos para o Brasil, mesmo neste ambiente pouco otimista para os emergentes, pois tornaria seus preços baratos ao investidor estrangeiro, mas o que nos chama mais atenção é que o fato pode efetivamente neutralizar as expectativas a respeito de redução da SELIC.
A forte pressão existente internamente para que o COPOM reduza a taxa SELIC até 5,0%, num ambiente que já não tem convicção sobre a redução do juro americano pelo FED americano, poderá impactar no custo do cupom cambial pela maior aproximação da taxa de juro interna com a externa e gerar disfuncionalidade mais intensa, que poderia levar o BC a rever a sua estratégia de intervenção no câmbio, reduzindo-a somente a venda de moeda no mercado à vista, que entendemos seja de fato a ação mais efetiva e correta no momento, sem a oferta de swaps cambiais reversos.
O Boletim FOCUS divulgado hoje pelo BC indica nova queda do IPCA de 3,65%/3,61% para 3,59%/3,57% que é um sinal consistente de que a inflação está sobre controle, muito em decorrência do “status quo” da atividade econômica que contém repasses aos preços.
Eleva também a projeção para o PIB elevando-o de 0,80% para 0,87%, mas os dados mais recentes poderiam sugerir projeção de até 1,0%.
Em relação ao câmbio a projeção de R$ 3,85 para o final do ano nos parece atrás da curva, visto que houve mudança de patamar em razão de todo o contexto global conflituoso e com forte aversão ao risco, que nos atinge a despeito do excelente CDS que o país desfruta e do fato de não representar risco cambial dada a relevância de suas reservas, acreditamos que, na atualidade, tudo leva a crer que o preço se situará em torno de R$ 4,00, até porque não há expectativas de que o fluxo cambial para o Brasil sofra melhora intempestiva.
E, por fim, a projeção da SELIC para 5,0% ancorada na queda substantiva das pressões inflacionárias, mas que entendemos possa estar comprometida pela manutenção do preço do dólar no entorno de R$ 4,15.
Nosso ponto de vista permanece o mesmo, a ação do BC no mercado de câmbio é precisa visto que cabe ao mesmo irrigar a liquidez do mercado a vista, face à relevante queda do fluxo cambial ocorrida nos últimos 12 meses, algo em torno de US$ 30,0 Bi, e com os bancos detento posição de câmbio vendida equivalente, parcialmente financiada com linhas em moeda estrangeira com recompra fornecidas pela própria autoridade, mas que em consequência da aversão ao risco presente linhas externas podem estar sofrendo retração e encarecimento.
O ambiente interno sofreu dois “inputs” positivos, um PIB do 2º trimestre melhor do que o esperado e relativa recuperação do emprego, discretamente reconhecidos com excessivos “mas”, porém de fato até surpreenderam positivamente, e mostraram que a direção está certa, embora a velocidade seja modesta.
Setembro se inicia e não temos expectativas que o contexto global consiga avanços consolidados nos embates entre China e Estados Unidos, que causa reflexos em toda economia global, com sinais preocupantes na Alemanha de forma mais evidente, mas não deixando nenhum país imune aos seus efeitos recessivos.
Não há, no momento, perspectiva para que neste mês de setembro o preço do dólar sofra depreciação, visto que entendemos que com a anunciada estratégia de intervenção pelo BC, o preço atual deve se revelar sustentável.
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