Safra de soja do Brasil 1920 deve crescer 6,6% com aposta em clima melhor, aponta pesquisa

Soja

A recuperação das produtividades em 2023/20 seria o principal fator de aumento da safra (Imagem: Pixabay)

A produção de soja do Brasil na temporada 2023/20 deverá ser recorde, com aumento de 6,6%, à medida que especialistas apostam em uma recuperação da produtividade média após uma safra menor em 2018/19, apesar de um tempo mais seco em setembro, quando produtores em geral dão a largada no plantio.

De acordo com pesquisa da Reuters com 12 consultorias e instituições, a safra de soja do Brasil 19/20 foi estimada em recorde de 122,6 milhões de toneladas, em média, praticamente estável ante levantamento semelhante realizado no início de agosto, com alguns participantes mantendo suas previsões mensais.

Embora as projeções variem de 119,70 milhões a 125,70 milhões de toneladas, todas elas superam com folga as 115 milhões de toneladas da estimativa oficial do governo para 2018/19, ficando também acima da máxima histórica obtida em 2017/18 (119,3 milhões de toneladas).

A recuperação das produtividades em 2023/20 seria o principal fator de aumento da safra, já que a pesquisa também aponta crescimento médio de 2,3% na área plantada, para 36,70 milhões de hectares, em linha com o visto no ciclo anterior, mas bem abaixo da média da última década, de aumento de mais de 5%, com o setor cauteloso com custos com frete e a possibilidade do fim da guerra comercial EUA-China que tanto beneficiou os brasileiros em 2018/19.

“Deu um veranico em dezembro do ano passado e pegou uma parte da área de soja do Brasil, o que pelas minhas contas fez com o Brasil deixasse de colher pelo menos 10 milhões de toneladas”, disse o chefe de grãos da consultoria Datagro, Flávio França Jr..

Assim, a Datagro, que tem uma das maiores projeções da pesquisa, em 125,30 milhões de toneladas, avalia que o Brasil poderá voltar a registrar um recorde apesar de previsões de tempo mais seco neste início de plantio, que atrasará o começo dos trabalhos na comparação com 2018/19, quando o ritmo inicial foi fora da curva.

Com o plantio em velocidade histórica na temporada passada, o Mato Grosso, maior produtor brasileiro, registrou 4,3% de área plantada até 28 de setembro em 2018. Mas neste ano essa situação não deve se repetir, segundo especialistas, pois as chuvas só devem voltar no final do mês. Situação semelhante é vista no Paraná, com a maior parte das regiões registrando déficit de umidade até o final do mês, segundo dados da Refinitiv.

Entretanto, isso não está sendo visto como um problema para a soja por ora.

Segundo França Jr., a lógica deste ano é de que o plantio não seja tão rápido, voltando a ter um ritmo dentro da média, e que, quando as chuvas retornarem, elas sejam mais regulares, possivelmente garantindo boas produtividades. Contudo, ressaltou ele, anos de clima neutro costumam trazer mais nervosismo ao mercado, já que é mais difícil prever uma tendência de chuvas.

“Tivemos La Niña fraca (em 2016/17), depois clima neutro (em 2017/18), e foi a nossa melhor safra, e depois El Niño fraco (2018/19). A rigor, estamos indo para a quarta safra seguida em clima dentro da neutralidade…”, comentou.

Para a consultoria Arc Mercosul, o atraso da chegada das chuvas deverá acarretar problemas pouco relevantes para a soja, “uma vez que a janela ideal de plantio se estende até o início de dezembro para a maioria dos Estados centrais do país”.

Se a safra tiver chuvas razoáveis, é muito provável que o Brasil, maior exportador global de soja, supere com folga os Estados Unidos também na produção, já que os norte-americanos estão com colheita 2023/20 estimada em 98,87 milhões de toneladas, após problemas no plantio.

Uma das consultorias que elevou sua estimativa ante a previsão de agosto, a Cogo, citou uma reavaliação do prognóstico climático como garantia de melhores produtividades.

“Chuvas adequadas no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), baixo risco de secas extremas no Sul e encerramento do El Niño”, disse Carlos Cogo, ao explicar o aumento de mais de 2 milhões de toneladas em sua previsão, para 125,70 milhões de toneladas, a maior obtida pela pesquisa da Reuters.

Guerra comercial e peste

Enquanto o setor de soja no Brasil torce para que as melhores projeções climáticas se confirmem, as incertezas geradas pela guerra comercial China-EUA e a menor demanda chinesa pelo devastador impacto da peste suína africana no rebanho asiático mantêm o produtor na defensiva para maiores avanços de área plantada.

“Há receio sobre aumentar porque, se os EUA fizerem acordo com a China, poderá sobrar alguma soja no Brasil. Por outro lado, se não fizer, tudo o que se plantar será pouco, é uma loteria…”, disse o analista Luiz Pacheco, da T&F Agronômica.

Enquanto isso, a China dá sinais que pode atenuar as tensões da guerra comercial antes de uma nova rodada de negociações para encerrar as disputas, ao excluir alguns produtos agrícolas dos Estados Unidos, como a soja, de tarifas adicionais, informou nesta sexta-feira a agência oficial Xinhua.

“A expectativa de margens de rentabilidade apertadas em 2023/20, incerteza no cenário internacional com as negociações sino-americanas ainda indefinidas e perspectiva de queda na demanda mundial, puxada pelo surto de peste suína africana na China, desestimulam o produtor brasileiro a aumentar significativamente a área a ser plantada”, completou Daniely Santos, da consultoria Céleres.

O analista sênior de Agronegócio do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, explicou que esse ambiente de incertezas com guerra comercial EUA-China, além da tabela do preço mínimo do frete rodoviário, traz dificuldade “para quem oferta preço futuro ao produtor”.

“Dificulta a tomada de posição da trading… o que fica na mão do produtor, que ele consegue gerenciar, é o câmbio, que tem apresentado oportunidade para garantir bons negócios”, afirmou ele, em referência ao dólar, que apesar de queda recente, está acima de 4 reais.

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