Térmicas a biomassa pedem espaço em leilão de energia em análise no governo
O leilão em gestação no Ministério de Minas e Energia, previsto para março de 2023, é voltado inicialmente apenas para termelétricas a gás e carvão (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)
Usinas térmicas movidas a biomassa estão pedindo espaço para participação em um leilão de energia que o governo tem preparado para realização em 2023, no qual está prevista a contratação de termelétricas a gás e carvão para entrada em operação a partir de 2024.
A abertura é defendida como importante por empresários do setor porque quase metade das usinas à biomassa que vendem energia para distribuidoras de eletricidade verão seus contratos vencerem até 2024, disse à Reuters o gerente de bioeletricidade a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar de Souza.
Caso elas pudessem concorrer por contratos de longo prazo no leilão, que deve fechar a compra de energia por 15 anos, os usineiros poderiam realizar a manutenção necessária para permitir que as unidades gerem energia por mais tempo, além de investir em eficiência e expansão, acrescentou Souza.
“Essas usinas estão saindo de contratos longos, você vai ter que parar e fazer uma manutenção muito forte, e isso requer investimentos. Então é importante ter se possível equacionado a questão da venda da energia”, disse.
A Unica calcula que até 2024 vencerão contratos de usinas à biomassa que somam 823 megawatts médios em energia, todas elas movidas com biomassa de cana.
O leilão em gestação no Ministério de Minas e Energia, previsto para março de 2023, é voltado inicialmente apenas para termelétricas a gás e carvão, com o objetivo de substituir usinas principalmente a óleo cujos contratos vencerão nos próximos anos.
A proposta do certame foi submetida a um processo de consulta pública, no qual a Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) também pediu espaço para participação tanto de térmicas movidas com bagaço de cana quanto com outros tipos de biomassa, como de cavaco de madeira, por exemplo.
As usinas movidas a bagaço de cana têm a produção concentrada entre abril e novembro, o que vai contra o desejo do governo de contratar nessa licitação apenas usinas que possam ser acionadas a qualquer momento, mas a Cogen argumenta que esse é justamente o período de menos chuvas na região das hidrelétricas, o que faz a geração dessas usinas ser complementar, ajudando a poupar os reservatórios hídricos.
Já as usinas com biomassa de outras fontes são “despacháveis”, pois seu acionamento não está atrelado à temporada açucareira, mas a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontou em nota técnica que elas não devem participar da concorrência porque “diversos” projetos com essas tecnologias que venceram leilões anteriores não foram entregues.
A Cogen, por outro lado, argumentou que as usinas enfrentaram problemas como “fatores econômicos externos” e “dificuldades de financiamento”, e lembrou que alguns projetos eólicos e solares de licitações recentes tiveram dificuldades similares e acabaram cancelados.
Os pedidos das usinas de biomassa para participação no leilão especial voltado a térmicas ainda se baseiam em projeções de que a licitação deve atender boa parte ou até toda a demanda das distribuidoras para os próximos anos, reduzindo espaço para contratação mesmo em outros certames, disse à Reuters uma fonte da indústria.
“A demanda será pífia”, afirmou a fonte, que vê projetos de biomassa com cerca de 1 gigawatt em capacidade aptos a participar da disputa.
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