Energia sem fio citada por Bolsonaro para Roraima ainda não tem viabilidade comercial
Visita: Bolsonaro conhecerá nova tecnologia em viagem aos EUA (Imagem: Reuters/Adriano Machado)
O presidente💥️ Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que vai aos 💥️EUA no próximo mês para conhecer uma solução de “transmissão de 💥️energia elétrica sem meios físicos”, mas a tecnologia apontada pelo governante como eventual solução para problemas de suprimento em 💥️Roraima é algo distante da realidade, improvável de ser aplicada atualmente, segundo especialistas.
O Estado da Região Norte tem enfrentado dificuldades energéticas porque era abastecido principalmente por importações da 💥️Venezuela, e o projeto de um linhão de transmissão visto como saída para a situação se arrasta há anos em meio a dificuldades de obtenção de licença ambiental para início das obras.
A afirmação do presidente a jornalistas, no entanto, causou estranhamento entre especialistas, que apontaram que sistemas para transmissão de eletricidade sem fio, quando existem, são ainda experimentais e aplicáveis apenas em pequena escala.
“Em fevereiro vou estar nos Estados Unidos, vou lá visitar empresários, que são militares… vão me apresentar transmissão de energia elétrica sem meios físicos. Se for real, de acordo com a distância, que maravilha! Vamos resolver o problema de energia elétrica de Roraima passando por cima da floresta”, disse Bolsonaro mais cedo nesta sexta, cercado por apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
Arrastado
Licitado ainda em 2011, o linhão que conectaria Roraima ao sistema elétrico interligado do Brasil, do qual o Estado ainda não faz parte, não avançou mesmo após o governo Bolsonaro ter definido em fevereiro do ano passado que o empreendimento é prioritário e “de interesse nacional”.
Solução travada: linha de transmissão até Roraima enfrenta problemas de licenciamento (Imagem: Pixabay)
Especialistas do setor de transmissão de energia, no entanto, questionaram a possibilidade de uma solução inovadora como a citada pelo presidente ser aplicada no Estado, que tem população estimada de 605 mil pessoas.
O projeto atual para resolver a crise energética de Roraima prevê a construção de uma linha de alta tensão (500 kilovolts) com 715 quilômetros até Manaus (AM), orçada em 2,6 bilhões de reais, que quando concluída permitiria o recebimento de energia do sistema elétrico interligado nacional (SIN).
“Obviamente que isso é uma meta, é um sonho chegar a esse ponto. Eu sei que há pesquisas realmente nessa área, mas até onde se sabe isso está limitado a baixíssimas potências. Está muito longe de ser o que é necessário (para Roraima)”, disse à Reuters o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ruy Carlos Ramos de Menezes.
“Certamente é uma coisa para o futuro, tudo indica que haverá (a tecnologia). Agora, a preocupação com Roraima imagino que seja muito mais imediata. Achar que essa tecnologia é solução para o linhão é realmente um disparate”, acrescentou.
Experimental
O professor Dorel Ramos, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que só conhece aplicações comerciais que conseguem evitar a construção de subestações de energia com o uso da chamada indução para alimentar pequenas comunidades, mas ainda assim é necessária uma linha de transmissão.
“Isso existe há muito tempo, mas é muito restrito a questões específicas. Não é uma transmissão sem fio ampla, geral e irrestrita… Roraima é um Estado, não é uma pequena carga, e ‘sem meio físico’ é forma de falar. Simplesmente você evita fazer uma subestação, mas se não tem uma linha de transmissão de alta tensão você não consegue fazer nada”, afirmou.
Isolados: Boa Vista, capital de Roraima, depende da energia fornecida pela Venezuela (Imagem: Salles Neto/Wikipedia)
“Não sei se é disso que ele está falando, não sei se tem outro tipo de tecnologia, mas que eu saiba não tem nada… solução que existe para grande escala é com fio.”
Um terceiro especialista, que atua em uma grande empresa de transmissão de energia, afirmou que já teve contato com pesquisas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) sobre transmissão de energia por meio de raios laser, mas ressaltou que isso ainda está longe de ter aplicações de grande porte.
Ele afirmou ainda que o tema é discutido há anos, sempre com expectativas de avanço que acabam não se confirmando na prática.
“Atualmente o que existe é experiência de baixa potência e curta distância. Não é nada para se ter esperanças de curto prazo”, disse ele, que não quis ter o nome publicado para evitar polêmicas. “Acredito que houve um mal-entendido”, afirmou, sobre as declarações de Bolsonaro.
Pouco antes de comentar a suposta nova tecnologia de transmissão, Bolsonaro admitiu desconhecer muitos assuntos e disse que sempre consulta seus assessores.
Caneladas
Ele ainda alfinetou a ex-presidente Dilma Rousseff. “A Dilma entendia de economia”, afirmou, em referência ao fato de o governo da petista ter sido encerrado com um processo de impeachment em meio a uma recessão histórica no país, superada apenas em 2017.
Após essa fala, e antes de Bolsonaro comentar sobre a possível solução inovadora de transmissão sem meios físicos, um apoiador do presidente brincou, lembrando quando Dilma fez comentários, ironizados à época, sobre a falta de tecnologia para “estocar vento”, em referência à intermitência da geração eólica.
Problema caro
O presidente Bolsonaro, ao falar sobre a situação energética de Roraima, lembrou ainda que o isolamento do Estado do sistema elétrico nacional tem gerado enormes custos para manter termelétricas que garantem a oferta local de eletricidade.
“Todo mundo paga aqui por ano mais de 1 bilhão de reais de subsídio porque não pode passar a linha”, disse.
O custo do combustível para as térmicas que abastecem Roraima é repassado para todos os consumidores de energia do país, por meio da cobrança de um encargo na conta de luz.
O linhão de eletricidade que acabaria com necessidade dessas usinas está sob responsabilidade de um consórcio entre a estatal Eletrobras Eletronorte e a privada Alupar.
O empreendimento, no entanto, não obteve licença de instalação até hoje, em meio a dificuldades causadas ao processo de liberação devido à passagem de um trecho de 122 km da linha pelas terras dos indígenas Waimiri-Atroari.
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