Provocações do Brasil e recessão nos EUA podem levar Pequim a comprar mais carne americana
Carne bovina dos Estados Unidos pode ser cada vez mais realidade nas mesas chinesas (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)
Qual a ligação que pode haver entre o movimento contínuo de queda do mercado futuro do boi nos Estados Unidos e o atiçamento dos ânimos chineses contra o Brasil?
O ponto de ligação é o fustigamento dos brios chineses pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, e antes pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), culpando o país pelo surgimento e expansão da pandemia. Pequim tratou de manifestar sua irritação junto ao governo Bolsonaro e pelas redes sociais.
A leitura, mesmo que possa parecer especulativa, não deve ser desprezada: a queda da economia americana é favas contadas, vai sobrar mais boi e a China pode aproveitar para comprar mais de lá e cortando importações daqui, usando como arma contra o Brasil.
A sobra de animais bate no contrato de junho na Bolsa de Chigado, CBOT, que caiu de US$ 96,32 o centun weight (unidade de medida referência nos Estados Unidos) para perto de US$ 80,00 em uma semana – nesta terça (7) sobe em ajuste de 4,90% -, enquanto o abril, antes que saísse da tela, semana retrasada, também havia perdido muito vigor.
O quadro da uma ideia da retração que passa a maior economia do mundo e os riscos evidentes de recessão com o alastramento severo do coronavírus, segundo algumas análises, apesar trilionária da irrigação de economia prometida pelo governo Trump. Também há notícias de frigoríficos parando.
Tudo somado abre mais espaço para desova de animais no mercado chinês, já que também o acordo comercial cortou as tarifas proibitivas que deixaram a carne americana praticamente dois anos fora daquele mercado, concorda o vice-presidente da Associação Nacional da Pecuária de Corte (ANPC), Sebastião Guedes.
Ele agora se manifesta estupefato com o nível de atrito que o Brasil cria com o maior comprador de carne e soja do Brasil, dando mais munição para alguma forma de retaliação. Lembra-se, ainda, que há vários frigoríficos nacionais esperando habilitações que correm o risco de postergação mais longa ou mesmo não serem liberados.
O ex-embaixador Rubens Ricupero e o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Andrew Tang, já alertaram também para o fato de possíveis retaliações.
“Estou muito preocupado”, lamenta Guedes, até recentemente presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina, diretamente gerida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
As compras chinesas de carne bovina brasileira melhoraram no mês passado, ajudando a superar as expectativas do total de exportações (122 mil toneladas) para 125 mil/t. Mas o movimento de expansão ao país asiático não está consolidado totalmente.
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