Canavieiros temem queda brusca no valor da cana e renegociação nos contratos fixados
Recuo acentuado dos preços do etanol nas usinas é o principal responsável pela crise que ronda setor (Imagem: Pixabay)
O cenário de preocupação da sucroenergia começou a se desenhar mais fortemente na segunda quinzena de março, quando a gasolina passou a oferecer maior concorrência ao etanol e o açúcar entrou na trajetória de derretimento. Tudo pelo petróleo em baixa, alinhado a uma economia global em recuo com a pandemia moendo o consumo.
Depois que a Unica, que reúne as usinas do Centro-Sul, passou a insistir com pedidos de ajuda do governo, o alarme chegou para valer nos canavieiros.
Porque redução do ATR (Açúcar Total Recuperável), que baliza os preços da matéria-prima, deverá cair em abril, para os produtores independentes que ainda são pagos por essa variabilidade mensal, e também deve-se esperar que os contratos a preços fixados possam tentar ser renegociados pelas unidades compradoras.
Apolinário Pereira da Silva, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana da Região Oeste Paulista (Afcop), não se surpreenderá se o ATR cair do R$ 0,6579/kg de março para em torno dos R$ 0,50. Destaca-se que o valor é negociado no Consecana, colegiado setorial, mas com forte peso das usinas nas decisões.
Não longe da região de Valparaíso, base da Afcop, em Penápolis o ambiente é preocupante ante um cenário no qual várias usinas estão procurando os fornecedores e teme-se que vão propor um abatimento nos preços da cana contratada antes a preço fixado de R$ 70,00 a R$ 75,00 a tonelada.
Renegociação
“Pedimos mais uns 30 a 40 dias para termos essa conversa para vermos como estará a situação da pandemia e da economia”, diz Nelson Peres, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana do Noroeste Paulista (Norplan). Nessa região, Peres estima em 80% dos produtores com contratos pre-fixados.
A situação é mais temerosa pelas circunstâncias próprias desde início de safra no Centro-Sul. Em abril e maio, o grosso da cana que entra nas usinas é de cana própria, na maioria das usinas mais verticalizadas. É cana mais barata em custos. Portanto, uma queda nos valores agora vai carregar cotações achatadas para quando começar a entrar mais a cana de fornecedores.
Só que segundo a Afcop e a Norplan esta era uma safra que se mostrava muito favorável, com um volume menor de matéria-prima das usinas, e com demanda maior pela dos produtores independentes. “E temos uma cana nova”, aponta Pereira da Silva, mostrando que os produtores investiram, o que eleva a produtividade desta safra bem acima das 80 toneladas por hectare.
Além disso, a qualidade estava assegurada. “Mas com os preços do etanol e do açúcar em queda, o valor final do ATR vai cair”, afirma Nelson Peres.
Várias usinas estão com operações comprometidas e outras até atrasando. E o presidente da Norplan, apesar de preocupado com os produtores, também entende o lado das indústrias. Ele acha que a tonelada a R$ 75,00 a ser paga nos contratos pré-fixados não fechará as contas de muitas usinas.
Ainda há particularidades de usinas em recuperação judicial, em casos não solucionados em relação a pagamentos não honrados com fornecedores. É o caso da Madu, em Promissão, do grupo indiano Renuka, que iria começar a moer na segunda quinzena de abril.
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