“Teremos problemas nos hospitais se população não se isolar”, diz Uip

David Uip

Após o final de semana, a taxa de isolamento social em São Paulo voltou a ficar abaixo dos 50%, valor que preocupa muito o governo paulista (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do 💥️Coronavírus em 💥️São Paulo, disse hoje (5) que os hospitais do estado poderão enfrentar muitas dificuldades, no prazo de um mês, se as pessoas não seguirem a recomendação de ficarem em casa.

“Vamos ter enormes dificuldades, no prazo de um mês, se o número [de isolamento] não for superior a 50%. E me refiro a leitos disponíveis em toda a rede, especialmente dos leitos de UTI [unidades de terapia intensiva]”.

Após o final de semana, a taxa de isolamento social em São Paulo voltou a ficar abaixo dos 50%, valor que preocupa muito o governo paulista.

Ontem, o isolamento no estado ficou em 47%, bem abaixo do valor considerado satisfatório pelo governo, entre 50% e 60%. A taxa considerada ideal, para evitar a propagação do vírus e evitar um colapso nos hospitais, é acima de 70%.

“Não é possível trabalhar com esse número. O número mínimo de 50% constantemente não vem sendo atingido. Precisamos melhorar isso todos os dias”, disse Uip.

Segundo ele, o governo paulista tem trabalhado para criar novos leitos no estado.

Mas se a população não fizer sua parte, ficando em casa, a doença vai se espalhar muito e tornar difícil o tratamento de todas as pessoas que precisarem de um hospital.

“A população precisa estar convencida de que esta é a única forma de darmos conta da assistência aos pacientes do estado de São Paulo”.

Escolhas

De acordo com Uip, o aumento da ocupação de leitos no estado de São Paulo, principalmente de UTIs, pode obrigar o médico e os profissionais de saúde a precisar decidir sobre que paciente atender e que paciente rejeitar.  A taxa de ocupação de leitos na Grande São Paulo já chegou a 86% hoje.

“Não tem nada mais constrangedor para um médico da linha de frente escolhas: quem vai e quem não vai, quem tem direito ao aparelho ou quem não. O estado de São Paulo trabalha muito fortemente para que seus profissionais da área da saúde, em nenhum momento, tenham que fazer essa opção. Mas reforço que isso tem duas responsabilidades: uma de estado e outra da sociedade. Por mais que os secretários municipais [da saúde] criem leitos e importem respiradores, se não houver preocupação e responsabilidade da população, isso vai ficar muito difícil”, falou.

No Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, já foi elaborado um protocolo de atendimento e prioridades para caso ocorra um colapso e não seja possível atender todos os pacientes.

“No Hospital das Clínicas desenvolvemos um protocolo para essas situações. E existe uma categorização para a escolha de definição dessas situações. Isso foi apresentado para o Conselho Regional de Medicina, que referendou esse tipo de abordagem. Mas felizmente, não precisamos [usar esse protocolo]. Aqui em São Paulo não chegamos a esse ponto e esperamos nunca chegar porque é uma situação muito e muito desgastante para todos”, falou Carlos Carvalho, diretor da divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas.

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