Thiago Veras: 10 anos de aprendizagem sobre diversidade e inclusão
“Uma data necessária no calendário para lembrarmos o quanto ainda precisamos evoluir na ampliação da diversidade e da inclusão nas empresas”
Hoje, dez anos depois de me assumir gay, em uma jornada de autoconhecimento profundo, sinto uma vontade genuína de ofertar um pouco dos meus aprendizados com mais pessoas. Talvez você não encontre nada novo aqui, mas ficarei feliz em saber que pelo menos tentei ajudar na iluminação da consciência de alguém ou ser um porta-voz para outros.
Decidi falar sobre esse momento da minha vida porque estamos no mês da celebração do orgulho LGBTQ+. Uma data necessária no calendário para lembrarmos o quanto ainda precisamos evoluir na ampliação da diversidade e da inclusão nas empresas.
Tal como o processo de cortar uma cebola, assumir a minha orientação sexual tem sido entrar em contato continuamente com camadas mais profundas da minha identidade. Há dez anos eu dei o primeiro passo e, finalmente, me assumi na minha integridade de ser um homem gay. Costumo lembrar desse momento como um ato de fé e coragem. Afinal, viver na contramão da orientação que me foi apresentada como a “certa” era aceitar que o caminho à frente seria de muitas provações em variados aspectos.
Uma primeira camada a ser retirada foi para o núcleo mais íntimo das minhas relações — família e amigos. O que poderia ser fácil, para mim não foi. Era difícil e contraditório na minha cabeça não saber qual seria a reação das pessoas que mais amo no momento em que eu contasse. Felizmente, a cada conversa, sentia o reforço de que estava acompanhado da melhor família e dos melhores amigos que eu poderia ter.
A segunda camada foi no trabalho. Como seria para os meus colegas ao contar? Eu enfrentaria alguma dificuldade, ainda que inconsciente, de conseguir me desenvolver e crescer na minha carreira? Quais as perguntas que poderiam surgir? Eu realmente estava pronto para falar abertamente sobre a minha vida afetiva? Eram tantas perguntas, eram tantos receios. E, felizmente, nessa dimensão da vida, também pude estar cercado de pessoas que me amavam e que me acolheram com muito carinho.
“Enquanto existir o medo de habitar os nossos corpos, por sermos verdadeiramente quem somos, precisaremos desses espaços no calendário para lembrar que há muito o que (des)construir” (Imagem: Unsplash/@jordanmcdonald)
A terceira camada foi quando eu finalmente consegui falar para um desconhecido ou familiar distante sobre a minha vida afetiva. Você tem namorada? Você está solteiro? Qualquer pergunta dessa natureza me levaria inevitavelmente à resposta sobre a minha orientação. Confesso que ainda hoje sinto um leve frio na barriga ao responder. Talvez as minhas viagens de Uber tenham sido o meu maior laboratório ao me despir dessa camada.
E por que decidi trazer a minha linha temporal para falar sobre o tema? Porque ela me mostra exatamente as dificuldades e medos que tive ao longo de toda a minha vida. Se você não habita um lugar de “ser diferente” do que é considerado um padrão, provavelmente não conseguirá enxergar as nuances do preconceito e as dores que ele pode causar no outro. Não por falta de empatia, mas pelo simples fato de não ter sentido essa experiência na pele.
E, aqui, retomo a importância da semana do orgulho LGBTQ+. Como a nossa sociedade é edificada sobre padrões de dominância, o mundo se move a partir dessas referências. E, por isso, quem está fora desse padrão tende a vivenciar na pele muito mais o preconceito.
Quando olho para a minha própria história, vejo como fui privilegiado por ter a família, os amigos e as experiências nas empresas por onde passei. Tudo poderia ser ainda mais difícil se tivesse mais características de não dominância.
E, consciente dos meus próprios privilégios, meu convite aqui é para refletirmos sobre a perspectiva do que é viver a partir do lugar do outro. Imagina quanta energia tive que investir para fazer coisas tão simples? Quantas coisas deixei de fazer para não me expor ao preconceito? Quantas vezes preferi não falar para não chamar a atenção? Quantas vezes agi pelo medo e não pela alegria? Quantas, quantas, quantas vezes?
Que esta semana sirva para pensarmos como podemos transformar o mundo em um lugar mais inclusivo, onde as pessoas possam se expressar genuinamente, sem o temor do preconceito. Enquanto existir o medo de habitar os nossos corpos, por sermos verdadeiramente quem somos, precisaremos desses espaços no calendário para lembrar que há muito o que (des)construir.
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