Crise torna carne bovina luxo para milhões no Brasil
O Brasil já é o maior exportador de soja, carne bovina, frango, açúcar, café e suco de laranja (Imagem: Marcello Casal JrAgência Brasil)
Morando nos arredores de Cuiabá💥️, Carlos Ferreira está cercado por gado em algumas das pastagens mais ricas do 💥️Brasil. No entanto, ele não pode mais pagar por um bife.
Carlos comia carne regularmente. Mas, quando a cidade decretou o fechamento do comércio, ele perdeu o emprego em uma floricultura e como motorista do💥️ Uber. Agora, ele e sua esposa desempregada precisam contar com a ajuda do governo e de parentes.
“Antes de eu perder o emprego, podíamos comer bife quase todos os dias”, disse ele, que é graduado em educação física. “Agora temos o suficiente para frango, ovos e, às vezes, peixe barato”.
Com terras agrícolas cobrindo uma área aproximadamente do tamanho do Texas, o Brasil desempenha um papel cada vez mais importante na alimentação do mundo.
Mas, depois que o país se tornou o epicentro de casos de 💥️coronavírus e mais de um milhão de empregos formais foram perdidos, mais brasileiros como Carlos estão lutando para colocar comida na mesa. O impacto no comportamento do consumo pode durar anos.
A ironia é que o agronegócio está crescendo no país.
O Brasil já é o maior exportador de soja, carne bovina, frango, açúcar, café e suco de laranja. Uma combinação de safras recordes, forte demanda global e queda na moeda local significa que 2023 será o melhor ano até agora para o setor.
O governo espera que a receita agrícola cresça 8,5%, para recorde de R$ 704 bilhões. O que tem contribuído para impulsionar a demanda é uma lacuna de oferta de proteína deixada depois que a peste suína africana dizimou o rebanho de suínos da China.
Mas a indústria é dominada por grandes empresas que possuem forte foco nas exportações. Ações da 💥️JBS (💥️JBSS3), 💥️Minerva (💥️BEEF3) e 💥️Marfrig (💥️MRFG3) se recuperaram nos últimos meses, juntamente com o Ibovespa.
“O agronegócio de exportação está indo muito bem, mas a parte focada para o mercado interno está sofrendo bastante”, disse Paulo Sousa, que comanda as operações da Cargill no Brasil, na semana passada.
“É notado o contingenciamento de gastos pelo consumidor. Em alguns casos, estão reduzindo drasticamente o consumo”.
O acesso a alimentos em países em desenvolvimento como o Brasil era desigual muito antes do Covid-19. Mas a pandemia está aprofundando o abismo e exacerbando a insegurança alimentar para pessoas de baixa renda no país, incluindo 38 milhões de trabalhadores informais com pouco acesso a crédito ou ajuda estatal.
Para piorar, os alimentos estão ficando mais caros graças à forte demanda por exportação e a uma onda inicial de compras por pânico de escassez quando o surto começou, informou o Departamento de Agricultura dos EUA em um relatório sobre o Brasil na semana passada.
💥️Alimentos foram a única categoria que registrou inflação nos primeiros quatro meses do ano, segundo o IBGE.
O consumo de cortes de carne mais caros, laticínios e alguns produtos à base de culturas, como açúcar em bebidas, caiu no Brasil desde que as medidas de isolamento começaram em meados de março.
O impacto no consumo de carne bovina só aumentará, de acordo com 💥️Thiago de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em💥️ Economia Aplicada da Universidade de São Paulo, ou Cepea.
Depois de passar dos cortes de primeira para os de segunda, muitos brasileiros provavelmente substituirão parte ou todo o seu consumo de carne bovina por proteínas mais baratas, como a de frango.
A demanda, atualmente suportada pela ajuda emergencial governo, deve cair quando o auxílio terminar nos próximos meses, disse ele.
O consumo de cortes de carne mais caros, laticínios e alguns produtos à base de culturas, como açúcar em bebidas, caiu no Brasil desde que as medidas de isolamento começaram em meados de março (Imagem: Unsplah/@joseignaciopompe)
“As classes mais baixas, D e E, que não têm mais opção de migração, podem sair do mercado de carne, limitando o consumo de proteínas a ovos ou processados de valor agregado menor, como salsichas”, disse ele.
O consumo de carne bovina no Brasil & o💥️ terceiro maior do mundo- deve cair 10% este ano, com a crise econômica diminuindo o poder de compra e o isolamento restringindo o segmento de food service, disse Cesar de Castro Alves, consultor agrícola do Itaú BBA.
A demanda por frango e carne suína não aumentará o suficiente para compensar a queda na carne bovina, o que significa que o consumo dos três tipos de proteína deve cair 2% em 2023, disse ele.
Além disso, o histórico de crises econômicas no país mostra que as mudanças no consumo podem perdurar. Os brasileiros estão comendo menos açúcar e carne bovina do que em 2014, um ano antes da pior recessão do país, disse Felipe Novaes, economista da Tendencias Consultoria.
A demanda por frango e carne suína não aumentará o suficiente para compensar a queda na carne bovina, o que significa que o consumo dos três tipos de proteína deve cair 2% em 2023 (Imagem: Unsplash/@christinhumephoto)
E a dor causada pela crise deste ano pode estar apenas começando.
“Recebemos no início de junho a última ajuda mensal do governo”, disse Carlos. “Não sabemos se essa ajuda continuará. Até agora, não temos renda para julho.”
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