Mau hálito garante royalty perpétuo a acionistas do Listerine
A J&J comprou a divisão de produtos de consumo da Pfizer em 2006 (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)
Uma raridade foi a leilão: um investimento que trará ganhos enquanto as pessoas se preocuparem com o mau hálito.
Até terça-feira, serão aceitos lances por uma fatia dos royalties garantidos pelas vendas de enxaguante bucal Listerine.
O esquema é consequência de contratos assinados há 140 anos pelo inventor do produto e ainda estudados nas aulas de direito comercial, que obrigam o fabricante — atualmente a 💥️Johnson & Johnson — a pagar os acionistas em perpetuidade.
Esse grupo de acionistas já incluiu a Arquidiocese de Nova York, o Exército da Salvação e o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie.
“É um contrato que estabelece que esses royalties precisam ser pagos enquanto o Listerine for vendido”, explica Gary Young, cofundador da Royalty Exchange, que está organizando o leilão de uma única ação. “É um contrato maluco”.
Em tempos de pandemia de 💥️coronavírus, em que alguns investidores não encontram porto seguro, a Royalty Exchange aposta que a compra de uma fatia do famoso tratamento para halitose pode atrair muitos interessados. Mais de 110 lances já foram apresentados e o preço passou de US$ 340.000.
A fatia que está à venda resultou em pagamento de apenas US$ 32.000 no ano passado. No entanto, o pagamento continuará enquanto o Listerine “matar germes que causam mau hálito”, como diz o slogan da marca.
No crescente mercado global enxaguantes bucais e dentais, que movimenta US$ 5,2 bilhões, o Listerine é de longe o líder, com 37% de participação no ano passado, segundo a firma de pesquisas Euromonitor International.
De acordo com Melissa Munoz, porta-voz da J&J, o enxaguante bucal já foi usado por mais de 1 bilhão de pessoas em mais de 85 países.
É também uma clássica história de negócio bem sucedido nos 💥️EUA. “Eles criaram uma doença que ninguém sabia que tinha e desenvolveram uma cura”, disse o historiador de medicina Leonard Vernon.
A fórmula do Listerine foi inventada por Joseph Lawrence, médico de St. Louis que originalmente comercializou o produto para tratar caspa e gonorreia.
Ele quis desenvolver um antisséptico depois de ouvir o famoso médico britânico Joseph Lister, que descobriu que os desinfetantes poderiam reduzir infecções pós-cirúrgicas.
Lawrence não estava conseguindo vender o Listerine por conta própria, então vendeu a fórmula a um farmacêutico chamado Jordan Wheat Lambert em troca de pagamentos de royalties com base nas vendas.
A fórmula do Listerine foi inventada por Joseph Lawrence, médico de St. Louis que originalmente comercializou o produto para tratar caspa e gonorreia (Imagem: Facebook/Listerine)
O acordo original era de US$ 20 por lote de 144 frascos, depois reduzido para US$ 6 por lote. Hoje está em US$ 6 sobre determinado volume de líquido vendido, já que as embalagens vêm em tamanhos diferentes, de acordo com Young.
A empresa de Lambert fez uma fusão com a Warner-Hudnut em 1955 e passou a se chamar Warner-Lambert. A nova companhia moveu um processo para cessar o pagamento dos royalties, que totalizavam US$ 1,5 milhão por ano. O argumento foi que o contrato se baseava em um segredo comercial — a fórmula do Listerine — que já não era mais segredo. A decisão judicial de 1959 ainda é ensinada a estudantes de direito.
O juiz discordou, afirmando que a obrigação de continuar os pagamentos era “clara na linguagem dos acordos e implícita em seus termos”.
A Warner-Lambert foi comprada pela Pfizer em 2000. A J&J comprou a divisão de produtos de consumo da Pfizer em 2006.
Durante todo esse tempo, os royalties foram pagos mensalmente sobre as vendas nos EUA e trimestralmente sobre as vendas globais. Atualmente, os herdeiros de Lawrence dividem cerca de metade dos royalties, disse Young.
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