Presidente do Citi na América Latina vê chance de volta de conflitos sociais
Barril de pólvora: para Citi, coronavírus aprofundou desequilíbrios na América Latina (Imagem: Reuters/Mike Segar)
Mais repercussões da pandemia da Covid-19 estão reservadas para a 💥️América Latina, incluindo a possibilidade de aumento do desemprego e da volta de conflitos sociais, disse o presidente do 💥️Citigroup para a região.
Muitas empresas no México, por exemplo, “não ajustaram sua força de trabalho ao novo nível de demanda”, exceto nos setores de turismo e aviação, disse Ernesto Torres Cantú em entrevista virtual com jornalistas da Bloomberg. Esses cortes de empregos provavelmente ocorrerão no próximo ano, disse ele.
Em outros países, a crise decorrente da Covid-19 intensificou problemas que já vinham se agravando. “Tivemos conflitos sociais no Chile, Colômbia, Equador, Haiti”, disse ele. “E a pandemia torna mais agudos os motivos dessas manifestações, com a crescente desigualdade, então podemos ver um ressurgimento disso.”
A economia da América Latina provavelmente sofrerá mais do que a de muitas outras regiões com a pandemia, já que a demanda por commodities diminui e as medidas de estímulo de governos têm sido insuficientes em muitos países.
O Produto Interno Bruto da região deve encolher cerca de 6,5% este ano, com o México tendo uma queda ainda maior, de 10%, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Isso se compara à contração de 3,9% que os economistas prevêem para a economia global.
Em resposta, o Citigroup está estendendo prazos para pagamentos de dívida e aumentando as reservas no México, de acordo com Torres Cantú. Ele disse que o Citigroup espera uma taxa de inadimplência mais alta em empréstimos de pessoas físicas no primeiro semestre do próximo ano.
Segundo Torres Cantú, as medidas de estímulo fiscal do governo do México representam menos de 0,1% do PIB do país, um nível que está “penalizando” a economia.
“É bom ter disciplina fiscal, e isso quase sempre é verdade & exceto durante uma pandemia”, disse Torres Cantú, que foi presidente do Citibanamex, subsidiária do Citi no México, de 2014 até assumir como presidente da América Latina no ano passado no lugar de Jane Fraser. Ela foi primeiro promovida a presidente e chefe do banco de consumo global e assumirá como presidente executiva global do Citigroup em fevereiro.
O Citigroup aumentou as provisões para perdas com empréstimos em duas vezes o exigido por lei no México e reduziu os empréstimos, disse Torres Cantú. O banco detém uma participação de mercado de cerca de 40% em cartões de crédito no país, único lugar da América Latina onde o Citi permanece no varejo, pois tem “a escala necessária para competir”, segundo Torres Cantú.
Muitos analistas defendem que o Citigroup venda suas operações no México, onde possui a maior rede de agências: 1.406 locais contra 687 nos EUA. O banco está chegando ao fim de um plano de quatro anos para investir US$ 1 bilhão em seus negócios por lá.
Já os bancos corporativos e de investimento do Citigroup na América Latina estão apresentando um bom desempenho, porque as grandes empresas têm “dinâmicas diferentes”, disse Torres Cantú.
“Elas entraram na crise com balanços sólidos e terão muitas oportunidades de aquisições de médias e pequenas empresas que não aguentarão muito tempo com a crise do jeito que está”, disse. Isso deve desencadear uma aceleração nos negócios de assessoria de fusões e aquisições e de banco de investimento como um todo.
O executivo de 56 anos disse que embora a pandemia provavelmente signifique que muitos funcionários continuarão trabalhando em casa, os executivos de banco de investimento sempre precisarão realizar reuniões presenciais com seus clientes.
“Para criar a cultura de uma empresa, para aprender com seu chefe, você precisa de encontros presenciais”, disse Torres Cantú, que começou em 1989 como executivo de banco de investimento no Banamex, o banco mexicano que o Citigroup comprou em 2001. “No Zoom, você termina a reunião e não há conversa, você simplesmente vai para a próxima.”
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