George Wachsmann: Fluxo estrangeiro e o smart money fazem a festa
Contratempo: julgamento de impeachment de Trump no Senado atrasará aprovação de pacote trilionário de Biden (Imagem: Facebook/ Joe Biden)
Bom dia, pessoal!
As Bolsas abrem caindo na Europa, mesmo depois de o PIB de novembro do Reino Unido ter vindo melhor do que o esperado – a economia encolheu porque havia restrições, mas as pessoas aprenderam a se adaptar. Alta de casos na Alemanha, toque de recolher na França e instabilidade política na Itália começam a falar mais alto do que a expectativa de aprimoramento gradual das condições econômicas. Os futuros de Wall Street também amanhecem em queda, na véspera do início da temporada de resultados com os bancos americanos. O Brasil, porém, tem conseguido se descolar consecutivamente do exterior, podendo reproduzir o movimento hoje. A ver…
💥️Vaivém de Brasília e caos em Manaus
Na expectativa da aprovação da Anvisa para o uso emergencial da CoronaVac e outras vacinas na lista, os mercados passam a tentar, ainda de maneira tímida, precificar uma normalização no Brasil. Existe uma chance elevada de segunda onda no Brasil, a começar com o caso de Manaus – a capital havia sido colocada em lockdown, mas manifestantes brigaram para que a medida fosse revogada. Ora, ela de fato o foi e agora a cidade em estado de caos social. É uma tragédia – não há mais leitos para internação e falta oxigênio.
O Ibovespa tem acompanhado a continuidade de entrada de capital estrangeiro, com o posicionamento na Bolsa pelo smart money, que sustenta os preços em alta e ajuda a derrubar o dólar. As intrigas em Brasília, que colocaram Bolsonaro contra o presidente do Banco do Brasil, parecem ter arrefecido depois de conversa com Roberto Campos Neto – é um vaivém infernal, e olha que nem chegamos às eleições da Câmara ainda (ali o negócio vai pegar fogo). Aparentemente, André Brandão ficará no comando da instituição, mas, que gerou um mal-estar tremendo, gerou.
💥️Estímulos para todo o lado
O presidente eleito dos EUA, Biden, anunciou ondem (14) à noite, em linha com o esperado, um ambicioso plano de cerca de US$ 1,9 trilhão em estímulos fiscais. Entre as medidas, podemos destacar o apoio aos governos estaduais, o aumento do salário-mínimo e o aumento dos pagamentos diretos aos cidadãos americanos. De qualquer forma, como o pacote é gigantesco, se apenas parte do estímulo for aprovado, impulsionará a economia dos EUA, com efeitos mais notáveis no segundo trimestre – vale destacar que, por enquanto, os mercados gostam de estímulo, mas em algum momento o déficit começará a ser mais importante do que o impulso na economia.
Paralelamente, o presidente do Fed, depois de uma semana de preocupações sobre a política monetária, indicou cautela ao tratar redução da compra de títulos e aumentar a taxa de juros, sinalizando manutenção do viés expansionista. Como a economia dos EUA tem capacidade ociosa significativa e, pragmaticamente, o nível de compra de títulos deve ser ditado pelo nível de demanda de liquidez na economia, existe espaço para que a autoridade monetária continue exercendo sua força titânica – o movimento, claro, gera descolamento e artificialidade do mercado de capitais. Contudo, ninguém parece ligar para isso.
💥️Anote aí!
Dia importante aqui no Brasil, com a prévia do PIB para novembro, o IBC-Br, sendo divulgado já pela manhã. Diante dos dados acima da expectativa ao longo da semana, não nos surpreenderia em ter um indicador mais forte do que o esperado. Nessa mesma linha, vale acompanhar os dados de vendas no varejo. Por sinal, assim como aqui no Brasil, os EUA também divulgam suas vendas no varejo de dezembro, mas a maior parte desses gastos ocorreu antes de o governo autorizar os US$ 600 para a maioria dos americanos – lembrem-se de que comentávamos lá atrás que, por conta da demora em aprovar o pacote, não havia espaço para haver uma reação dos estímulos de US$ 900 bilhões ainda em 2023. Uma pena. Além disso, depois de inflação ao consumidor acima do esperado na quarta-feira (13), hoje teremos inflação ao produtor. Como acabamos de ter um aviso do Fed sobre os estímulos monetários, provavelmente pouco influenciará os mercados. Entre outros dados, vale acompanhar, ainda nos EUA, produção industrial e o compêndio de informações de Michigan, que guardam atratividade interessante.
💥️Muda o que na minha vida?
As ações bateram recordes mesmo quando uma multidão invadiu o Capitólio dos EUA. Agora, porém, uma vez que Donald Trump se tornou o primeiro presidente americano na história a sofrer dois processos de impeachment, os investidores estão parando para recalibrar. Não pelo fato em si, que parece irrelevante para os mercados, mas para tentar entender o que isso significa no curto prazo — o mercado de ações se preocupa com a direção da economia, lucros, taxas de juros e as ações do Fed.
De qualquer forma, a incerteza sobre o que vem a seguir forçou os investidores a fazer uma pausa. Um temor que já destacamos parcialmente acima é o julgamento do impeachment no Senado, que poderá prejudicar a agenda econômica do presidente eleito Joe Biden no início de seu mandato (o último processo levou pelo menos três semana no Senado).
O atraso é uma má notícia para Wall Street, que vinha apostando na rápida aprovação de outro pacote de estímulos considerável, agora que os democratas têm o controle de ambas as câmaras do Congresso. Com a economia dos EUA sob pressão renovada com o aumento das infecções e mortes por coronavírus, verificações de estímulo, financiamento para governos estaduais e locais e melhorias nos benefícios de desemprego são cada vez mais importantes.
Biden expressou preocupação com a capacidade do Congresso de realizar várias tarefas ao mesmo tempo; aliás, talvez por isso o presidente eleito estivesse reticente em apoiar o impeachment, uma vez que ele pregava recuperação e união (não sabemos onde um processo de impeachment contra uma pessoa que recebeu mais de 70 milhões de votos é união). De todo modo, quanto antes isso for resolvido, melhor. Mais gasto nos EUA em uma economia com estímulos monetários no talo é sinal positivo para países como o Brasil — esse é o emerging party que comentávamos.
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Um abraço,
Jojo Wachsmann
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