Felipe Miranda: Por que você está lendo isso?

“Bons comunicadores podem ser especialmente sedutores, mas seriam eles também bons ganhadores de dinheiro?”, diz o colunista

Já faz bastante tempo. Os millennials talvez nem saibam de quem se trata, a geração Y, então, nem se fala. Mas aconteceu e foi mais ou menos assim:

“Os modelos não mentem. Eu sabia que o câmbio dobraria. Estávamos em um nível insustentável.”

“Meu caro, você falou isso há quatro anos. O CDI rodou na nossa cabeça a 25% ao ano. Nós tomamos uma trolha nesse seu trade que você nem imagina. Não vou nem falar onde você precisaria colocar esse seu modelo.”

O falso e platônico herói modelista era economista de um grande banco lá pelo final dos anos 1980, começo dos 1990. Orgulhava-se de seus diplomas, de suas entrevistas, filosofias e conhecimento de econometria. Ganhar dinheiro mesmo não era muito a dele, mas… quem se importa? 

Reza a lenda que, neste mesmo banco, discutia-se uma transição importante, da primeira para a segunda geração. Numa versão meio caricata, curta e grossa, três banqueiros tinham de fazer uma escolha.

De um lado, um brilhante economista, PhD por Ivy League, com passagem pelo Fed e tudo mais. Do outro, um trader meio chucro, com diploma universitário arrumado na Bahia, de forma até meio heterodoxa (com o devido respeito e a admiração de sempre, claro).

Parecia uma aposta óbvia. Alguém iria se arriscar na nomeação do trader em detrimento ao doutor? 

Bom, sim. Foi o que aconteceu. E a explicação viria a ser algo como: “Olha, economista famoso e respeitado a gente já tem um. Precisa ser só um. É ótimo para dar reputação, entrevista no jornal, foto bonita na revista; pagar de intelectual e propor filosofias e soluções para salvar o Brasil e o mundo. Mas custa caro pra caramba e economista só perde dinheiro no trading. Aqui, a gente ganha dinheiro. O foco precisa ser só esse. O nosso trader é menos vaidoso e ganha mais dinheiro. Vai ser ele”.

Nós não estamos aqui para elegermos os melhores modelos, os melhores críticos de arte, tampouco para apontar pretendentes para casar com a sua filha. O octógono do UFC, o futebol, a esgrima, o mercado financeiro, todos têm as suas próprias regras. No caso, fazer gol é ganhar dinheiro. O resto é… bem… o resto. 

Na nossa versão de Man in the Arena de Roosevelt, o papel do crítico, do filósofo, do vaidoso, do influenciador vale zero.

Quem ganha dinheiro nessa história? Bons comunicadores podem ser especialmente sedutores, mas seriam eles também bons ganhadores de dinheiro? A hostess é elegante, o garçom, educado; o projeto arquitetônico de Arthur Casas; o banheiro é um brinco… mas quem está fritando o bife? 

Vendo os discursos por aí, todos eles nunca foram senão príncipes na vida. A retórica imperial resistiria a uma análise de 💥️evolução de patrimônio consistente de anos sucessivos?

Ao lembrar dessa história, decidi hoje soltar o verbo de maneira mais fluída, apontando coisas até desconexas mas que estão na minha cabeça. Papo de mesa de corretora, linguagem de trader, sem conversinha:

E as ideias acabaram.

O que você está lendo é [Felipe Miranda: Por que você está lendo isso?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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